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A Banda:

Iron & Wine

Formação:

Samuel Beam - voz, violão, guitarras acústicas, slide, letras.
Músicos adicionais:
Sarah Beam - Backing Vocals
Patrick McKinney - Slide guitar, banjo, violões
Jonathan Bradley - percussão.

 

Biografia:

Se você aprecia a instituição da canção, essa ferramenta de degelo de corações frios, que move estados de espírito tão díspares quanto alegria inocente e radiante ou tristeza pungente e dolorida, você precisa conhecer o Iron & Wine.

Nem mais nem menos que uma one-man-band folkster fantástica, Iron & Wine é Samuel Beam. E Samuel Beam é um sujeito aparentemente normal, meio gordinho, com uma vasta barba desarrumada e olhar azulado de aspecto eternamente perdido, que nasceu e cresceu na Carolina do Sul, mas é atual residente da Flórida, onde, até bem pouco tempo atrás, ainda ministrava aulas de cinematografia numa faculdade de cinema (óbvio) local. Paralelamente, Beam gravava canções rústicas e de tom levemente agro-pastoril usando um violão, voz e um gravador portátil, dentro de seu próprio quarto, num esquema estritamente lo-fi. Algumas destas canções chegaram aos ouvidos do então magnata da SubPop, Jonathan Poneman, por meio de uma compilação encartada numa certa revista de música de Seattle (o intermédio foi reforçado por Matt Brooke, amigo de Sam Beam, cuja banda Carissa's Weird estava fazendo contatos com o selo). Poneman gostou do que ouviu, contatou Beam, e, depois de algumas rápidas trocas de idéias, recebeu de Beam dois CDs com as supracitadas gravações caseiras, das quais 11 faixas foram selecionadas e originaram o primeiro longplay, "The Creek Drank The Cradle". Imediatamente, comentários elogiosos começaram a pulular aqui e ali e, daí para a consolidação, foi um pulo.

"The Creek" chamava a atenção por seu conteúdo altamente inspirado de música folk cortante, sussurrada e rústica. O aspecto "gravação de baixa fidelidade" casava tão bem com o estilo proposto pelo disco que parecia que Beam tinha descoberto uma nova fórmula, que alguns até arremedaram batizar de lo-folk. A faixa inicial, "Lion's Mane", condicionava todo um novo universo numa canção bucólica de tonalidades rarefeitas. O conjunto de canções em si era tão forte que muitos consideram este o registro definitivo do artista, o que pode até ser contestado, se analisada a qualidade também soberba nos trabalhos posteriores. Mas não havia de ser nada. Até então, Samuel Beam encarava isso com o maior despojamento do mundo. Afinal, tratava-se apenas de um mero hobby.

O interesse em torno de Iron & Wine só fez crescer, com Sam Beam recebendo apupos de fãs e de uma crítica gradativamente mais empolgada conforme o tempo passava, a ponto de motivar a gravação de um novo disco. Desta vez, um extended play, batizado "The Sea and The Rhythm". Pronto. Agora, Iron & Wine tinha meio mundo alternativo a seus pés.


Samuel "Iron & Wine" Bean

O EP, lançado em 2003, seguia o mesmo padrão apresentado em "The Creek", mas, por ser mais enxuto - 6 faixas, menos de 28 minutos - parece ter exercido um poder de atração ainda maior que seu predecessor. A gravação permanecia embebida em rusticidade, e esse mix cru fazia uma cama perfeita para a voz e as letras, ambas cada vez melhores. Para uma amostra, uma rápida ouvida em "Jesus The Mexican Boy" lhe mostrará tudo que você precisa saber sobre o mini-álbum. Como se não bastasse, a faixa título disputava a unhas e dentes o título de canção mais bonita do planeta com todo o disco anterior. Um feito e tanto para um artista modesto, que se preocupava mais em dar suas aulas na faculdade e passar o tempo restante com suas duas filhas.

