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Já era tempo. A tradição
dos discos conceituais vinha se perdendo com o passar
dos anos. Nós, os mais jovens, tínhamos de aguentar
os mais velhos nos dizendo: "Hoje em dia a música não
presta, mas no meu tempo era assim assado e tal...".
Pois é, OK Computer quebrou a regra. Um disco de genialidade
única. Nostalgicamente falando, uma versão anos 90 de
Revolver (Beatles) ou Ummagumma (Floyd). Uma mistura
de psicodelismo, melancolia, punk e rock progressivo
com uma dose impressionante de eletrônica. |
"Airbag" narra uma das maiores
angústias de Thom Yorke: os carros. Certa vez, ele disse que
deveríamos agradecer aos céus a cada vez que saímos dos carros
por ainda estarmos vivos. A letra diz "In a fast german car/I'm
amazed that I survived/an airbag saved my life". A melodia
é um rock quase espacial, com a citada eletrônica ao fundo.
A grande "Paranoid Android" mostra porque recebe um culto
tão grande. Genial a cada mudança de andamento. Começa calminha,
com frases como "When I am king/you will be first against
the wall." Fica pesadona, quase punk e logo, ainda mais calminha
e de novo pesada no final.
Puxada por ela vem "Subterranean Homesick Alien", rock eletrônico
de ótimo refrão. "Exit Music (For A Film)" é a mais triste
e maravilhosa do disco. Começa com violãozinho e a voz angustiada
de Yorke. Sente só: "breath/keep breathing/don't lose your
nerve/breath/keep breathing/I can't do this alone". Entram
bateria e o tom de voz aumenta: "Now we are one/in everlasting
peace". "Let Down" é outra balada, com melodia um pouco mais
pra cima mas letra triste. Ah, e que refrão hipnótico: aquele
"let down/and hanging around" não sai da cabeça. Uma música
lindíssima, um dos destaques do disco. Outra balada, "Karma
Police", simples, com piano e violão, fecha a primeira metade
de OK Computer. Começo a imaginar como seria ouvir esse disco
nos velhos vinis, com um intervalo no meio seria ideal para
uma dose de um destilado vagabundo para curtir uma fossa.
A segunda metade de OK Computer começa com "Fitter Happier",
que não é bem uma música, mas um texto narrado com barulhos
angustiantes por trás. "Electioneering" é a mais rock 'n'
roll do disco, com muitas guitarras e teor mais pop. Anti-clímax
para a sombria e bela "Climbing Up The Walls". A melhor ainda
vem: a maravilhosa "No Surprises". Bela e triste, ela é capaz
de emocionar qualquer um: "you look/so tired unhappy/bring
down the government/they don't/they don't speak for us". Aquele
pianinho do começo é lindo e tente não se angustiar com o
clipe da música. O final fica para duas lindas canções, que
parecem interligadas: "Lucky" e "The Tourist". A primeira
com versos do naipe de "kill me Sarah/kill me again/it's gonna
be a glorious day". Ela segue num crescendo até o grande refrão.
A segunda é ainda mais triste, bela composição e mais um grande
refrão.
O legal de OK Computer é definitavamente
a unidade do disco. Um grande álbum para coroar uma grande
década.
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