O Posies, formado em Seattle em 1987,
esteve na ativa durante toda a década de 90 e escapou ileso
da super-exposição do grunge. Mas por outro lado, jamais atingiu
um grande sucesso comercial e acabou solenemente e injustamente
ignorado. Seus dois líderes, Jon Auer e Ken Stringfellow são
excelentes músicos e compositores e os álbuns da banda, devidamente
aclamados pela crítica e esquecidos pelo público, são itens
indispensáveis para os seguidores do power pop. Explica-se,
o Posies é mais uma das bandas fortemente influenciadas pelo
Big Star, revolucionária e influente banda dos anos 70 conhecida
por melodias simples mas muito bem trabalhadas, de inegável
apelo pop e pegada rock n'roll, o tal power pop. Nos anos
90, surgiu uma verdadeira legião de bandas influenciadas diretamente
pelo som do Big Star, capitaneadas principalmente pelo Teenage
Fanclub, Redd Kross e o Posies.
Jonathan Auer e Kenneth Stringfellow se conheceram nos tempos
de escola primária, na cidade de Bellington (estado de Washington),
e desde então os dois vêm tocando juntos. Ao longo dos anos,
as influências foram se definindo e o estilo de tocar e compor
foi aos poucos sendo refinados. A formação do Posies propriamente
dito só ocorreu quando Jon e Ken gravaram uma fita demo, tocando
todos os instrumentos, no porão da casa dos pais de Jon em
1989. Eles fizeram várias cópias da fita (foi quando batizaram
a "banda" como The Posies) e uma delas chegou até a gravadora
PopLlama. A PopLlama se empolgou tanto com a fita que assinou
com a banda, re-lançando a demo como o primeiro disco da banda,
intitulado "Failure". Logo em seguida, a formação do Posies
ficou completa com a entrada de Rick Roberts no baixo e Mike
Musburger na bateria. Rick tinha a idéia de formar a sua própria
banda com Mike na bateria quando conheceu o pessoal do Posies,
que na época eram dois guitarristas precisando completar a
banda.

A banda nos
primórdios
A repercussão de "Failure" esteve longe de ser um fracasso.
A banda não chegou a fazer uma turnê, mas excursionou algumas
vezes para a California, enquanto o disco repercutia favoravelmente
em fazines e pequenas revistas de música. O disco agradou
bastante na região de Seattle, especialmente no embalo do
single "I may hate you sometimes". As coisas continuavam dando
certo quando surgiu o interesse da gravadora SBK (uma das
grandes, ligadas ao grupo EMI) em assinar o grupo. Quando
uma gravadora se interessa, rapidamente começa um verdadeiro
leilão e em pouco tempo, Warner e PolyGram, entre outras negociavam
com o Posies. O último a chegar, Gery Gersh da Geffen Records,
procurou a banda e disse: "Vocês gostariam de fazer discos
para uma gravadora de verdade?" Eles ficaram impressionados
com a audácia de Gersh (sim, o mesmo que assinou com o Nirvana),
ao mesmo tempo em que ficaram entusiasmados pela Geffen ser
a gravadora do XTC (outra influência do Posies) por muitos
anos, mesmo tendo o XTC uma vendagem bastante baixa. Negócio
fechado e o Posies era da Geffen, que na mesma época abriu
um novo selo, DGC, dedicado a bandas novas. Os primeiros artistas
contratados para o novo selo foram o Sonic Youth, Jon Doe
(da banda X) e o Posies.
Poucos meses depois ficava pronto o álbum "Dear 23", as músicas
estavam todas compostas bem antes da banda assinar com a gravadora.
"Dear 23", lançado em setembro de 1990, expandia consideravelmente
o som da banda, contando com excelentes composições e uma
produção muito bem cuidada. O disco contou com a produção
da própria banda em parceria com John Leckie, que já havia
trabalhado com o Stone Roses. Toda a obsessão e o cuidado
por detalhes e harmonias que não eram possíveis durante as
gravações caseiras do "Failure" davam o tom de "Dear 23" que
foi imediatamente aplaudido pelos críticos. "Golden Blunders"
e "Suddenly Mary" chegaram a tocar em rádio e a banda fez
uma turnê por todo os Estados Unidos, enquanto o disco vendia
razoavelmente bem.

