Na primeira leva, a série de lançamentos inclui
Living Colour, Toad The Wet Sprocket e Soul Asylum. Trata-se
de um projeto que tenta ir um pouco além do mero
caça níqueis em cima de bandas que de outra
forma renderiam à gravadora apenas pela venda dos
discos existentes em catálogo.
No caso do Soul Asylum, trata-se de um
show ocorrido em 1997 em Grand Forks, North Dakota. O
que faz desse show especial é o fato da cidade
ter sido arrasada por uma enchente alguns meses antes
e o local onde a banda se apresentou, a base aérea
local, ter servido de abrigo aos flagelados da enchente.
Para completar, o convite partiu de escolas da cidade
para que o Soul Asylum fosse a banda a animar a festa
dos formandos do high school daquele ano tão difícil.
Uma causa nobre, sem dúvida. No entanto, não
deixa de ser meio constrangedor na medida em que dá
margem a piadas prontas. Quem resistiria imaginar que
os próximos lançamentos do Soul Asylum serão
discos ao vivo gravados em batizados, velórios
e afins?
Mas o Soul Asylum encarou a tarefa da melhor
forma possível, com um show sob medida para a ocasião.
Todos os hits estão presentes logo na primeira
meia-hora da apresentação ("Misery",
"Black Gold", "Somebody To Shove"
e a indefectível "Runaway Train"), além
de vários covers certeiros, como "School's
Out" e "To Sir With Love".
Quanto a performance da banda propriamente
dita, não há nada de excepcional que lembre
o título de 'melhor banda americana ao vivo' atribuído
ao Soul Asylum por diversas publicações
no início dos anos 90. Mas o repertório
baseado na fase mais recente da banda e nos covers também
não permite as grandes explosões energéticas
de idos tempos. E a própria ocasião também
sugere um clima mais sóbrio, então cabe
dizer que a banda tem um desempenho correto e apropriado.
Além disso, a mixagem do disco deixa a desejar
em alguns momentos, como em "See You Later",
uma das melhores músicas do álbum Candy
From a Stranger, que perde a força pelo baixo
volume das guitarras. Estranhamente é o baixo que
surge à frente. O mesmo acontece ao final da vibrante
"Without a Trace", quando se esperaria uma explosão
de peso na guitarra mas a coisa fica um tanto embaçada
com o baterista quebrando tudo sozinho e a guitarra escondida
lá atrás. O disco realmente ganha em empolgação
durante a trinca "Losin' It", "Somebody
to Shove" e "Just Like Anyone", tocadas
em seqüência. "Losin' It" é
a grata surpresa, sendo lançada apenas na trilha
do filme Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão
Passado, e ficou muito bem ao vivo. E então
chega a vez de "Somebody to Shove". E sempre
que essa música é apresentada ao vivo há
um momento de tensão na hora de tocar a introdução.
Fica uma pergunta no ar: 'como será que vai sair?'
Explica-se: trata-se de uma introdução criada
em estúdio durante as gravações do
álbum Grave Dancers Union, dificílima
de reproduzir ao vivo. Nos primeiros shows da turnê
desse álbum, em 1992, a banda nem arriscava a introdução,
e ainda brincava com isso. 'Essa música tem uma
introdução que nosso guitarrista não
consegue tocar', disse uma vez Dave Pirner, antes de "Somebody
To Shove". Hoje em dia eles tocam na boa, nem sempre
fica uma brastemp, mas a música compensa todas
as vezes, é um dos pontos altos da carreira do
Soul Asylum. A vibração da banda no palco
é intensa em "Just Like Anyone", uma
música que deveria ter sido hit e não foi
sabe-lá porque. Durante o jogo de palavras matador
do refrão, a voz de Dave Pirner foge do microfone
várias vezes, claramente num momento onde ele agitava
bastante como é bem de sua característica.
Depois dessa trinca, a banda dá uma desacelerada,
apresentando muitas baladas e covers.
Uma versão certeira de "Runaway
Train" para agradar a torcida, a clássica
"We 3", música mais antiga do repertório
da banda a fazer parte desse show, "The Game",
numa versão melhor do que a de estúdio e
"Black Gold", numa exemplar combinação
de violão e guitarra garantem bons momentos entre
as músicas próprias. Entre os covers, "The
Track of My Tears", sucesso da era Motown dos anos
60 com Smokey Robinson & The Miracles, garante o clima
baile de formatura. A presença de "I Can See
Clearly Now" (aquela mesma que você está
pensando) no setlist, se explica pela enchente, a letra
tem tudo a ver e a banda surpreende numa execução
bem fiel, dentro do possível. As já citadas
"To Sir With Love" e "School's Out"
homenageiam professores e alunos, respectivamente. O Soul
Asylum já havia tocado "To Sir With Love"
em outras oportunidades, mais notadamente no acústico
da MTV, onde a cantora Lulu, da versão original,
divide os vocais com Dave Pirner. Foi uma bela oportunidade
de ter esse registro em disco, já que o acústico
nunca foi lançado. Já a versão do
Soul Asylum para "School's Out" (Alice Cooper),
que abre o show com bastante peso, pode ser encontrada
na trilha do filme The Faculty.
Talvez o mais célebre cover já executado
pelo Soul Asylum também está presente. Trata-se
de "Sexual Healing", de Marvin Gaye, que saiu
na coletânea No Alternative (1993). Nesse
show aparece mais relaxada, sem tanto peso quanto na versão
de estúdio. Outra velha conhecida é "Rhinestone
Cowboy", celebrizada por Glenn Campbell nos anos
70, tocada muitas vezes pelo Soul Asylum e encerra o show
em clima de balada country. Surpreendente mesmo é
a inclusão de "I Know", único
sucesso de Dionne Farris (ex-Arrested Development), que
ganhou uma pulsante versão do Soul Asylum. Se bem
que a banda é conhecida pelos covers inusitados;
circula pela internet uma hilária versão
para "Waterfalls" do TLC (!), entre muitas outras
escolhas bizarras.
Os fãs ainda tem como atrativo a
inédita "Black Star", bela balada que
acabou ficando de fora do álbum Candy From A Stranger.
Como curiosidade, durante o hit "Misery", Dave
Pirner improvisa alterando o verso 'all your suicide kings
and your drama queens' para '...and your PROM queens',
brincando com a ocasião do baile de formatura.
Só que ele esqueceu de avisar Dan Murphy que fez
o backing vocal com a letra original.
Certamente After The Prom
vale a pena para o fã mais dedicado, ainda que
não seja superior a muitos bootlegs da banda que
circulam por aí. E serve também para recolocar
o nome Soul Asylum em circulação, depois
de uma demora interminável para um novo disco de
estúdio, uma espera que completa sete anos em 2005.