Os
Doors foram uma banda única, irreverente e ousada, indo contra
os padrões musicais vigentes da época (1965). Misturavam letras
com poesia surreal, temas como morte e misticismo, bateria
e teclados jazzísticos, guitarras flamencas e, é claro,
o mito chamado Jim Morrison. Uma banda que sequer baixista
tinha. Enfim, um clássico do rock'n'roll.
Jim
Morrison e o início
James
Douglas Morrison nasceu em 8 de dezembro de 1943, na Florida.
Desde pequeno, Jim gostava de ler livros como os dos autores
Kafka e Friedrich Nietzsche. Um acontecimento marcou sua infância:
Jim estava viajando com família, quando passou por um carro
acidentado na beira da estrada, vendo o espírito de um velho
índio xamã. Reza a lenda que o índio acompanhou Morrison por
toda a sua vida.
Depois de estudar psicologia na Florida, decidiu tentar a
sorte na faculdade de cinema da UCLA, em Los Angeles, onde
conheceu Ray Manzarek. Manzarek, na época, já era um tecladista
de formação clássica com bastante experiência em bandas de
jazz. Jim descobriu com Ray sua paixão por blues e jazz, e
resolveu mostrar algumas de suas poesias para ele. Bastante
impressionado, Ray decidiu convidar Morrison para uma nova
banda. O nome, escolhido por Jim, veio de um verso do poeta
inglês William Blake: "Quando as portas da concepção forem
abertas, o homem verá as coisas como elas realmente são:
infinitas". A dupla conhece o baterista John Densmore em uma
palestra do guru indiano Maharishi Maheshi Yogi. Densmore
já tocava em outras bandas, mas sentiu na dupla algo diferente,
e resolveu então juntar-se aos Doors.
Fazendo uma combinação de piano , bateria e poesia, conseguem
um contrato com a Columbia, graças à Billy James, que já havia
contratado os Byrds. James, porém, fez uma ressalva: deveriam
contratar um guitarrista. Aí entra em cena Robbie Krieger,
amigo de Densmore nas meditações transcendentais. Robbie havia
sido rejeitado por várias outras bandas por seu estilo de
jazz e flamenco. Mas foi justamente este ecletismo que o fez
entrar nos Doors.
O ano de 65 passou e nada foi gravado. Perdem o contrato com
a Columbia e começam a tocar a torto e a direito pela California.
A transformação nos palcos era evidente: Jim deixava de ser
tímido e frágil para se tornar um performer visceral, sensual
e incendiário, criando a eterna fama de sex-symbol. Logo ele,
que queria ser visto como um artista sério. Arthur Lee, da
banda Love, se apaixonou pelo som dos Doors e os levou para
a gravadora Elektra, que contratou Paul Rotchild para produzi-los.
No final de 66, os Doors iniciam uma série de apresentações
no lendário bar Whisky A Go-Go, provocando um impacto enorme
na grande mídia. Rotchild aproveitou o pique e levou os meninos
para o estúdio, onde registraram as canções do primeiro disco
em seis (!) dias. Mais uma semana para mixagens e escolha
das músicas e o LP "The Doors" estava prontinho.
O
sucesso aparece
Em
janeiro de 67 sai "The Doors" acompanhado do single "Break
On Through". O single vinha com um vídeo promocional, uma
espécie de ancestral do vídeo clipe. "Light My Fire" foi o
segundo single e estourou, permanecendo durante 17 semanas
na parada. O primeiro disco é um clássico, umas das 10 estréias
mais importantes da história do rock'n'roll. Segundo Manzarek,
"Break On Though" era uma "espécie de bossa nova". Seja o
que for, é uma grande canção, que mostra o vigor vocal de
Morrison. O disco ainda trazia clássicos como a balada "The
Crystal Ship", "Soul Kitchen", a poderosa "Light My Fire"
com seu teclado mágico, além de covers de "Alabama Song" de
Kurt Weill e Brecht e o super blues "Back Door Man", de Willie
Dixon. O clássico expressionista "The End" fecha o disco com
esplendor. É talvez, a melhor letra da história do Rock, com
versos intrigantes como "father/yes son?/I want to kill you/Mother/I
want to fuck you". Tudo isso em um arranjo épico, onze
minutos de desespero e poesia.
