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Manic Street Preachers foi formado oficialmente por
James Dean Bradfield (vocal e guitarra), Nicky Wire
(baixo), Sean Moore (bateria) e Richey James Edwards
(guitarra base) em Blackwood no País de Gales em 1989. |

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Mas a história da banda começou bem antes,
os quatro eram amigos e costumavam jogar futebol juntos por
varios anos. James chegou a ser um bom jogador, participou
da seleção juvenil do País de Gales e quase fez um teste para
entrar no Arsenal (um dos maiores times da Inglaterra), mas
uma lesão encerrou precocemente suas chances de se tornar
um profissional.
A idéia de formar uma banda surgiu primeiramente em 1986 quando
ocorreram as comemorações dos 10 anos dos Sex Pistols. Mas
levou mais três anos para a idéia ser levada adiante. Nick
e Richey estudaram na mesma universidade e após a formatura,
Nick formou uma banda com James, Sean e um guitarrista conhecido
como Flicker. A banda inicialmente se chamava Betty Blue e
Richey inicialmente não fazia parte do grupo, embora convivesse
com eles e inclusive tendo desenhado a capa do primeiro single
"Suicide Alley", que foi financiado pela própria banda. Pouco
antes do single ser lançado, o grupo alterou o nome para Manic
Street Preachers (James costumava gritar no meio da rua e
certa vez alguém que estava passando por ali falou 'just another
manic street preacher', algo como 'é só mais um maníaco pregador
de rua', daí o nome). A capa do single foi inspirada no primeiro
álbum do Clash, o que só servia para confirmar as influências
e a sonoridade do grupo naquele momento, um misto de punk
e hard rock. "Nós estamos o mais distante possível dos anos
80" disse anos depois Richey James.
Nick Jones (Wire), outro amigo de vários anos, entrou para
a banda no lugar de Flicker na mesma época em que Richey James
se tornou o segundo guitarrista. Estava completa a formação
considerada original da banda, isto em 1989.
O segundo lançamento do grupo foi um EP de quatro músicas,
intitulado "New Art Riot", lançado em 1990 novamente financiado
pelo próprio Manics. O álbum tinha uma evidente infuência
punk e letras de forte conteúdo político e de crítica social.
O EP obteve uma grande repercussão na mídia, embora os comentários
fossem particularmente negativos. Eram incontáveis as comparações
do Manics com o Sham 69, uma outra banda da época.
Mas o Manics já tinha chamado a atenção do público, a banda
tinha a reputação de ser um verdadeiro grupo socialista punk
retrô, usavam e vendiam camisetas com slogans socialistas
de Karl Marx entre outros, usavam maquiagem no palco e tudo
o mais. O visual deles era um espetáculo a parte. Nessa época
eles estabeleceram seus objetivos, nada modestos: lançar um
álbum de estréia duplo que vendesse 16 milhões de cópias e
então acabar com a banda. Assim não haveria chance de "se
vender" com o sucesso. Junto a esse discurso eles também pretendiam
mudar radicalmente a sonoridade do grupo, a ponto de se tornar
irreconhecível e abolir a monarquia no Reino Unido (!?).
A gravadora Heavenly Records assinou a banda e lançou o single
da épica "Motown Junk", um dos clássicos do Manics, e uma
das favoritas ao vivo ainda hoje. Em seguida, um novo single,
"You Love Us", outra grande canção, que foi feita em resposta
à imprensa que se negava a levar a banda a sério. "You Love
Us" atingiu o nº 62 na parada britânica, o que se revelou
uma verdadeira luz no fim do tunel que impulsionou a carreira
da banda.
Depois do sucesso do single, seguiu-se uma turnê por todo
o Reino Unido. A turnê foi repleta de incidentes com bebidas
e confrontos com seguranças. Nessa turnê ocorreu um fato marcante
na carreira da banda e, por si só, mereceria um capítulo a
parte na história do rock. O Manics fez um show em Norwich,
que teve pouca presença de público. Entre os presentes estava
Steve Lamacq, um jornalista da NME, que com certeza não era
fã da banda. Após o show, Richey encontrou-se com Lamacq e
os dois conversaram durante alguns minutos. Lamacq era mais
um daqueles que questionavam a seriedade e a sinceridade do
discurso do Manics e, notadamente não tinha ficado muito impressionado
com o show e tampouco parecia mudar de idéia durante a conversa
com Richey. Foi então que sem aviso algum, Richey pega uma
navalha e corta seu braço formando a expressão "4REAL". Lamacq,
apavorado, chamou uma ambulância, e Richey foi levado ao hospital
onde levou dezessete pontos.