A banda
na capa do The Rocket
Até que, a partir de 1991, a instabilidade se instalou entre
os integrantes do Posies. O baixista Rick Roberts foi o
primeiro a sair. Desde o começo, Rick pretendia ter a sua
própria banda, e a medida que ele tentava se adaptar ao
Posies, surgiam conflitos com os "ditadores" Jon e Ken.
O material que ele compunha não se encaixava na proposta
da banda, ou soava forçado. "Não precisávamos de um terceiro
compositor", confessa Ken. Na emergência, o Posies chamou
o baixista Joe "Bass" Howard, que tocou por alguns meses
durante 1992. Mas na época, Howard tocava na banda Sky Cries
Mary e não tinha a intenção de sair, e mais uma vez o Posies
ficou sem um baixista. Até que encontraram Dave Fox, que
tocava no Flop, também de Seattle. Finalmente a banda estava
pronta para gravar seu segundo disco, que viria a ser "Frosting
on the Beater", que acabou lançado em abril de 1993.
"Frosting on the Beater" foi produzido por Don Fleming,
um expert responsável pela produção de discos como "Sweet
Oblivion" do Screaming Trees e "Bandwagonesque" do Teenage
Fanclub. Mais uma vez, o Posies foi elogiadíssimo pelos
críticos e obteve alguma rotação nas rádios, com os singles,
principalmente com "Dream All Day" e "Solar Sister". No
novo disco, os temas explorados nas músicas ficaram mais
obscuros e o som ficou notadamente mais pesado.
Chegou a se especular que a mudança no som da banda tinha
a intenção de fazer com o Posies se adaptasse a explosão
do "som de Seattle" ao que Ken Stringfellow uma vez respondeu:
"Nós teríamos feito algo muito mais ridículo se nós estivéssemos
tentando fazer 'grunge'. De certa forma, nós não estamos
atentos ao que está acontecendo. Quando eu escuto um disco,
eu não fico pensando se é popular. Eu acho o Red Red Meat
e R.E.M. igualmente populares, embora saiba que o R.E.M.
vende muito mais discos. Eu não sei se reajo ao que é popular". De
qualquer forma, "Frosting on the Beater" não teve o sucesso
esperado, e o fato é que o peso e as distorções não anularam
a principal característica do som do Posies, o gosto e o
cuidado pelas melodias.
Em pouco tempo ocorreram mais mudanças na formação da banda.
O baixista Dave Fox não vinha agradando e foi substituído
por novamente por Joe Bass. E Mike Musburger, depois de
uma discussão feia com Ken, também deixa a banda. A banda
chamou o baterista Brian Young para completar a formação
e trabalhar no próximo disco, mas um evento muito importante
iria acontecer nesse meio tempo.
O Posies
em 1993
Em uma história que já se
tornou célebre, 20 anos depois do fim da banda, o Big Star,
ídolos maiores do Posies, voltaram a ativa. Tudo surgiu
pela iniciativa de dois DJ's de uma rádio do estado de Missouri
(a saber, a rádio KCOU da Universidade de Missouri), que
estavam organizando um pequeno festival. Um dos DJ, Mike
Mulvihil telefonou para Jody Stephens, o baterista original
do Big Star, com a proposta de fazer um show. Jody concordou,
a menos que Alex Chilton (o vocalista e líder da banda)
também topasse (o que ele admitiu mais tarde que duvidava
que acontecesse). Só que, para surpresa de todos, Alex concordou.
O problema é que os demais integrantes do Big Star (originalmente
um quarteto), não estavam disponíveis. Andy Hummel, baixista
original, seguia carreira na área aeronáutica enquanto o
guitarrista Chris Bell falecera há alguns anos.
