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A Banda:

Killing Chainsaw
Formação: 1989, Piracicaba, SP
acabou em 1997

Rodrigo Gozo: vocal e guitarra
Gérson: baixo
Pedrinho: bateria
Rodrigo César: vocal e guitarra

Biografia:

No cenário musical de qualquer local do mundo, uma categorização que geralmente pode ser feita é aquela que divide os grupos/artistas de acordo com sua popularidade, ou o nível de penetração na mídia e no público consumidor que ela possui ou possuiu ao longo de sua carreira. É uma criterização mais simples, menos subjetiva, pois depende basicamente de fatores que não dão (muita) margem para discussão, como dá, por exemplo, a classificação em estilos, o que costuma gerar dezenas de categorias e subcategorias e intermináveis bate-bocas inúteis. Aplicando esta ótica ao cenário rock brasileiro, de um lado teremos nomes famosos como Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Titãs, Barão Vermelho, Raimundos, Sepultura, e por aí vai. Uma palavra gringa bastante utilizada para caracterizar a posição deste grupo é “mainstream”. Por outro lado, teremos Brincando de Deus, Walverdes, Pelvs, Second Come, Stellar e Pin Ups, que geralmente são conhecidos por formar o “underground” (outra palavra gringa) de um cenário, ou ainda, fazer “rock independente” ou “alternativo”. Independente por não contarem com o apoio comercial de grandes empresas do ramo (a famosa política do "Do It Yourself"), e alternativo por representarem uma opção ao rock praticado pelo primeiro grupo, que costuma agregar um universo quantitativamente maior de fãs, mídia, dinheiro, etc. Geralmente ou você está no “mainstream” ou no “underground” (mas e o Los Hermanos?), e os nomes citados acima são alguns dos mais relevantes dentro de cada corrente. O que faz uma determinada banda associar-se com o primeiro ou o segundo grupo é uma questão que não cabe discussão aqui; é claro que a proposta artística de cada um destes grupos geralmente apresenta diferenças perceptíveis que acabam posicionando-os em um lado ou no outro, mas geralmente é um conjunto de fatores circunstaciais que de fato define isto – e por este motivo sempre haverá um pequeno fluxo de migração de nomes de um grupo para outro (tipo o Los Hermanos).

Para os fãs e profissionais das bandas que não freqüentam o Domingão do Faustão e nem as listas de mais vendidos ou executados em rádios, ou seja, o segundo filão comentado no parágrafo acima, um dos nomes mais queridos e influentes da história do rock brasileiro é o Killing Chainsaw. Formado em 1989, o Killing Chainsaw encerrou suas atividades em 1997 e deixou como legado dois discos clássicos, que podem ser visualizados também como os dois filhotes mais ilustres da zoeira na ordem musical que Seattle e suas bandas impuseram ao mundo, justamente no período que delimita a trajetória do Killing Chainsaw.

A banda foi montada em Piracicaba, SP, pelos amigos Rodrigo Gozo (vocal e guitarra), Gérson (baixo), Pedrinho (bateria) e Rodrigo César (vocal e guitarra), sendo que este último hoje lidera o Grenade, outro nome de grande influência no cenário independente atual do rock brasileiro. Mas, enquanto hoje já existe um público mais amplo e com um acesso muito mais fácil ao que é produzido pelas bandas underground, no tempo do Killing Chainsaw a história não era bem assim. “Na época do Killing a gente distribuía fita demo pelo correio, mandava carta, não tinha esse link rápido via internet, e-mail, coisas que ajudaram a formar uma cena com vários focos, em que você encontra as pessoas certas pra trabalhar, marcar show, distribuir o disco. Antigamente as pessoas ficavam meio que ilhadas”, disse Rodrigo César em recente entrevista para o site da Trama. E foi essa dificuldade que abreviou a existência do Killing Chainsaw, mas não antes que a banda tivesse a oportunidade de escrever seu nome na história do rock brazuca.

