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O Green
Day acaba de lançar um disco chamado American
Idiot. Nada contra o Green Day ou sua atitude. Muito
pelo contrário. A banda de Billy Joe sempre fez
um som divertido, ok. Mas ora, hoje em dia onde virou
moda ser contra os Estados Unidos da América,
onde as pessoas encontram desculpas esfarrapadas para
tal, mesmo consumindo o país massivamente; e
onde todos já tiveram sua doutrina anti-USA criada
pelo Rage Against The Machine. |
O que tem de original em ser contra a América?
Depois do 11 de setembro, todo mundo é mesmo... não
é fácil fazer esse tipo de música assim,
do jeito que está?
Agora pense antes de 11 de setembro de 2001.
Quem tinha coragem de atacar os EUA - fora, claro, o Rage
Against The Machine com seu pseudo-socialismo e partindo pelo
lado agressivo? Naquele mesmo ano, mas bem antes do atentado
- em março, para ser preciso, a banda galesa Manic
Street Preachers nos apresentava o tal inimigo. Com o disco
Know Your Enemy, o MSP dava um chute violento na orelha do
conformismo. A atitude de discos como The Holy Bible, Everything
Must Go, apontado como um dos grandes discos da década
de 90, e This Is My Truth Tell Me Yours agora estava ali,
nos nossos ouvidos, bem clara. E o tal inimigo não
era os EUA, ou a América, Bush, Tony Blair... o inimigo
é o tal conformismo. Aquele que nos deixa parados,
de braços cruzados, criticando sem agir.
O caminho da agressividade, em músicas
como "Found That Soul" (que abre o disco), "The
Convalescent", "Dead Martyrs" e "Freedom
of Speech Won't Feed my Children" não é
o grande ponto do disco. Os "Pregadores Maníacos
das Ruas" manifestam sua indignação em
canções mais calmas, mas de força igual:
"Ocean Spray", "So Why So Sad", "Year
of Purification" e as matadoras "His Last Painting"
e "Epicentre".
Na canção "Let Robeson
Sing", o MSP homenageia o cantor lírico americano
Paul Robeson, morto durante a guerra fria por sua postura
comunista. E muitas outras referências podem ser encontradas
ao longo do disco; elas vêm de toda parte. Literária,
artística, cinematográfica, musical... esse
é o grande trunfo do Manic Street Preachers. Eles preferem
atacar seu alvo através de argumentos, e não
fazem isso por caminhos mais óbvios. Buscam por escritores,
por filósofos para tirar seu embasamento, e depois
o descrevem em forma de música. Algumas belíssimas,
como "Royal Correspondand", outras mais furiosas,
como "Intravenous Agnostic".
E assim, misturando agressividade com consciência,
o Manic Street Preachers lançou esse excelente disco,
para se ouvir com um caderno do lado, e anotar cada referência
dada por James Dean Bradfield, Nicky Wire e Sean Moore. E,
claro, prestar atenção em cada detalhe desse
trio afiado. Seja na linha melódica do baixo de Nicky,
nas viradas sensacionais de Sean ou nos vocais limpos de James,
que também demonstra seu talento na guitarra, sem exageros
ou preciosismos - mas com riffs e solos que se encaixam perfeitamente
em sua música.
Os fãs mais puristas, que esperavam
algo na cartilha de Everything Must Go, encontraram aqui um
disco diferente. O Manic Street Preachers não perdeu
peso ou lirismo. Ganhou agressividade na música, para
se juntar as suas letras, já agressivas e indignadas.
No panorama daquele ano de 2001, onde a música pop
vivia aquele hiato de new-metal dominando e o pop britânico
engarrafado, o Manic Street Preachers fez um disco diferente.
Um disco de rock com cérebro e acertou na mosca. Esse
chute ba orelha do conformismo deve ter doído. E muito! |