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O Polyphonic Spree
é um estranho milagre da nossa época.
Em tempos tão mesquinhos, nos quais o ter é
mais importante que o ser, o corpo é mais importante
que a alma e os sonhos são apenas catálogos
de uma loja de departamentos qualquer, é difícil
acreditar que alguém ainda tenha coragem de tentar
alcançar, com a mesma determinação
de Brian Wilson, o som dos anjos. |
E é exatamente isso
que Tim Delaughter parece determinado a descobrir com seu
mais novo projeto: criar uma gigantesca banda – com
direito a cordas, metais, sopros e até mesmo um coral
gospel - para traduzir em música o que as palavras
não podem explicar.
Em “Together We’re
Heavy”, todo o caldeirão sonoro da maior banda
dos últimos tempos – pelo menos em número
de integrantes – está mais centrado e ciente
de seus objetivos, diferentemente da estréia, “The
Beginning Stages Of...”, que, apesar de toda sua beleza
e complexidade, foi gravado às pressas apenas para
divulgar os shows do Polyphonic Spree em seu estágio
inicial. Aqui, alternam-se momentos de pura lisergia e grandes
canções pop, e a banda preenche cada espaço
do disco com melodias sublimes e arranjos que oscilam entre
a delicadeza e o exagero. É impossível dizer
que o trabalho não é pretensioso, mas o resultado
final ultrapassou de longe suas próprias pretensões
– e isso é o que realmente interessa.
A faixa de abertura, “A
Long Day Continues – We Sound Amazed”, já
escancara os objetivos de Tim Delaughter: a introdução
aponta para uma canção pop convencional, com
direito até a guitarras, mas logo em seguida sobram
apenas a voz de Tim, um piano e um quarteto de cordas. A música
segue com diversas mudanças de andamento, alternando
o peso do coral e das guitarras com a sutileza do piano e
da discreta e sutilmente desafinada voz do líder dos
Sprees – que em muitos momentos lembra a de Jason Lytle,
do Grandaddy, e até mesmo a de Chris Martin, do Coldplay.
Mas todas essas mudanças não soam artificiais
e forçadas; a composição da canção
faz com que elas sejam a seqüência natural da parte
anterior. Outra que segue esse mesmo tipo de andamento é
“When The Fool Becomes The King”. Quando a canção
acaba, você não lembra como ela começou,
tamanha a variação de melodias, andamentos e
arranjos que são visitados ao longo de seus dez minutos.
Mas “Together We’re
Heavy” não é formado apenas por canções
longas e difíceis. A inacreditável “Hold
Me Now” poderia estar tocando agora em uma rádio
dirigida por anjos embriagados. A referência básica
é óbvia: Sargent Pepper’s. O arranjo lembra
muito canções como “Fixing A Hole”,
“A Day In Life” ou até mesmo uma “She’s
Leaving Home” festiva. O refrão, cantado em uníssono
pelo coro do Polyphonic Spree, é daqueles que deixam
qualquer pessoa com um sorriso de orelha a orelha. Outra canção
para ser cantada com o coração na boca e um
grande sorriso no rosto é o mantra “Two Thousand
Places”. Alternando momentos solo de Tim Delaughter
no piano e verdadeiras explosões de metais, cordas,
sopros e vozes, aqui Tim resolve mostrar todo o seu arsenal
de instrumentos.
Os momentos alegres, porém,
não são uma unanimidade. “Diamonds (Mild
Devotion For The Majesty)” escancara um outro lado do
Polyphonic Spree, bem mais melancólico, introspectivo,
com um arranjo mais limpo e discreto. Mas essa sutileza não
transforma a canção em algo frio, muito pelo
contrário: conheço poucas canções
mais emocionantes do que essa. Se você está com
o coração mole, ela com certeza te levara às
lágrimas, especialmente no momento mágico em
que entram os grandiosos naipes de metal.
Depois de uma hora de encantamento,
beleza e lisergia, você finalmente volta ao mundo real.
É uma pena; a mágica de “Together We’re
Heavy” não dura para sempre. Mas com certeza,
logo após ouvir o encerramento do disco com a estranha
faixa-título, você sentirá um desejo imenso
de sentir o poder das composições e dos arranjos
do Polyphonic Spree novamente. Esse disco com certeza não
será esquecido no fundo de uma gaveta; sua magia dura
para sempre.
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