No ano seguinte, um novo disco e novas perspectivas: viver de música (o que àquela altura parecia bem simples) e dedicar-se com mais afinco à produção de seus álbuns. Beam, então, fez as malas e foi pra Chicago, onde o próximo disco, "Our Endless Numbered Days", seria feito, com gravações já agendadas no Engine Studios, de Brian Deck, uma pequena meca da alternatividade local. Obviamente, o resultado soaria diferente em relação aos trabalhos anteriores. Dito e feito. "Our Endless Numbered Days" chamou a atenção, novamente, de muitas pessoas. Pelos motivos errados, alguns dizem. O caso é que todos os indícios de tosquice das gravações anteriores, que pareciam tão cruciais na estética das canções, haviam sumido. Em contraponto, a simplicidade das estruturas continuava a mesma. Samuel Beam havia entregado aos fãs um disco que soava cristalino, e muita gente reclamou, alegando que uma das maiores qualidades do artista havia se perdido. Mas o fato é que aquele foi outro maravilhoso registro musical de voz e violão, como encontramos poucos por aí. O carro chefe do disco era mesmo a linda "Naked As We Came". Válido também mencionar que, agora, outros músicos tocaram no álbum (Sarah, irmã de Beam, fazendo vocais de apoio, Patrick McKinney tocando slide guitar e banjo, e Jonathan Bradley na percussão), e alguns deles (que, em entrevistas, Beam insiste em dizer que não sabe "quem fez o que no disco, exatamente", que contou com a participação de "bons amigos e músicos impressionantes, que trataram desde gravar ou auxiliar na gravação das canções, até sustentar boas conversas para inspirá-las") dão o suporte necessário às apresentações ao vivo, que, deste ponto em diante, passaram a ser recorrentes, em turnês e mini-turnês, excursionando com outros grupos e artistas igualmente talentosos.

E em se tratando de entrevistas, em uma delas, quando perguntado sobre a possibilidade de "eletrificar" seu som, Sam Beam foi bastante taxativo: "fiz o que pude até agora, com os recursos disponíveis, o que não quer necessariamente dizer que eu tenha a intenção de manter um esquema simplista na minha música. O fato é que, até bem pouco tempo, eu nem tinha uma guitarra elétrica". Com isso, podia-se concluir que uma possível guinada sonora não estaria fora de cogitação. A prova cabal veio no princípio de 2005, com o lançamento de seu novo EP, "Woman King". "Woman King" foi, até o momento, o grande diferencial na carreira de Iron & Wine. O extended apresenta um som "cheio" e rico em instrumentos e arranjos sem precedentes nos lançamentos anteriores. Uma das faixas ("Evening on the Ground (Lilith's Song)") apresenta, até mesmo, guitarras distorcidas marcando a canção, puxada por um "riff" (eis um termo que soa mais adequado ao metal e congêneres, mas que dificilmente seria dispensável no contexto deste fragmento) meio nebuloso e rasgado. E, como de hábito, Beam crava uma canção magnífica que se destaca por sua beleza sublime e cortante: "Jezebel" aderirá ao seu córtex instantaneamente e suscitará perguntas do tipo "como esse cara consegue?".

É bem provável que a aura cool (e, por que não, já cult?) que tem se formado ao redor do nome Iron & Wine seja a grande responsável pela expectativa e impaciência por um novo lançamento do sujeito, que parece gradativamente melhorar ao incorporar novos elementos a uma música que, em essência, já é não menos que fantástica. Quem é fã sabe do que eu estou falando. Talvez sua experiência com cinematografia seja o grande trunfo de Beam para a construção de uma música de beleza ímpar, sustentada por um viés totalmente cinemático. A fusão de sons e palavras da maneira mais mágica que se possa imaginar. Nick Drake e Elliott Smith, tomando juntos uma cerveja num boteco do éden, batem palmas.

No final de 2004, Sam Beam concretiza um plano traçado já fazia algum tempo: entrar no estúdio e gravar algo em parceria com Joey Burns e John Convertino, do Calexico. O resultado, o EP "In The Reins", lançado em setembro do ano seguinte, é também fantástico. O disco traz 7 composições de Beam, com o pessoal do Calexico atuando nos instrumentos e backing vocals.

Renato Mazzini
junho/2005
Atualizado por Fabricio Boppré em abril/2006

Discografia:
Disco Ano
The Creek Drank the Cradle 2002 (SubPop)
Our Endless Numbered Days 2004 (SubPop)
EPs e outros Ano
Call Your Boys & Dearest Forsaken (single) 2002 (SubPop)
The Sea and The Rhythm (EP) 2003 (SubPop)
Passing Afternoon (single) 2004 (SubPop)
Woman King (EP) 2005 (SubPop)
In The Reins (EP) 2005 (Overcoat Recordings)