O Hurtmold
nasceu em 1998, em São Paulo, após o fim do
grupo Pudding Lane. Os recém sem-banda Guilherme Granado,
Fernando Cappi e Marcos Gerez começaram então
a tocar com os amigos Maurício Takara e Mário
Cappi, inicialmente por diversão. Pouco tempo depois
a banda já estava estabelecida e possuía duas
fitas cassetes de boa circulação pelos círculos
alternativos tupiniquins: "Everyday Recording" (demo
de 1998) e "3am: A Fonte Secou...", lançada
pela Spicy Gravações Elétricas em 1999.
Em dezembro de 2000, o grupo
lançou pelo selo mineiro Submarine Records o debut
"Et Cetera". Trata-se de um disco com influências
primárias de Sonic Youth e Fugazi, misturadas com referências
ao então recente post-rock, mas sem posicionar a banda
definitivamente em nenhum ramo, nem sequer a língua
na qual seriam cantadas as músicas (Guilherme canta
alternando entre o português e o inglês).
Essas indefinições
começam a ser aniquiladas com o lançamento de
"Cozido", em maio de 2002, novamente pela Submarine
Records. São poucas as canções com vocais
(todas em português), enquanto sobram viagens instrumentais
que tendem mais para a meticulosidade de um Tortoise do que
para a emoção explícita de um Mogwai.
Pode-se dizer que nasceu neste segundo disco a identidade
do Hurtmold, que daqui por diante não lançaria
nada que não fosse resultado de evolução
e esforço em não se adequar unicamente a um
estilo facilmente identificável.
Neste ponto a banda já
possuía uma boa base de fãs (considerando-se
que estamos falando de Brasil) e era reconhecida principalmente
por seus shows, onde a precisão e o talento de seus
membros eram ainda mais evidentes. Ainda em 2002 a banda voltou
ao estúdio paulista El Rocha (onde havia gravado seus
dois registros anteriores) para preparar as músicas
de seu próximo trabalho.

Hurtmold em estúdio
Em julho de 2003 foi lançado
o split com o The Eternals, grupo de Chicago que faz parte
do cast da DeSoto Records. Neste split, onde cada grupo apresenta
cinco músicas, o Hurtmold demonstra mais maturidade
e objetividade. A banda agrega mais instrumentos em sua música
sem soar pedante ou sem direcionamento, gerando um definitivo
patamar de igualdade e importância entre seus membros
e chutando para longe quaisquer resquícios de convencionalidade
que poderiam restar da época de seus cassetes influenciados
por Hüsker Dü, e mesmo de seu primeiro álbum,
de três anos antes. Mas enquanto o Eternals experimenta
sem limites, a maior coesão do Hurtmold resulta em
um ecleticismo consistente e suave, marcado pelo entrosamento
e bom uso da criatividade de seus integrantes, que suscitam
até paralelos com a musicalidade do jazz. Mesmo trazendo
poucas músicas, é o melhor trabalho do Hurtmold
até aqui. Para a divulgação do trabalho,
uma mini-turnê com o Eternals passou por São
Paulo, Campinas e Belo Horizonte.
Ainda em 2003 foi lançado
o primeiro disco solo de Maurício Takara, intitulado
"M. Takara", disponível também pela
Submarine. O álbum possui faixas gravadas pelo baterista
entre 2000 e 2003. Seu parceiro de Hurtmold, Marcos Gerez,
contribui no baixo de duas músicas. Essa é,
por sinal, outra características dos membros do Hurtmold,
a participação em projetos paralelos: Takara
toca também no Instituto, além de colaborar
com artistas de outras praias como Otto e o rapper Xis. Guilherme
toca também no Againe e, junto com Marcos Gerez, no
Van Damien. Mário Cappi participa do Polara.
A banda voltaria alguns
meses após o lançamento de "Hurtmold/The
Eternals" ao estúdio El Rocha para preparar seu
próximo trabalho. Um novo membro foi adicionado à
formação do grupo: o percussionista e clarinetista
Rogério Martins, que veio para aumentar o arsenal de
possibilidades da já rica sonoridade da banda. A expectativa
dos fãs foi enorme. "Mestro" foi lançado
em julho de 2004 pela Submarine, com ares de disco definitivo
do Hurtmold. Crítica e fãs receberam muito bem
o disco, o que torna essa impressão ainda mais forte.
Mas em se tratando de Hurtmold, o futuro é imprevisível.
Fabrício Boppré
out/2004 |