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John Frusciante

John Frusciante
- Nascido em 05/05/1970 em Nova Iorque, EUA.
- Instrumentos: guitarra, teclados, bateria eletrônica.
- Integrante dos Red Hot Chili Peppers (guitarras) de 1988 a 1991 e 1998 até hoje.
- Fez participações em discos de Fishbone, Tricky, Vincent Gallo entre outros.
- Em carreira solo desde 1994.

Biografia:

John Frusciante pode até hoje representar pouco para muitos fãs da banda Red Hot Chili Peppers, na qual desempenhou um grande papel conduzindo guitarras e escrevendo melodias que levaram-na ao estrelato. Os ouvintes de FM tendem a concentrar a atenção no vocalista Anthony Kiedis e na peripécias do baixista Flea, deixando John e suas guitarras vintage em segundo plano. Mas o rapaz carrega em sua trajetória muitos méritos a se revelar, triunfos num universo de quem mergulhou no temido inferno do estrelato e por muito pouco conseguiu retornar.

Traquinas: no livro escolar
A atividade musical de Frusciante recebeu impulso após o divórcio de seus pais, quando mudou-se para o Arizona e encontrou na liberdade o caminho para viver em função da música. Saiu de casa, mudou-se para Los Angeles e passou a conviver com artistas locais, o que lhe proporcionou contato com músicos como Flea, o baixista de sua futura banda, os citados Chili Peppers.

Foi logo após uma jam entre os dois e o ex-baterista dos Dead Kennedys, D.H. Peligro, que o baixista convidou o garoto-prodígio a integrar o cargo deixado pelo falecido Hillel Slovak. Influenciado principalmente pelo punk de bandas como Black Flag e The Clash e por guitarristas mais expressivos como Jimi Hendrix e Jimmy Page, John trouxe aos Peppers um misto de suas influências devidamente adaptadas para o funk californiano, bastante direcionado pelo estilo deixado por Slovak, de quem sempre declarou ser fã assumido. Sua chegada à banda foi o primeiro passo para que o quarteto começasse a galgar degraus rumo ao mega-estrelato, além de marcar a repentina mudança na história de seus dezoito anos.

Suas primeiras contribuições na banda foram marcadas por uma preocupação em honrar com a guitarra suingada de Slovak, renovada por Frusciante através da notável qualidade técnica que concedia a ele o destaque observado por Flea quando decidiu contratá-lo.


O início: Red Hot Chili Peppers

"Mother's Milk", disco em que estreiou, rompeu as barreiras do underground e transformou os Peppers em candidatos à nova grande banda a habitar o universo mainstream. Faixas como "Higher Ground" e "Knock Me Down" eram a trilha ideal para que os ensolarados californianos exercessem sua postura descolada aos olhos do público. Tanto que quando entraram em estúdio para gravar o sucessor de "Mother's Milk" receberam uma quantia considerável da gravadora Warner para deixá-los confortáveis o suficiente para criar "o" disco. E foi exatamente o que a banda construiu.

"Blood Sugar Sex Magik", de 1991, foi o álbum que jogou a banda nas alturas, local de onde nuca mais saiu. Recheado de funk e estilo, os rapazes conseguiram sintetizar todas as qualidades que tinham como quarteto, entregando um disco com muito feeling e atitude sonora. Frusciante limou alguns focos técnicos de seu estilo e concentrou-se nas guitarras intuitivas, inaugurando uma série de timbres e características que tornariam-se célebres em sua música, ponto fundamental na consagração artística e reconhecida qualidade musical do novo disco. Uma maior abertura sonora fez com que o quarteto parasse na ponta da língua do público, colocando-os em turnês gigantes e em todas as formas de mídia possível. O que deveria tornar-se o maior motivo de comemoração e realização pessoal do músico acabou enveredando para mais um lamentável caso de síndrome negativa do rock n' roll: Frusciante encontrou dificuldades para lidar com as conseqüências do sucesso.