O primeiro registro do Killing Chainsaw foi um disco auto-intitulado lançado pela Zoyd Music, em 1992, somente em formato vinil. Apesar da precária produção deste álbum de estréia, as boas composições (é desse disco a clássica Fuck You Gently (With a Chainsaw)), a influência de Sonic Youth e os shows barulhentos e alucinantes logo fizeram a fama da banda no circuito alternativo paulista. A explosão do grunge ao redor do mundo e uma natural busca por equivalentes tupiniquins (ainda que a banda cantasse em inglês) também ajudaram o Killing Chainsaw a estabelecer seu nome. “Naquela época nós tivemos uma sorte muito grande que foi o grunge. Quando ele estourou, a gente conseguia capa de Ilustrada (caderno sobre cultura da Folha de São Paulo), mesmo sem disco. A gente conseguia capa de tudo quanto é jornal e revista, mas nunca entrevistaram a gente. Adoravam usar nossa foto como ‘a banda grunge brasileira’. É como se hoje existisse uma banda que fosse comparada ao White Stripes aqui”, relata Rodrigo César em outra entrevista. Hoje em dia, o LP “Killing Chainsaw” é item de colecionador.


Killing Chainsaw na primeira edição do Juntatribo

Entre os diversos shows e festivais nos quais o grupo participou, destaca-se o Juntatribo em Campinas, SP, que rolou em agosto de 1993, um marco para o cenário independente brasileiro. A banda também estaria presente na segunda edição do festival, que aconteceu em setembro do ano seguinte.

Apesar de não ver com bons olhos esta ligação com o grunge, temendo a óbvia impressão de que a banda estivesse apenas aproveitando o momento na carona de Nirvana, Alice in Chains e cia., o Killing Chainsaw lançou um segundo disco com mais similaridades sonoras com as bandas de Seattle. Lançado em 1994 (“recorded during the World Cup USA 94”, de acordo com o encarte), “Slim Fast Formula” é um excelente álbum com fortes influências de Nirvana - a crueza e o peso das guitarras lembrando a fase “Bleach” da banda de Cobain – além do lado menos "mainstream" do grunge, como Tad e Melvins. O diferencial, que atestava o talento dos rapazes, ficava por conta das boas melodias e composições, explícitas em músicas como Evisceration (onde Rodrigo utiliza um efeito de voz muito utilizado por Mark Arm, fazendo a faixa parecer muito com Mudhoney), Baby Eats the Teacher, Passion e Yellow (a última faixa, que na verdade engloba três músicas em pouco mais de 13 minutos). A banda ainda acerta a mão em excelentes versões para Rocket Ride, do Kiss, e The Woke of Jo, do DeFalla. O disco foi lançado no mercado nacional e internacional pela então famosa Roadrunner Records (atual Sum Records), que distribuía também os discos do Sepultura e Ratos de Porão.

A essa altura, já existia uma primeira safra de bandas “indies” brasileiras em ação, desbravando território, com Pin Ups, Second Come e o próprio Killing Chainsaw na dianteira. Mas para o Killing Chainsaw o caminho estava chegando ao fim. Após casar-se e mudar-se para Londrina, PR, Rodrigo César resolveu dar um tempo na banda, devido às novas dificuldades impostas pela distância para com seus companheiros, e as velhas dificuldades de ser um profissional de uma banda de rock alternativo no Brasil, em uma época em que este dava seus primeiros passos. O contrato com a Roadrunner também havia gerado insatisfações na banda, o que fez com que ficasse claro que na verdade tratava-se do fim do grupo. Embora continuasse compondo e pensando no Killing Chainsaw, Rodrigo já maquinava um outro projeto pessoal, que viria a nascer oficialmente em 1998 com o lançamento de algumas de suas gravações caseiras perpetradas após sua mudança para Londrina, sob o título de Grenade. Os outros membros do Killing Chainsaw formaram depois o Plutonika.

Fabrício Boppré
dez/2004

Álbums:
Discos Oficiais Ano
Killing Chainsaw 1992 (Zoyd Music)
Slim Fast Formula 1994 (Roadrunner Records)