Os
Doors entram no estúdio para gravar seu segundo disco, agora
com tempo, paciência e dinheiro. Como andavam prolíficos,
não paravam de compor coisas novas, fazendo com que o segundo
disco saísse ainda em 67. "Strange Days" trazia uma bela
capa e um conteúdo musical ainda melhor. Assim como o primeiro
disco, é básico em qualquer discografia. O disco foi levado
às paradas pelo single da ótima "People Are Strange". "Strange
Days" ainda tinha como destaque a faixa-título, "Love Me
Two Time", e a clássica "When The Music's Over", outro
épico, agora de 12 minutos de puro blues rasgado e hipnótico.
Com o sucesso, Morrison adotou o traje de couro característico
e assumiu a identidade de Lizard King ("Rei Lagarto"). Morrison
também começava a ser tratado com um super ídolo, um sex-symbol
ideal para as capas de revistas pop. As platéais iam se
expandindo e os Doors começaram a tocar em grandes estádio,
sempre com platéias lotadas.
Incidentes
A
9 de dezembro de 1967, aconteceu um grave incidente em um
show da banda: em New Haven, Connecticut, Jim se irrita
com um policial que o havia empurrado, fazendo um violento
discurso contra o sistema policial. A polícia se aproximou
do palco e o cantor não parou com o discurso. Até que
um oficial subiu no palco e foi atingido no rosto pelo microfone
do vocalista. Obviamente, os outros policiais subiram e
o prenderam.
Começava a ficar evidente que Jim Morrison era um artista
fora do comum, contra o autoritarismo e as disciplinas da
vida conservadora. Bebia em doses cavalares desde os primeiros
ensaios dos Doors e dizia que o álcool era um "hábito integrado
à cultura americana".
Em 1968, sai o terceiro disco, o bom "Waiting For The Sun".
Junto com o disco saiu o single "The Unknown Soldier". A
banda faz um filme promocional para o single, onde Morrison
é fuzilado e deixado morto coberto de sangue. A Elektra,
assustada com o vídeo, veta o lançamento. "Hello I Love
You" foi o segundo single de "Waiting For The Sun". Era
uma música linda e extremamente pop, mostrando um novo caminho
para a banda. Outro destaque foi mais uma poesia épica,
"Celebration Of Lizard".
Morrison começou a se revoltar e a ficar indignado com a
idolatria do público e a megalomania dos shows. Em dezembro
de 68, desiludido com a platéia que pedia "Light My Fire",
Jim foi até o microfone e, quando todos se silenciaram,
recitou "Celebration Of Lizard", agradeceu e se retirou.
Apanhado se surpresa, o público deixou que ele se fosse,
sem vaiar ou aplaudir.
O
Show de Miami
Em
julho de 69 sai mais um disco, "The Soft Parade", que não
era tão inspirado como os anteriores. Possui arranjos inusitados,
como cordas e metais. O principal destaque era "Touch Me",
que mostrava o lado crooner de Morrison. Pouco antes do
lançamento de "Soft Parade", havia ocorrido um célebre incidente
em Miami.
Todos os shows dos Doors eram polêmicos e acidentados, mas
este ficou marcado pela acusação de atentado ao pudor contra
Morrison. Não se sabe exatamente o que aconteceu. Das milhares
de fotos existentes daquele show, nenhuma mostra Jim se
desnudando ou fazendo gestos obcenos, conforme a polícia
havia acusado, mas as conseqüências foram grandes: todos
os shows agendados foram cancelados, e os moralistas e conservadores
os criticavam. No inferno astral que envolveu os Doors em
69, houve uma coisa positiva: a edição de dois discos de
poesia de Morrison, "The Lords" e "The New Criatures". Ainda
no final deste ano, Jim foi preso por bebedeira e desordem,
provocando um tumulto em um vôo para Phoenix, onde pretendia
assisir um show dos Rolling Stones.