Com as duas vagas em abertas, começaram as especulações
sobre quem seriam os convidados. O pessoal da rádio queria
chamar nomes conhecidos, Mike Mills do R.E.M. e Paul Westerberg
dos Replacements foram cotados, mas entre indefinições de
agenda e incompatibilidade de datas, surgiu o nome de Ken
Stringfellow. Jody Stephen, o baterista original, já conhecia
o trabalho do Posies, inclusive havia ficado impressionado
com os covers do Big Star gravados pelo Posies, "Feel" e
"I Am the Cosmos". E foi Gery Gersh da Geffen que introduziu
Jody à dupla do Posies. Com um pouco de lobby (Ken só aceitaria
tocar se Jon também participasse), estava definida a formação
da reunião do Big Star, contendo metade do Posies na formação.
O que inicialmente seria apenas um show (Jody e Alex Chilton
haviam concordado inicialmente em tocar em troca apenas
por passagens), começou a tomar proporções maiores. Bud
Scoppa, amigo de Jody e um dos diretores da gravadora Zoo
sugeriu que fosse registrado um álbum daquele show.
E foi então que os lendários Alex Chilton e Jody Stephens
passaram a voar regularmente para Seattle para ensaiar com
Jon e Ken do Posies, que tiveram a chance de trabalhar com
seus ídolos. O show aconteceu e a química da banda foi perfeita,
o álbum, "Columbia: Live at Missouri's University"
foi lançado em seguida. E, desde então, regularmente a banda
tem se reunido para shows esporádicos, já tendo tocado em
grandes festivais na Inglaterra e na Espanha, e feito diversos
shows em cidades americanas e em outros países como Holanda
e Japão. Em entrevistas, Jody e Alex já se referem aos dois
Posies como membros da banda, não há como o Big Star existir
sem a presença dos dois, o que com certeza é motivo de orgulho
para eles.

Jon, tocando no Big Star
Mantendo a presença no Big Star
como um projeto paralelo "de luxo" (não pela grana, diga-se
de passagem), o Posies seguia firme e chegava ao seu quarto
álbum com "Amazing Disgrace", em 1996. Com produção de Nick
Launey, "Amazing Disgrace" tinha guitarras ainda mais estridentes
e marcantes que no álbum anterior. Grandes músicas como
"Song #1", "Grant Hart" e "The Certainty" estão entre as
melhores da banda, embora seja um trabalho difícil bater
o nível alcançado nos dois álbuns anteriores. Aliás, não
é tarefa fácil determinar qual o álbum definitivo da carreira
do Posies, a maioria dos fãs são de opiniões dividas.
A repercussão de "Amazing Disgrace" também seguiu o usual,
um grande incentivo da crítica e baixa vendagem. 1996 não
foi um ano fácil para o rock alternativo, grandes bandas
vinham em queda nas vendagens. Sem esperanças de que o mercado
um dia se abrisse ao Posies, a Geffen acabou dispensando
a banda, logo após o (pouco) trabalho de divulgação de "Amazing
Disgrace".
Circulavam fortes boatos de que o final
do Posies estava próximo em função das tensões entre os
demais integrantes e as crescentes atividades paralelas
de Jon Auer e Ken Stringfellow eram motivos mais do que
determinantes. E o Posies chegou efetivamente a se separar,
mas surpreendeu a todos depois ao anunciar que haviam assinado
com a gravadora Popllama para lançar seu último álbum. Era
uma maneira de por ponto final a história do jeito que começou,
e assim, em 1998 foi lançado "Success", cujo nome é uma
alusão ao primeiro álbum que se chamava "Failure". "Success"
tinha um som bem mais relaxado que os álbuns anteriores
e foi um bom presente aos fãs, uma bonita forma de dizer
adeus.
Só que, mais uma vez surpreendendo a todos, não foi o fim
da história. Em 1999 foi lançado um álbum ao vivo, "Live
Before the Iceberg", gravado num show na Espanha durante
a turnê de "Success". Em 2000, a Geffen lança a coletânea
"Dream All Day: The Best of the Posies" com plena participação
de Jon e Ken na escolha das músicas e nos textos do encarte.