James Dean
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Depois
desse incidente, a Sony/Columbia assinou com a banda
em maio de 1991 e o próximo single do Manics, "Stay
Beautiful", outro clássico, foi lançado um mês depois.
Alcançou o número 40 na parada, mostrando que a popularidade
do grupo estava aumentando. A partir daí, as coisas
melhoraram, um relançamento de "You Love Us" foi o primeiro
single do Manics a entrar no top 20 britânico em janeiro
de 1992, alcançando o número 16. Os dois próximos singles,
"Slash n' Burn" e "Motorcycle Emptiness" também ficaram
no top 20 e a banda conseguiu o seu primeiro single
"top 10" com "Theme from M*A*S*H (Suicide is Painless)"
em setembro daquele ano. |
Antes, em fevereiro de 1992 foi lançado o primeiro disco
do grupo, o prometido álbum duplo "Generation Terrorists"
(a saber, LP duplo, CD simples). A capa do disco foi baseada
numa tatuagem de Richey.
A versão americana do disco foi modificada radicalmente
pela gravadora, de modo a se tornar mais amigável para as
rádios americanas e se enquadrar na grungemania que reinava
na época. Esse fato irritou por completo os integrantes
da banda, que também discoraram da forma em que foi organizada
a turnê pelos Estados Unidos, bem como a duração da própria
turnê. Depois dos shows americanos, o Manics embarcou para
mais uma temporada de shows no Reino Unido e na Irlanda,
também cheia de incidentes, incluindo uma briga de comida
durante um jantar black tie no Irish Music Awards (a premiação
de música irlandesa). Durante o Reading Festival de 1992,
Nick quebrou o braço de um segurança e agrediu várias pessoas
que viajavam com o R.E.M.
E, mesmo com a promessa de que a banda iria se separar após
o primeiro disco, eles seguiram em frente, dizendo "nós
sabíamos da natureza hipócrita dessa declaração no momento
em que a dissemos". De qualquer forma, "Generation Terrorists"
não vendeu as 16 milhões de cópias, vendeu apenas 300.000.
O último single de "Generation Terrorists" foi de "Little
Baby Nothing" que continha um curioso dueto com Traci Lords,
ex-atriz americana de filmes pornô.
Em junho de 1993, apenas cinco meses após o lançamento do
último single, é lançado "From Dispair To Where", rapidamente
seguido pelo segundo disco, "Gold Against The Soul", que
trazia um sonoridade um pouco mais pop e menos crua que
no álbum anterior. Um grande número de shows seguiram em
julho juntamente com mais um single, "La Tristesse Durera
(Scream To A Sigh)". "La Tristesse Durera" acabou não atingindo
o top 20 britânico mas acabou se tornando a música mais
conhecida da banda no Brasil por vários anos, onde o videoclip
da música era exibido nos programas alternativos da MTV
Brasileira. Ainda no final de 1993, o Manics participou
como banda de abertura da turnê do Bon Jovi e lançou mais
um single "Roses in the Hospital".
Em janeiro foi lançado o último single de "Gold Against
the Soul", chamado "Life Becoming a Landslide" enquanto
a banda continuava a fazer shows exaustivamente. Eles atingiram
outro ponto decisivo na carreira aos discutir idéias para
o próximo disco.
Em maio de 1994 o primeiro single do álbum foi lançado,
"Faster". Entretanto, a mídia parecia mais interessada nos
problemas pessoais de Richey. Em agosto daquele ano ele
foi internado numa clínica psiquiátrica com diagnóstico
de "colapso nervoso". Ele ficou internado durante alguns
dias e aproveitou o tempo para contribuir para a arte do
encarte do novo disco.
