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Depois
de muita espera, em 1998 foi lançado Celebrity Skin,
o terceiro álbum do Hole, mais de quatro anos depois
do sensacional Live Through This. Muito foi falado sobre
a produção desse álbum, que contou com o apoio de Billy
Corgan (Smashing Pumpkins) na composição de várias músicas. |
Antes
de seu lançamento, Celebrity Skin era aleardeado como uma
verdadeira revolução no som do Hole, e ao ouvir o disco, é
exatamente essa a sensação.
Logo nos primeiros acordes da faixa título já dá para perceber
o quanto Celebrity Skin é revolucionário. Quando chega na
segunda faixa, é hora de conferir no encarte e no CD se realmente
é a mesma banda.
Trata-se de uma superprodução, com todos os requintes, vantagens
e desvantagens de uma superprodução. Por um lado, o som do
Hole nunca esteve tão grandioso, "certinho", "amigável". Mas,
no entanto, tudo parece excessivamente calculado em Celebrity
Skin, o som é limpo por mais que exista distorção nas guitarras,
que soam plásticas, artificiais. A bateria é distante, planejada
para não chamar a atenção, lembrando os discos do Def Leppard.
Até o vocal de Courtney Love está mais contido, e com isso
a banda perdeu muito de sua espontaneidade. Foram-se a agressividade,
a selvageria e a brutalidade dos discos anteriores.
No imaginário de quem ouve Celebrity Skin, a chuvosa Olympia
e a cartilha do punk rock dão lugar a ensolarada California
e o arquétipo do rock star e suas festas badaladas e roupas
caras. Celebrity Skin é a trilha sonora perfeita para os momentos
de conflitos existenciais em seriados cabeça como Barrados
no Baile ou Melrose Place. As letras retomam os temas de uma
"atormentada" porém "madura" Courtney enquanto as melodias
alegrinhas emanam boas vibrações.
Na época do lançamento do disco, Courtney disse em entrevista
que a música permanece a mesma, a fantasia é diferente. Tudo
bem Courntney, mas... Enfim.
Deixando o papo de fã de lado, e ouvindo o álbum individualmente,
sem considerar o que o Hole já foi e, principalmente, ignorando
a existência dos dois álbuns anteriores, "Celebrity Skin"
é um bom disco, não muito menos e nem muito mais que isso.
Na polêmica faixa-título, uma das compostas em parceria com
Bily Corgan (cujo riff foi "emprestado" da música "Gel" do
Collective Soul), o que se ouve é um hard rock vibrante de
refrão fácil e harmonias vocais bem trabalhadas. O disco em
frente segue com a alegre "Awful", que foi mais tarde remixada
por DJ's para as pistas de danças. A batida é bem pop, acompanhada
por palmas e a letra traz mensagens positivas quase ingênuas
(If the world is so wrong / you can break them all / With
one song). Na seqüência, a balada "Hit So Hard" retoma a temática
já explorada no cover de "He Hit Me (And It Felt Like a Kiss)"
que o Hole tinha tocado no Acústico MTV em 1995. "Malibu"
é mais uma bela canção pop, com melodia bem construída, as
harmonias de Courtney e Mellissa auf der Maur e o crescendo
das guitarras.
O peso reaparece em "Reasons to be Beautiful", com um riff
simples e eficiente e levada centrada no andamento das guitarras.
A letra é bem pessoal de Courtney, mas estranhamente escrita
em terceira pessoa (Love hates herself...), no final, Courtney
reconstrói a frase de Neil Young que ficou célebre na carta
de Kurt Cobain, "it's better to rise than fade away". "Dying"
abusa dos efeitos eletrônicos e vocais sussurrados no início,
até desenvolver completamente o instrumental, com a banda
completa e arranjo de cordas. A grandiosa "Use Once and Destroy"
retoma o peso e conta com um refrão muito bem construído,
é um dos pontos altos do disco. Outro bom momento é "Northern
Star", levada somente na voz e violão de Eric Erlandson (e
cordas mais adiante). "Boys on the Radio" é outra canção pop,
com um bom, mas interminável refrão, explorado nos mínimos
detalhes pela produção cuidadosa de Michael Beinhorn. "Heaven
Tonight" é quase tão alegrinha quanto "Awful", e de um pop
tão imediato quanto. Courtney desta vez tropeça na letra ("I
feel the horses coming galloping in the summer rain" é de
última!). Mas ela se recupera na ácida "Playing Your Song",
a música mais agressiva do disco, com outro refrão bem trabalhado,
a progressão das guitarras no refrão é excelente, simples,
direta e eficiente. "Petals", a balada que encerra o disco,
é mais uma que conta com arranjo de cordas, naquele clima
de grandiosidade. É uma boa música, mas não chega a impressionar.
A mudança radical de "Celebrity Skin" não invalida o êxito
de "Live Through This" e "Pretty On The Inside" e de certa
forma, é um documento fiel e honesto do momento do Hole nos
últimos anos de sua trajetória. Fica a lamentar os excessos
da superprodução, já que com o mesmo material o Hole poderia
conseguir um resultado muito melhor.
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