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"Binaural"
é o sétimo disco do Pearl Jam (sendo seis de estúdio
e um ao vivo), lançado no ano em que o conjunto completa
uma década de estrada. E, assim como nos últimos dois
álbuns, "No Code" e "Yield" (de
1996 e 1998 respectivamente), a banda mais uma vez produz
um trabalho diversificado, que não fica preso à um único
estilo, à uma única sonoridade. |
Na verdade, "Binaural" não está tão eclético como
"No Code", por exemplo, mas mesmo assim percebe-se
claramente que a banda prefere continuar a investir nessa
liberdade de composição e criação (ainda que algumas músicas
nos remeta aos primeiros discos), impedindo que um rótulo
muito específico seja imposto ao quinteto. Ou seja, o Pearl
Jam provou de vez que o fato de ter saído de Seattle, naquele
fértil período que convencionou-se chamar de "grunge",
não significa necessariamente que eles fariam o mesmo som
para sempre, e, assim como grande parte das outras bandas
"grunges", terminariam assim que o estilo perdesse
o grande espaço que teve na mídia na primeira metade da década
de 90 (não por falta de competência destas - muito pelo contrário).
Como foi citado acima, "Binaural" em alguns momentos
nos lembra o ínicio de carreira mais visceral do Pearl Jam,
principalmente a energia punk de "Vitalogy" (1994).
"Gods' Dice" (composta por Jeff Ament), "Grievance"
e "Insignificance", pelas batidas vigorosas do baterista
Matt Cameron e pelos timbres mais pesados das guitarras de
Mike McCready e Stone Gossard, são as principais responsáveis
pela nostalgia que podem sentir os fãs que preferem o Pearl
Jam mais porrada de antigamente. Matt Cameron é, por sinal,
um dos destaques do disco. Matt é o quinto a ocupar as baquetas
da banda, e, aparentemente, deverá seguir como o titular dessa
posição, uma vez que por um bom tempo ele era considerado
apenas como um membro temporário do conjunto. Mas com o fim
definitivo do Soundgarden, e a estabilidade alcançada pelo
grupo atualmente, ele tem tudo para ser o baterista mais longíquo
do Pearl Jam. Em "Binaural", ele prova que essa
escolha é a mais acertada: ele consegue até fazer a música
mais chatinha do disco, "Evacuation", ficar interessante
pela bateria quebrada, e se destaca também nas canções mais
pesadas citadas acima com sua pegada pulsante e precisa.
O disco segue mais homogêneo que seus antecessores, com
as já tradicionais baladas que ficam emocionantes sob os vocais
cheios de feeling de Eddie Vedder, destacando-se as belas
"Light Years" e "Thin Air". Essa última
foi composta por Stone Gossard, que também assina duas outras
músicas, "Rival" e "Of the Girl". Mas
o diferencial de "Binaural" são algumas canções
sombrias e melancólicas, sonoridade até certo ponto inédita
no trabalho do Pearl Jam. "Nothing As It Seems"
(outra música composta por Jeff Ament), "Sleight of Hand"
e "Parting Ways" possuem excelentes trabalhos de
guitarras e produção muito boa que evidencia esse lado mais
escuro e triste de Eddie Vedder e cia. Aliás, "Nothing
As It Seems", que foi a música do primeiro single lançado
no mercado, acaba sendo o destaque do disco, com sua melodia
triste e excepcional trabalho de guitarras, cheia de efeitos
e solos inspirados. "It's nothing as it seems/the little
that he needs/it's home" canta Eddie Vedder no refrão.
Os outros destaques são "Breakerfall" (a música
que abre o disco), um rock'n'roll de primeira, com visível
inspiração de Who, a banda que Eddie Vedder mais gosta; e
"Soon Forget", uma despretenciosa canção levada
a cabo por Eddie Vedder na voz e no ukelele apenas.
No geral, "Binaural" é mais um bom disco do Pearl
Jam, e apesar de alguns momentos mais pesados e agressivos,
deve sepultar de vez a esperança de alguns fãs de ver seu
grupo preferido lançar mais um disco como "Ten"
(o primeiro, de 1991). Mas para aqueles que gostam de boa
música, sem restrições, é mais um presente de Eddie Vedder
e sua trupe, que provam de vez que uma banda evoluir e amadurecer,
refletindo isso diretamente em sua música, não implica necessariamente
em mudança de estilo e atitude, muito pelo contrário: quando
isso acontece naturalmente, a banda tende a crescer e ficar
ainda melhor, em todos os aspectos. |