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1967
foi um ano de grandes estréias na história do rock.
Uma foi a do Pink Floyd do grande Syd Barrett, precursor
da psicodelia, com o genial The Piper At The Gates Of
Dawn. Outra foi o do Velvet Underground, banda mãe do
rock alternativo, liderado por Lou Reed e John Cale.
Tão boa quanto essas, foi a estréia da banda The Doors.
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Uns
desconhecidos californianos, que iam do rock ao jazz e até
ao flamenco, liderado por um sex-symbol doidão que cantava
poesia beatnik. O disco, auto-intitulado, foi uma (boa) surpresa
nas paradas. E os Doors se tornaram uma das bandas mais importantes
de todos os tempos.
"Break
On Thourgh" é uma das músicas mais conhecidas da banda. Legítimo
rock n´roll, apesar do sambinha na introdução (o tecladista
Ray Manzarek afirma que a intenção da banda era soar como
João Gilberto). Isso somado ao grande vocal de Jim Morrison
sugerindo algo para se encontrar do outro lado... sinistro.
"Soul Kitchen" já começa com o famoso teclado de Manzarek,
descrito pelos detratores da banda como "órgão de churrascaria".
A música é um ótimo rhythm & blues, pontuado por ótimas intervenções
de guitarras de Robbie Krieger. A balada "The Crystal Ship"
dá um tom maior de melancolia ao disco. Muito bonita, vai
crescendo até um refrão no final. Destaque para o belo piano
no meio da canção. "Twntieth Century Fox" tem um bom riff
e um refrão que não sai da cabeça. Uma música divertida e
ingênua - e isto é um elogio! O primeiro cover do disco é
"Alabama Song (Whisky Bar)", da dupla de alemães Kurt Weill
e Bertolt Brecht, usada originalmente em uma ópera de 1929.
O resultado é, digamos, surpreendente. "Light My Fire" é o
maior clássico da banda. Com aquela introdução que qualquer
um conhece e aquele refrão empolgante e hedonista: "Come on
baby/Light my fire!!!". Sem contar aquela parte do meio da
música, com um longo solo de teclado. "Back Door Man" é um
cover genial da clássica canção blues do grande Willie Dixon.
Jim Morrison se revela um grande bluesman. Uma das melhores
do disco. A feliz "I Looked At You" termina em festa e fanfarra,
e "End Of The Night é bonita e bastante sombria, com letra
reflexiva. Emocionante. "Take It As It Comes" é um rock mais
básico, tanto que foi regravada pelos toscos dos Ramones (no
disco Mondo Bizarro). Anti-clímax para a próxima. "The End"
é tudo. Épica (11 minutos), genial, hipnótica (tente não escutá-la
até o final). Com letra edipiana (com versos chocantes como
"Father/yes/i want to kill you/Mother/i want to fuck you",
com batidas viajantes e andamento psicodélico, que explode
no final. A grande canção do disco.
Com tudo isso, The Doors (o disco) é uma grande oportunidade
de entrar no mundo de Jim Morrison sem recorrer a coletâneas.
The Doors (o grupo) é uma das mais criativas e originais (talvez
só o Cure consiga ter um som tão diferenciado) bandas, uma
excelente maneira de se deliciar com a poesia e a sensibilidade
que só o rock 'n' roll pode oferecer.
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