Já eventual usuário de heroína durante a turnê de "Blood Sugar Sex Magik", o guitarrista anunciou sua imutável decisão de abandonar o barco, fazendo um último show no Japão sob apelo da banda. Assim que liberado, John retornou para a California, onde entregou-se à reclusão e ao uso constante de heroína, fato que veio determinar os seis anos seguintes de sua vida. Ele raramente saia de seu domínio, recolhido em sua mansão, chegou a dedicar-se brevemente à pintura e à música de forma pessoal, buscando uma saída para seu vazio existencial.

John quem? a androginia de Niandra LaDes
Seu álbum de estréia em carreira solo, "Niandra LaDes And Usually Just A T-Shirt" saiu pela gravadora de Rick Rubin, American Recordings, em 1994, composto por faixas gravadas em simples gravadores de 4 trilhas nos tempos de "Blood Sugar Sex Magik". O material mostrava um John diferente do até então conhecido, sua música abrangia tortuosos caminhos experimentais, claramente conduzidos pela influência do uso de químicos.

Saía do foco a canção estruturada e tomava espaço a gravação de melodias desconexas, solos invertidos, sujeira e vocais inteligíveis. Um novo artista que não revelava se sua obra provinha de um ímpeto artístico ou se traduzia a real condição de sua personalidade. Música para ele e mais ninguém, que confirmava a dificuldade de encaixar seus âmbitos artísticos no formato convencional exigido pela banda que abandonara. Pouco a pouco, suas breves atividades iam se reduzindo a nada, sendo substituídas pelo vício e conseqüências oriundas dele. John abandonou a música e os pincéis, passando os dias trancado em casa, vivendo as alucinações que a heroína lhe proporcionava.

Sua mansão em Los Angeles era reduto de figuras recrimináveis em meio a uma grande bagunça - as paredes grafitadas mencionavam mensagens do tipo "Meus olhos doem". O local de odor pútrido e ambientação obscura teve de ser abandonado quando o dinheiro não mais existia para cobrir o seu aluguel. John passou a viver em hotéis, sem paradeiro fixo, uma vez que era expulso dos estabelecimentos quando não conseguia cumprir com os compromissos. Quando sua renda estagnou, recebeu a oportunidade de lançar um novo disco solo através do selo independente Birdman, de David Katznelson. Frusciante viu na verdade uma chance de arrecadar mais dinheiro e manter seu vício em heroína.


Jesus me chama: chegando no limite i

"Smile From The Streets You Hold" saiu em 1997, com material oriundo de sessões do disco anterior e outras sobras, uma vez que o artista não vinha produzindo música há algum tempo. O disco carregou consigo uma áurea maldita, ainda mais obscuro e dilacerado que seu antecessor, traduzia como poucos discos a lamentável situação psíquica em que se encontrava seu criador. Contava com uma gravação de John aos dezessete anos e algumas participações obscuras de seu já falecido amigo River Phoenix. Ainda assim, em meio ao turbilhão, o disco conseguia prover momentos iluminados que representam todo o talento e a intuição musical do artista. Lapsos de brilhantismo em meio à uma tempestade negra. A escolha de John deixou sua condição real no limite, sendo que, no auge do declínio, John já não tinha mais dentes, extraídos para evitar uma infecção fatal em seu corpo. Sua falta de higiene e total abandono de seu corpo esquelético retratavam a condição lastimável de usuário de drogas, suas tatuagens foram distorcidas pelos abcessos resultantes do uso inapropriado de agulhas. Seus cabelos já quase não existiam e suas unhas faziam parte do passado. Ele já não consumia mais alimentos, reduzindo sua dieta a substâncias líquidas geralmente utilizadas por doentes e idosos. Os fatos vieram à tona em uma reportagem do jornal L.A. Times em que ele se deixava retratar indiscriminadamente pelo repórter, e justificava sua escolha de vida pela oportunidade que a droga lhe concedia para entrar em contato com "outras dimensões". Declarava-se pronto para a morte, incapaz de reconhecer-se como indivíduo longe da heroína, que, segundo ele, "dava-lhe aquele brilho nos olhos". Foi o passo final para que pessoas de fora fizessem-no mudar de rumo.

