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Review: On The Beach

avaliação:

Depois da tempestade sempre vem a calmaria – diz aquele ditado popular. Bem, On The Beach não é exatamente o que poderia ser chamado de calmaria, mas, se pensarmos no calvário que Neil Young passou pouco antes do lançamento do disco, até que o termo cai bem.

Tudo começou durante a turnê de Harvest, um sucesso estrondoso – é até hoje o álbum mais vendido de sua carreira. Em meio aos exageros da excursão, o guitarrista do Crazy Horse Danny Whitten morre de overdose de heroína. Seis meses depois, outra bomba: o roadie Bruce Berry morre exatamente da mesma maneira. Completamente devastado, Neil começa a tocar bêbado todas as noites, sendo vaiado e bastante criticado pela imprensa.

O primeiro disco desta fase, que inicia a chamada doom trilogy, é Times Fades Away, ao vivo só com canções inéditas. O sombrio Tonight's The Night, gravado em homenagem aos dois amigos mortos, veio a seguir, registrado ainda em 73, mas foi recusado pela gravadora Reprise e só saiu em junho de 75. Foi nesse meio tempo que o canadense gravou e lançou On The Beach, que permanece como um dos seus principais trabalhos, ainda muito cultuado mesmo trinta anos depois de seu lançamento. Durante as sessões de gravação, Neil contou com a presença do Crazy Horse, de membros da The Band e de seus velhos companheiros David Crosby e Graham Nash.

On The Beach é uma espécie de ressaca depois dos abusos dos anos anteriores. Deixa pra trás o clima sufocante e agressivo de Tonight´s The Night e é mais melancólico e reflexivo do que deprimido. Mais irônico e nostálgico do que raivoso. A faixa de abertura, “Walk On”, é uma resposta a “Sweet Home Alabama”, do Lynyrd Skynyrd e deixa escapar uma indisfarçável saudade dos anos sessenta (“I remember the good old days/stayed up all night gettin' crazed/then the money was not so good/but we still did the best we could”). “See The Sky About To Rain”, que já havia sido gravada pelos Byrds, tem uma delicada levada de órgão e pedal steel. A controversa “Revolution Blues” traz alusões a Charles Manson. A primeira metade de On The Beach termina com a country “For The Turnstiles”.

“Vampire Blues” é venenosa e ecológica (“I´m a vampire baby/suckin´ blood from the earth”), porém carrega também um pouco de esperança, ainda que moderada (“good times are coming/but they sure coming slow”). “On The Beach” e “Motion Pictures” são introspectivas, cada uma à sua maneira. Enquanto a faixa-título reflete um homem amedrontado com o mundo, a segunda é confessional e apaixonada (“I´ll stand before you/and i´ll bring smile to your eyes”), composta para a atriz Carrie Snodgress, namorada de Neil na época. “Ambulance Blues” é a obra-prima do disco. Quase nove angustiantes minutos que transbordam nostalgia (“Back in the old folky days/the air was magic when we played”), farpas aos críticos (“So all you critics sit alone/you're no better than me for what you've shown”) e ao então presidente Richard Nixon (“I never knew a man who could tell so many lies”), além de muita tristeza, claro. Sem refrões, com violão, harmônica, violino, baixo acústico e percussão - perfeita.

O mais curioso é que Neil Young, por diversas razões (uma delas sentimental – o disco o lembrava do fim do relacionamento com Carrie Snodgress), não permitia o relançamento de On The Beach. Por isso o álbum só saiu em CD no ano passado, vinte e nove anos depois do lançamento original. E já que esse texto começa com um ditado popular, vai terminar com outro: antes tarde do que nunca.

Jonas Lopes
Publicado originalmente no Yerblues, março/2003