Após o lançamento da coletânea, o Posies se reúne para uma
turnê acústica, apenas com Jon e Ken nos violões. A turnê
faz muito sucesso com vários shows lotados e datas adicionais.
Para documentar o Posies em turnê acústica, é lançado o
disco "In Case You Didn't Feel Like Plugging In". O disco
é fiel ao capturar toda a energia dos shows e contém alguns
momentos "clássicos" de participação do público. Durante
"Solar Sister", uma das mais conhecidas do Posies, dá para
ouvir alguém mais empolgado dizer "Yes,Yes,YES". Em "I may
hate you sometimes", dá para ouvir alguém cantando a letra
errada.
A overdose de lançamentos pós-Posies estava longe de terminar.
Em 2001 surge "At Least, At Last", uma box set com 4 CD's
e inacreditáveis 66 músicas cobrindo toda a carreira da
banda, de 1988 e 1998, recheado de demos, covers e músicas
inéditas, uma preciosidade para os fãs. A banda nunca desmentiu
que havia acabado, embora tenha ficado óbvio que o Posies
continua a existir, ao menos como um projeto paralelo. Jon
e Ken passam a se reunir eventualmente para shows, algumas
vezes somente com violões, outras com músicos convidados
completando a banda. Em 2001, o Posies gravou 4 músicas
inéditas e um cover do Byrds em estúdio para um EP que foi
lançado ainda naquele ano. "Nice Cheekbones and a PhD" foi
o primeiro lançamento de material inédito depois que a banda
"acabou" oficialmente.
Em
2005, a banda resolve ir mais longe e gravar um full length,
para a alegria dos fãs. Ken e Jon recrutam o baixista
Matt Harris (Oranger e Overwhelming Colorfast) e o baterista
Darius Minwalla (que já participara dos projetos
solos de Ken e Jon) e gravam "Every Kind of Light",
lançado em junho deste mesmo ano, pela Rykodisc.
Jon Auer solo:
Jon
Auer tem trabalhado como produtor, músico de estúdio e artista
solo após o final do Posies, além de continuar se apresentando
ao vivo ao lado de Ken no próprio Posies e no Big Star.
No seu currículo de produtor já constam diversas bandas
espanholas, onde ele passou algum tempo trabalhando. Seu
primeiro álbum solo foi um EP, chamado "The Perfect Size",
lançado em 2000 pela Houston Party. Auer também tocou em
duas bandas de Seattle depois do Posies. A primeira foi
a Lucky Me (que havia tocado como show de abertura na turnê
do álbum "Success") e também na banda Jeanjacket Shotgun,
onde tocava ao lado do ex-Posies Joe Bass. Em 2001 foi lançado
seu segundo EP, "6 1/2", bem como o primeiro trabalho do
Jeanjacket Shotgun.
Ken
Stringfellow solo:
Ken
Stringfellow já havia lançado um álbum solo antes mesmo
do fim oficial do Posies, "This Sounds Like Goodbye", em
1997 e é provavelmente um dos músicos mais ocupados de Seattle.
Ainda antes do final do Posies, ele foi convidado a participar
da turnê do álbum "Up" do R.E.M., em 1998 e desde então
tem se tornado um membro não oficial da banda, participando
das gravações de "Reveal" e todos os show e ensaios desde
então. Outro projeto paralelo importante é o Minus 5, capitaneado
por seu colega não oficial do R.E.M Scott McCaughey, além
do próprio Peter Buck. Ao final do Posies, Ken formou o
Saltline, promissora banda power pop de Seattle que acabou
logo após lançar seu primeiro EP. Participou ainda de diversos
outras bandas de Seattle, como Twin Princess, Bootsy Holler,
the Orange Humble Band, Lagwagon e Chariot. "Touched", seu
segundo álbum solo, foi lançado em 2001.
Alexandre Luzardo
Atualizado em fev/2006 por Fabricio
Boppré
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