|
“Lost
Dogs” é a primeira coletânea de lados
B do Pearl Jam. Como tal, não escapa da eterna
sina deste tipo de disco: a impressão de que
falta alguma coisa. Sempre há de se perguntar
quais são os critérios de seleção
quando uma coletânea é lançada,
e com “Lost Dogs” não é diferente,
mesmo que se trate de raridades. |
Porém, estas
30 (31, se contarmos a faixa escondida) negligenciadas músicas
reservam gratas surpresas sobre o Pearl Jam. Em muitos aspectos.
Sim, há ausências notáveis, como "Crazy
Mary", "State of Love and Trust", "Soldier
of Love", entre outras. Entretanto, uma rápida
olhada no livreto que acompanha o CD mostra um dos motivos
pelos quais “Lost Dogs” veio: para quem não
acompanhou a carreira da banda, ou conhece apenas o multiplatinado
“Ten”, muitas vezes dá a entender que o
Pearl Jam é um desses "grupos de um homem só"
- o que felizmente não acontece. Todos os membros da
banda sempre atuaram como compositores, fato desconhecido
até os álbuns mais recentes, como “Binaural”
e “Riot Act” (leia-se "ditadura Eddie Vedder").
Boa parte do CD traz músicas surpreendentes, devido
a uma estrutura pouco convencional. Um bom exemplo é
"Whale Song", escrita e cantada pelo (ex-) baterista
Jack Irons. Falando em baterista, se alguém duvida
que Matt Cameron veio pra ficar, é melhor voltar atrás.
Suas composições estão, em sua maioria,
entre as melhores do disco, mostrando uma inesperada, porém
bem-vinda integração com o Pearl Jam. Especialmente
se levarmos em consideração as constantes mudanças
de baterista que o grupo sofreu.
O primeiro CD traz muitas músicas recentes, algumas
gravadas na época de “Binaural”, como a
excelente "In The Moonlight" e a pesada "Hitchhiker".
Outros destaques são a totalmente rock'n'roll "Down",
de “Riot Act”, "All Night" (essa, a
primeira música) e "Black, Red, Yellow".
Das antigas, desenterram a ótima "Alone",
de “Ten”. A bela "Yellow Ledbetter"
encerra a primeira parte.
O segundo CD vem recheado de canções mais antigas.
Apesar do hit "Last Kiss", a "era Ten"
foi bem lembrada, com "Footsteps", "Dirty Frank"
(com levada funk, influência do Red Hot Chlli Peppers,
com quem a banda excursionou na época) e a inédita
"Brother". Os singles de Natal do Ten Club foram
representados por "Let Me Sleep", "Strangest
Tribe" e "Drifting", que já foi descrita
como "Eddie Vedder com guitarra acústica e flauta
parecendo Neil Young".
O grande mérito de “Lost Dogs”, além
da chance de ter em um só CD músicas consagradas
como “Yellow Ledbetter”, “Footsteps”
e “Last Kiss”, é mostrar um Pearl Jam diferente
dos álbuns de estúdio - uma banda mais simples,
e ainda assim perturbadora (curiosamente, apesar de possuir
até participações da banda em coletâneas
beneficentes e trilhas sonoras de filmes, aqui não
há nenhuma sobra ou lado B de “Vitalogy”).
Assim, com o reconhecido talento desses senhores e a quantidade
de material que não foi lançado, não
chega a ser impossível imaginar um outro “Lost
Dogs”.
|