No dia 30 de agosto, com Richey ainda na clínica, aquele
que foi considerado o melhor álbum do Manics até então foi
lançado, intitulado "The Holy Bible". O novo álbum foi bastante
elogiado pela crítica e continha elementos mais sombrios
e depressivos que nos trabalhos anteriores. Mesmo com a
boa repercussão e com os dois novos singles "Revol" e "She
Is Suffering", as atenções continuavam voltadas para Richey.
Quando Richey deixou a clínica, a banda pôde finalmente
excursionar em turnê para divulgar "The Holy Bible", ao
lado do Suede e Therapy? por toda a Europa, antes de retornar
para o Reino Unido, onde fizeram grandes shows no Astoria
em Londres. Durante a última noite no Astoria, a banda destruiu
£10,000 (aproximadamente US$25.000) em equipamentos. Nicky
declarou após o show: "nós nunca mais seremos tão bons de
novo".
Em janeiro, a banda começou a ensaiar novas músicas. Existiam
negociações para escrever a música título do filme "Judge
Dredd". Também seria lançado o single de "Yes", também tirado
de "The Holy Bible".
No dia 23 de janeiro, Richey foi entrevistado para uma revista
japonesa. Poucos sabiam que seria a sua última entrevista.
Todos estavam prevendo que o Manics finalmente iria fazer
sucesso nos EUA, o pensamento geral era de que o novo estilo
de "The Holy Bible" iria agradar em cheio ao público americano.
James e Richey tinham marcado uma viagem promocional para
os EUA no dia 1º de fevereiro, com Nicky e Sean juntando-se
a eles uma semana depois. No dia 31 de janeiro, James e
Richey voltaram ao hotel Embassy em Londres e combinaram
de se encontrar as 7 horas do dia seguinte. James nunca
mais veria Richey de novo.
A banda no início não deu importância ao sumiço de Richey,
já que ele já tinha desaparecido por alguns dias outras
vezes. James foi aos Estados Unidos sozinho, sem saber o
que tinha acontecido. Mas aos poucos, eles foram ficando
cada vez mais preocupados, já que Richey não retornava e
não se tinham notícias dele. Ele foi declarado desaparecido
e a polícia se envolveu no caso. Os pais de Richey foram
ao seu apartamento no hotel onde encontraram seus cartões
de crédito e passaporte. Mais tarde foram descobertas retiradas
de £200 por dia durante dez dias. Seu carro também foi encontrado
tempos depois sem bateria no interior da Inglaterra, próximo
a onde existe um penhasco, um lugar onde já aconteceram
vários suicídios. No entanto, o corpo de Richey nunca foi
encontrado e o caso até hoje não foi resolvido.
Os três
membros restantes do Manic Street Preachers passaram
por um período doloroso e confuso. Sem saber o que aconteceu
ao amigo e continuamente sendo questionados pela mídia
sobre seu futuro, era preciso que eles tomassem uma
decisão. |

Procura-se
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Eles acabaram decidindo
continuar como um trio, mas apenas se isto fosse permitido
pelos pais de Richey, que apoiaram a decisão.
A banda voltou a ativa somente em dezembro de 1995, abrindo
um show para o Stone Roses em Wembley. Eles iniciaram as gravações
do novo disco, que foi rapidamente gravado. No dia 15 de abril
de 1996, eles lançaram o hit "A Design for Life". O single
entrou direto no segundo lugar da parada britânica, mostrando
que eles estavam ainda mais populares do que antes. "A Design
for Life" até hoje é o single mais vendido da carreira do
Manics.
O álbum "Ëverything Must Go", foi lançado em maio de 1996
e foi aclamado pela crítica e público, alcançando o número
2 da parada. "Everything Must Go" recebeu disco de platina
duplo (2 milhões de cópias vendidas no Reino Unido) e incluiu
mais três grandes hits do top 10 britânico, "Everything Must
Go", "Kevin Carter" e "Australia". O disco foi também o mais
votado em diversas enquetes de melhores do ano em várias revistas
e jornais de música.
O Manics viveu seu maior momento em fevereiro de 1997, quando
recebeu os prêmios de melhor banda e melhor álbum no Brit
Awards. Em maio daquele ano, a banda tocou para 15.000 pessoas
em Manchester, até então seu maior público. Em seguida, o
Manics tocou também no Reading Festival, onde estrearam uma
nova música, "Ready for Drowning".