Quando o respeitado guitarrista dos Red Hot Chili Peppers Dave Navarro abandonou a banda em 1997, o espaço mais instável do quarteto mais uma vez precisava ser preenchido. Flea, ciente dos esforços concentrados em John para que o mesmo abandonasse seu vício em clínicas de reabilitação, reaproximou-se do ex-guitarrista e sugeriu a possibilidade de seu retorno e conseqüente reunião do que foi a melhor encarnação da banda. Os Chili Peppers vinha de um álbum contestado, "One Hot Minute", buscando uma peça que lhes garantisse estabilidade. John recebeu a proposta como uma nova oportunidade de reencontrar suas aspirações, de recuperar-se como indivíduo e resolver os problemas financeiros criados a partir de seus anos errantes.
i

E em 1998 a Warner Bors. lançou "Californication", o maior sucesso comercial dos Red Hot Chili Peppers. O novo disco popularizou ainda mais o quarteto, graças às melodias acessíveis e abordagem radiofônica de muitas músicas. Com técnica bem mais simplória, as guitarras apostavam firme no lado emocional, fazendo com que a música funcionasse ao mesmo tempo comercialmente e artisticamente.


Back to life: Chili Peppers em 1998

John mostrou-se desde então menos preocupado com conseqüências que a sua reputação poderia sofrer ao fazer parte de uma banda mega-comercial, percebendo que era possível unir os interesses comerciais com a diversão e o prazer de tocar com outros três amigos. E dali para diante, o seu trabalho nos Peppers destacou-se pela abordagem iluminada em canções notoriamente pop, transcorrendo pelo funk e pelas baladas certeiras. Já não importava mais que o mundo apontasse o dedo para ele: John estava renovado.

Reconfortado pela aprovação de seu trabalho em "Californication", sua veia artística paralela foi devidamente nutrida quando a Warner concedeu-lhe a oportunidade de lançar seu terceiro disco solo, chamado "To Record Only Water For Ten Days". Longe da atmosfera sombria e esquizofrênica de seus dois discos anteriores, o novo trabalho revelava uma faceta até então desconhecida do rapaz.

Enfim, paz: To Record Only Water For Ten Days
Ainda adepto do lo-fi (o disco é uma coleção de canções em 8 canais), as músicas trafegavam por um curioso caminho pop, construído com guitarras, teclados e bateria eletrônica. Com sua voz combalida e dicção atrapalhada, ele finalmente cantava letras coerentes que primavam pela excelência melódica, assim como a estrutura de suas músicas.

Todo seu lado brilhante, por vezes comedido nas novas músicas de sua banda, tinha espaço total para ser explorado, aparecendo em uma linguagem acessível para os ouvintes de rock e reconfortante para seus anseios pessoais. Um disco que revela todas suas genialidades musicais em um formato áspero, pela escolha da produção insignificante, ma igualmente belo pela concepção das canções. Em 2002, John autorizou a publicação em seu website de uma série de canções em formato MP3 (ver links), sobras de seu terceiro disco, que em nada perdiam em termos de qualidade se comparadas às oficiais. Um complemento para o disco lançado na Warner, o conjunto de músicas foi convencionado como o quarto disco da sua carreira, nomeado por um fã como "From The Sounds Inside", distribuído gratuitamente.

Após mais um período de sucesso massivo no Red Hot Chili Peppers (o disco "By The Way", de 2001, repetiu o êxito de "Californication" e apresentou novidades de sonoridades nas canções do quarteto), John entrou em estúdio para gravar seu quarto disco, "Shadows Collide With People". Lançado em fevereiro de 2004 o álbum apresentou diferenças significativas na maneira como foi conduzido e no formato que pretendeu assumir. Pela primeira vez, contou com a parceria de outro músico (Josh Klinghoffer) e com participações externas (Flea, Chad Smith, Omar Rodriguez-Lopez). O som rudimentar foi substituído por músicas bem produzidas, exploradas e meticulosamente dimensionadas, sugerindo que a carreira solo poderia tomar rumos mais populares, de maior absorção. Bem recebido pelos fãs, principalmente os de sua banda "oficial", o álbum serviu como um convite para que um público maior descobrisse as melodias irresistíveis de Frusciante.


