Esta é a versão antiga da Dying Days. A nova versão está em http://dyingdays.net. Estamos gradualmente migrando o conteúdo deste site antigo para o novo. Até o término desse trabalho, a versão antiga da Dying Days continuará disponível aqui em http://v1.dyingdays.net.


arquivo
Home | Bandas | Letras | Reviews | MP3 | Fale Conosco
Review: After The Flood:
Live From The Grand Forks Prom June 28, 1997

avaliação:

O álbum After The Flood faz parte da série Live From the Vaults, lançada pela Legacy Recordings, selo da Columbia especializado em relançamentos e artistas de catálogo. A idéia é resgatar bandas de destaque nos anos 90 em performances ao vivo diferenciadas, com venda direta pela internet (www.livefromthevaults.com) a partir de outubro de 2004, chegando as lojas apenas em janeiro.

Na primeira leva, a série de lançamentos inclui Living Colour, Toad The Wet Sprocket e Soul Asylum. Trata-se de um projeto que tenta ir um pouco além do mero caça níqueis em cima de bandas que de outra forma renderiam à gravadora apenas pela venda dos discos existentes em catálogo.

No caso do Soul Asylum, trata-se de um show ocorrido em 1997 em Grand Forks, North Dakota. O que faz desse show especial é o fato da cidade ter sido arrasada por uma enchente alguns meses antes e o local onde a banda se apresentou, a base aérea local, ter servido de abrigo aos flagelados da enchente. Para completar, o convite partiu de escolas da cidade para que o Soul Asylum fosse a banda a animar a festa dos formandos do high school daquele ano tão difícil. Uma causa nobre, sem dúvida. No entanto, não deixa de ser meio constrangedor na medida em que dá margem a piadas prontas. Quem resistiria imaginar que os próximos lançamentos do Soul Asylum serão discos ao vivo gravados em batizados, velórios e afins?

Mas o Soul Asylum encarou a tarefa da melhor forma possível, com um show sob medida para a ocasião. Todos os hits estão presentes logo na primeira meia-hora da apresentação ("Misery", "Black Gold", "Somebody To Shove" e a indefectível "Runaway Train"), além de vários covers certeiros, como "School's Out" e "To Sir With Love".

Quanto a performance da banda propriamente dita, não há nada de excepcional que lembre o título de 'melhor banda americana ao vivo' atribuído ao Soul Asylum por diversas publicações no início dos anos 90. Mas o repertório baseado na fase mais recente da banda e nos covers também não permite as grandes explosões energéticas de idos tempos. E a própria ocasião também sugere um clima mais sóbrio, então cabe dizer que a banda tem um desempenho correto e apropriado. Além disso, a mixagem do disco deixa a desejar em alguns momentos, como em "See You Later", uma das melhores músicas do álbum Candy From a Stranger, que perde a força pelo baixo volume das guitarras. Estranhamente é o baixo que surge à frente. O mesmo acontece ao final da vibrante "Without a Trace", quando se esperaria uma explosão de peso na guitarra mas a coisa fica um tanto embaçada com o baterista quebrando tudo sozinho e a guitarra escondida lá atrás. O disco realmente ganha em empolgação durante a trinca "Losin' It", "Somebody to Shove" e "Just Like Anyone", tocadas em seqüência. "Losin' It" é a grata surpresa, sendo lançada apenas na trilha do filme Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, e ficou muito bem ao vivo. E então chega a vez de "Somebody to Shove". E sempre que essa música é apresentada ao vivo há um momento de tensão na hora de tocar a introdução. Fica uma pergunta no ar: 'como será que vai sair?' Explica-se: trata-se de uma introdução criada em estúdio durante as gravações do álbum Grave Dancers Union, dificílima de reproduzir ao vivo. Nos primeiros shows da turnê desse álbum, em 1992, a banda nem arriscava a introdução, e ainda brincava com isso. 'Essa música tem uma introdução que nosso guitarrista não consegue tocar', disse uma vez Dave Pirner, antes de "Somebody To Shove". Hoje em dia eles tocam na boa, nem sempre fica uma brastemp, mas a música compensa todas as vezes, é um dos pontos altos da carreira do Soul Asylum. A vibração da banda no palco é intensa em "Just Like Anyone", uma música que deveria ter sido hit e não foi sabe-lá porque. Durante o jogo de palavras matador do refrão, a voz de Dave Pirner foge do microfone várias vezes, claramente num momento onde ele agitava bastante como é bem de sua característica. Depois dessa trinca, a banda dá uma desacelerada, apresentando muitas baladas e covers.

Uma versão certeira de "Runaway Train" para agradar a torcida, a clássica "We 3", música mais antiga do repertório da banda a fazer parte desse show, "The Game", numa versão melhor do que a de estúdio e "Black Gold", numa exemplar combinação de violão e guitarra garantem bons momentos entre as músicas próprias. Entre os covers, "The Track of My Tears", sucesso da era Motown dos anos 60 com Smokey Robinson & The Miracles, garante o clima baile de formatura. A presença de "I Can See Clearly Now" (aquela mesma que você está pensando) no setlist, se explica pela enchente, a letra tem tudo a ver e a banda surpreende numa execução bem fiel, dentro do possível. As já citadas "To Sir With Love" e "School's Out" homenageiam professores e alunos, respectivamente. O Soul Asylum já havia tocado "To Sir With Love" em outras oportunidades, mais notadamente no acústico da MTV, onde a cantora Lulu, da versão original, divide os vocais com Dave Pirner. Foi uma bela oportunidade de ter esse registro em disco, já que o acústico nunca foi lançado. Já a versão do Soul Asylum para "School's Out" (Alice Cooper), que abre o show com bastante peso, pode ser encontrada na trilha do filme The Faculty.

Talvez o mais célebre cover já executado pelo Soul Asylum também está presente. Trata-se de "Sexual Healing", de Marvin Gaye, que saiu na coletânea No Alternative (1993). Nesse show aparece mais relaxada, sem tanto peso quanto na versão de estúdio. Outra velha conhecida é "Rhinestone Cowboy", celebrizada por Glenn Campbell nos anos 70, tocada muitas vezes pelo Soul Asylum e encerra o show em clima de balada country. Surpreendente mesmo é a inclusão de "I Know", único sucesso de Dionne Farris (ex-Arrested Development), que ganhou uma pulsante versão do Soul Asylum. Se bem que a banda é conhecida pelos covers inusitados; circula pela internet uma hilária versão para "Waterfalls" do TLC (!), entre muitas outras escolhas bizarras.

Os fãs ainda tem como atrativo a inédita "Black Star", bela balada que acabou ficando de fora do álbum Candy From A Stranger. Como curiosidade, durante o hit "Misery", Dave Pirner improvisa alterando o verso 'all your suicide kings and your drama queens' para '...and your PROM queens', brincando com a ocasião do baile de formatura. Só que ele esqueceu de avisar Dan Murphy que fez o backing vocal com a letra original.

Certamente After The Prom vale a pena para o fã mais dedicado, ainda que não seja superior a muitos bootlegs da banda que circulam por aí. E serve também para recolocar o nome Soul Asylum em circulação, depois de uma demora interminável para um novo disco de estúdio, uma espera que completa sete anos em 2005.

Alexandre Luzardo
fevereiro / 2005