Em
70, depois de muita pressão da gravadora, lançam o sensacional
"Absolutely Live", gravado no Madison Square Garden, em
Nova York, além de um novo disco de estúdio, "Morrison
Hotel". O disco, que era o mais cru desde o primeiro, era
mais um clássico, apagando a má impressão deixado pelo "Soft
Parade". "Morrison Hotel", além do rock básico do grupo,
trazia pitadas ainda maiores de blues, impressos claramente
na clássica e maravilhosa "Roadhouse Blues". Outros destaques
do disco eram "Queen Of The Highway" e a bela balada "Indian
Summer". Os Doors estavam de novo de bem com o público e
com a crítica. A banda fez grande turnê pela Europa, tocando
no famoso festival de Wight.
Nessa
época, Jim começou a afirmar que ia sair do mundo
da música, para se dedicar inteiramente à literatura
e cinema, suas grandes paixões. Bebia ainda mais.
Deixou a barba crescer e a barriga se tornar saliente,
associando-se aos poetas beat da época. Não gostava
da fama de Sex-Symbol. Os Doors, no entanto, decidem
gravar um último álbum. Um álbum de blues.
"LA Woman", lançado em 71, não era somente de blues,
mas uma continuação ainda melhor do excelente "Morrison
Hotel". Continha mais alguns clássicos, como a faixa-título
e a linda "Riders On The Storm". O último show da
banda ocorre em 12 de dezembro de 70, em New Orleans.
Jim anuncia sua saída do mundo da música.
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Jim Morrison: um dos personagens mais polêmicos
e geniais da história da música
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A
Morte
Em
março de 71, enquanto "LA Woman" havia sido lançado
e recebia ótimas críticas, Jim se muda para Paris com sua
namorada de longa data, Pamela, para se dedicar ao cinema.
Em 3 de julho, o cantor é encontrado morto pela namorada na
banheira de um hotel de Paris, vítima de um ataque cardíaco
fulminante. A morte não foi divulgada imediatamente, e sim
só no dia 9 de julho, para evitar uma cerimônia circense no
sepultamento, como havia ocorrido com Janis Joplin e Jimi
Hendrix.
Cada vez mais são levantadas suspeitas sobre se Jim Morrison
realmente faleceu. Não se sabe, por exemplo, por que as autoridades
americanas e francesas não tinham registro de sua presença
na França naquele momento. Se eles tinham uma casa alugada,
por que estavam num hotel? Por que Pamela nunca falou no assunto?
Por que não foi feita autópsia, usual em casos como esse na
França? Por que os integrantes da banda não puderam ver o
corpo (John inclusive afirmou que o caixão era pequeno demais
para o corpo de Jim)? Outro fato interessante: em julho de
2001, completa-se 30 anos da estadia de Jim num cemitério
de Paris, que abriga gente importante como Oscar Wilde. Pela
bagunça deixada lá pelos fã, o cemitério não quer renovar
o contrato de estadia, obrigando a retirada do corpo para
outro lugar. O próprio Ray Manzarek garante presença para
confirmar que Jim está realmente lá.
O
que veio depois?
Depois
da morte de Jim, os Doors gravaram mais dois discos de estúdio,
os anêmicos "Others Voices" e "Full Circle". Em 78, saiu um
póstumo bastante relevante, "An American Prayer", que constava
de poemas recitados por Jim Morrison e musicados pelo resto
dos Doors. Jim gravou a voz nesses poemas no dia de seu aniversário
de 27 anos, pouco antes de morrer. Em 83, foi lançado mais
um ao vivo, "Alive She Cried", que não tinha a mesma força
de "Absolutely Live". Em 1991, foi lançado o filme "The Doors",
com direção de Oliver Stone, com Val Kilmer vivendo o lendário
vocalista. O filme, muito bom por sinal, mostrou os Doors
às novas gerações, aumentando ainda mais o culto. Outros concorrentes
para o papel principal foram o falecido Michael Hutchence,
na época a frente do INXS, e Bono, do U2. Outros projetos:
em 1997 saiu uma caixa com músicas ao vivo, raridades e música
inéditas. Em 2000, saiu o ótimo tributo "Stoned Imaculated",
com a participação de Days Of The New, Stone Temple Pilots
e Aerosmith, entre outros. A magia permanece eterna.
Jonas Lopes |