Dupla dinâmica: John e Josh em "Shadows Collide With People"

Mas essa escapada para um ambiente mais convencional encerrou rapidamente, quando alguns meses depois seu website divulgou um plano audacioso: seriam lançados seis novos títulos em sua discografia, num espaço de seis meses. Dessa vez, a Record Collection, uma subsidiária da Warner Bros., acolheria seus lançamentos. Já em junho, "The Will To Death", o primeiro da série, chegou às lojas do primeiro mundo mostrando que John era um caldeirão de idéias. Ao buscar faixas espontâneas, amigáveis aos erros e calcadas nas produções musicais dos anos setenta, sua nova abordagem ia contra o princípio pomposo do disco anterior. Fã de uma variada linhagem musical, o músico dividiu cada um dos novos lançamentos em diferentes conceitos, quase sempre contando com a participação efetiva de Klinghoffer. O primeiro disco recorria aos anos setenta de forma sombria, com clara influência de artistas como a cantora Nico. Logo em seguida (agosto), lançou "Automatic Writing", um projeto com Joe Lally (Fugazi) e Josh Klinghoffer denominado Ataxia. No álbum, muitos trechos instrumentais apostando nos climas e na experimentação, fruto de sua recente identificação com a música progressiva. "DC EP" deu continuidade, saindo em setembro.

2004: funcionário exemplar do ano.
Com produção do lendário Ian MacKaye, da banda Fugazi, o pequeno EP vinha com uma proposta um pouco mais simples, com a interessante produção terceirizada. Em outubro a quarta etapa chegou aos fãs, revelando-se a mais pesada e roqueira delas. "Inside Of Emptiness" reúne riffs aos cotovelos, com muita aspereza e corrosão.

O quinto disco, "A Sphere In The Heart Of Silence" é de novembro, e mostra toda a influência de artistas eletrônicos como o Kraftwerk, além de um de seus principais interesses: os sintetizadores. O resultado em vezes se aproxima da fase Kid-A do Radiohead. "Curtains" , a cartada final da série deveria ter saído em dezembro, mas só foi chegar aos ouvintes em janeiro de 2005. Visto como um disco acústico, é recheado de violões e, principalmente, vocais em diversas camadas. Conceituá-lo como acústico pode gerar impressões errôneas, por representar muito mais o resultado de um trabalho feito em casa. "Curtains" tem letras bastante melancólicas e, sem surpresas, melodias primorosas, principalmente em termos vocais. A empreitada, desnecessário registrar, foi um deleite para qualquer fã e uma atitude louvável ao desafiar os padrões mercadológicos da indústria fonográfica.

O ano de 2005 não prevê folgas para o músico, que deve finalizar o novo disco dos Red Hot Chili Peppers já nos primeiros meses. Futuras turnês devem comprometer seu calendário, enquanto os fãs de seu trabalho solo, mal-acostumados com o ritmo recente de lançamentos, torcem por uma brecha que resulte em algum disco novo. Há expectativa de um novo disco do projeto Ataxia, gravado nas mesmas sessões do primeiro e de um outro disco solo a ser gravado. Os fãs aguardam, definitivamente sem a desculpa de não ter material suficiente em casa que atenue suas expectativas.

Vicente Moschetti
fevereiro/2004
atualizado em fevereiro/2005

Álbums:
Discos Oficiais Ano
Niandra LaDes And Usually Just A T-Shirt 1994 (American Recordings)
Smile From The Streets You Hold 1997 (Birdman)
To Record Only Water For Ten Days 2001 (Warner Bros.)
From The Sounds Inside 2001 (distribuído gratuitamente via internet)
Shadows Collide With People 2004 (Warner Bros.)
The Will To Death 2004 (Record Collection)
Inside Of Emptiness 2004 (Record Collection)
A Sphere In The Heart Of Silence 2004 (Record Collection)
Curtains 2005 (Record Collection)
Singles, EPs, Trilhas-Sonoras Ano
Estrus 1997 (Birdman)
Going Inside 2001 (Warner Bros.)
The Brown Bunny 2003 (Tulip)
Automatic Writing 2004 (Record Collection)
DC EP 2004 (Record Collection)