Depois disso, a banda passou 18 meses fora dos holofotes,
escrevendo e gravando músicas para um novo álbum, que se tornou
o disco mais esperado do ano de 1998 na Inglaterra.
Em agosto de 98, o primeiro single "If You Tolerate This Your
Children Will Be Next" atingiu o número 1 na parada e mostrou
ser o retorno triunfante do Manics. O álbum "This Is My Truth
Tell Me Yours" foi lançado em setembro e também chegou fácil
ao número 1.
Depois de alguns pequenos shows, mais um single, "The Everlasting",
foi lançado no final de novembro, que coincidiu com o início
da maior turnê da carreira da banda. Pela primeira vez, o
grupo tocava em grandes arenas, sempre lotadas e tiveram que
incluir três shows extras em função da grande demanda de ingressos.
Em fevereiro de 1999, o Manic Street Preachers ganhou o prêmio
de melhor banda e melhor álbum no Brit Awards, exatamente
os mesmos dois prêmios recebidos em 1997. Em março saiu mais
um single de sucesso, "You Stole the Sun From My Heart". O
quarto e último single saiu em julho, "Tsunami", no mesmo
mês de um grande show no festival Glastonbury. Em julho também
ocorreu um dos melhores shows da carreira da banda, no festival
T in the Park. A banda estraçalhou seu equipamento pela primeira
vez desde o show do Astoria em 94 e o show teve um setlist
dominado por várias músicas antigas, especialmente do álbum
"The Holy Bible". Muitos pensaram se tratar do show de despedida
do Manics.
Mas não foi, é claro. Após o show a banda anunciou o lançamento
de um novo single, "Masses Against The Classes" em Outubro,
música que não foi incluida em nenhum álbum. A última apresentação
ao vivo do ano foi no vestival V99, onde a "Masses Against
The Classes" foi apresentada ao público ao vivo pela primeira
vez e não decepcionou. A banda incluiu mais material antigo
naquele show, como "Faster", "Of Walking Abortion" e "La Tristesse
Durera".
A banda passou a maior parte de 2000 preparando novas músicas
para o próximo disco, que acabou sendo lançado somente em
2001. "Know Your Enemy" é talvez o disco mais variado do Manics
até agora, englobando vários estilos e resgatando alguns elementos
do início da carreira do grupo, como a temática política.
A música "Baby Elian" trata do episódio do menino cubano que
foi levado aos Estados Unidos contra a vontade do pai. A turnê
de "Know Your Enemy" incluiu uma parada histórica em Cuba,
onde a banda foi recebida calorosamente pelo povo cubano.
O disco repetiu o sucesso dos anteriores, com mais dois singles
de sucesso, "So Why So Sad" e "Find That Soul" e mais uma
vez a banda foi a escolhida em várias premiações de final
de ano no Reino Unido. Pouco se sabe sobre o futuro do Manics,
e qualquer boato não pode ser ignorado para uma banda que
prometia acabar logo após o primeiro disco e com uma carreira
tão atribulada. Mas o que não pode ser negado é que o Manic
Street Preachers se firmou como uma das mais importantes e
respeitadas bandas do Reino Unido dos últimos 10 anos.
A banda ficou inativa durante um bom tempo, durante o qual
surgiram duas coletâneas. A primeira delas, "Forever
Delayed", saiu em 2002 com os maiores sucessos da banda
(uma edição limitada trazia um disco bônus
com remixes). No ano seguinte, surge "Lipstick Traces",
CD duplo com raridades e b-sides. O segundo CD conta com uma
série de covers imperdíveis, de Beatles a Nirvana,
de The Clash a Happy Mondays.
O lançamento das coletâneas contribuíram
para os boatos sobre o fim do Manics, mas em outubro de 2003
a banda viajou para Nova York para as gravações
de um novo álbum com o produtor Tony Visconti. O sucessor
de "Know Your Enemy" saiu no fim de 2004, com o
título de "Lifeblood". Esse disco segue a
mesma linha do anterior, repetindo a boa aceitação
perante ao público e à crítica.
Alexandre Luzardo
atualizado em maio/2005 por Natalia
Vale Asari e Fabricio Boppré |