O The White Stripes é uma dentre as
diversas bandas de rock contemporâneas a receber simultaneamente
elogios efusivos e críticas mordazes. No cenário
atual, poucas bandas conseguem escapar da super ou da sub-estimação
do público e da crítica, geralmente devido
aos elementos reciclados utilizados em seu som (geralmente,
facilmente identificados e repudiados pelos fãs mais
veteranos de rock 'n' roll, ou então descobertos
com entusiasmo pelas novas gerações) ou em
função de outras opções extra-musicais
utilizadas pelos músicos, sejam parte de uma estratégia
de marketing ou não. O The White Stripes está
bem inserido neste contexto - provavelmente, ao lado do
Strokes, é o nome mais lembrando, seja para falar
bem ou para falar mal. Seu som remete ao blues eletrificado
e pesado que teria sido o embrião do rock 'n' roll,
e também ao country de raiz americano, sem as maquiagens
que fizeram surgir o rótulo alternative-country.
A banda se orgulha de gravar e produzir suas músicas
da maneira mais minimalista e tradicional possível:
"No computers were used during the writing, recording,
mixing or mastering of this record", está escrito
no encarte de "Elephant", seu quarto álbum.
E a banda chama a atenção ainda por sua estética
incomum: utilizam predominantemente vermelho e branco, tanto
na arte de seus discos quanto em seu vestiário. Isso
tudo contribui para que as pessoas tenham dificuldade de
ter uma opinião muito séria sobre a dupla,
cujos méritos musicais são difíceis
de negar. Caso contrário não estariam aqui
na Dying Days.
A história da banda teve início
no estado americano de Michigan, mais precisamente em Detroit,
cidade natal de John Anthony Gillis e Megan Martha White.
A banda criou os personagens Jack White e Meg White, membros
únicos do The White Stripes, vocalista/guitarrista
e baterista respectivamente. Nada mais. Fora isso, pouco
se sabe. Enquanto alguns garantem que se tratam de dois
irmãos, Jack White nega e já teria inclusive
admitido que ele e Meg já teriam sido casados, sendo
que o casamento não deu certo, mas a identificação
musical entre eles fez com que sua ligação
permanecesse. O passado musical de Jack inclui a participação
em uma banda chamada Go, sendo que o White Stripes nasceu
em 1997. Neste mesmo ano, eles lançaram um EP chamado
"Let's Shake Hands", através da Italy Records.
No ano seguinte, mais um lançamento pela Italy, o
single "Lafayette Blues", antes da banda se mudar
para a Sympathy For The Record Industry. Pelo novo selo,
debutaram com o single "The Big Three Killed My Baby"
(todos estes trabalhos lançados no formato de vinil
7'') e o primeiro LP em 1999, auto-intitulado. Incluindo
covers de Joe Primrose, Robert Johnson e Bob Dylan - que
dão uma idéia da fonte de onde o White Stripes
bebia - trata-se de um belo disco de estréia. Em
turnês ao lado de nomes como Pavement e Sleater-Kinney,
a banda começou a construir sua reputação.
Em 2000, dois singles precederam o lançamento
do segundo full length: "Hello Operator" e "Lord,
Send Me An Angel". O novo disco, "De Stijl",
foi lançado em junho de 2000, trazendo mais um conjunto
de canções simples, em bom e alto volume,
e cheias de referências à música popular
americana, incluindo aí um cover para Your Southern
Can Is Mine, de Blind Willie McTell. O título do
álbum ("O Estilo", em holândes),
é uma referência ao movimento artístico
liderado pelo arquiteto Gerrit Rietveld. E foi com esse
disco que a banda ganhou a Europa, que passou a cultuá-los.
John Peel chegou a colocá-los no mesmo patamar de
importância de Jimi Hendrix e Sex Pistols, obviamente
exagerando um pouquinho, pelo menos no que diz respeito
ao primeiro nome. Jack e Meg passaram também por
Japão e Austrália. Ainda em 2000, participaram
do tradicional Singles Club da Sub Pop e lançaram
um split com o The Dirtbombs.

A dupla em ação
Em 2001 a banda aproveitou seu bom momento
para fazer muitos shows e, nos intervalos, lançar
EPs, sempre fiéis ao vinil. Jack White arranjou ainda
tempo para se manter em contato com a cena de Detroit, onde
produziu algumas bandas iniciantes. No shows, seu estilo
fluente entre o blues, o country e o punk, e sua habilidade
na guitarra, fazem com que a falta de outro guitarrista
e de baixista nem sejam notadas pelo público. Meg
White tem seu estilo, mas destaca-se principalmente ao ser
uma coadjuvante perfeita para Jack, com sua meiguice constrastando
com a selvageria de seu parceiro. "White Blood Cells",
o terceiro LP, foi lançado nesse ano, catapultando
a banda definitivamente ao estrelato, com o apoio quase
incondicional da mídia (outro fator bastante relevante
na argumentação dos detratores da dupla).
No ano seguinte a banda continuou fazendo shows e lançando
singles na esteira de seu último disco (os singles
"Fell In Love With A Girl" e "Dead Leaves
And The Dirty Ground" ganharam clipes dirigidos por
Michel Gondry e tiveram alta rotação na MTV).
Em 2003, a banda preparou o lançamento
de um novo álbum, o primeiro a ser lançado
pela V2/BMG (que contratou a banda em janeiro de 2002, e
relançou seus três primeiros discos em junho
desse ano). As sessões de gravação
do disco aconteceram no Toe Rag Studios, em Londres, com
a banda utilizando somente equipamentos analógicos
de 8 canais, durante meras 2 semanas. O disco foi extremamente
aguardado. Inclusive, suas músicas vazaram e caíram
na internet antes do lançamento oficial, o que deixou
Jack White extremamente irritado. "Elephant" acabou
tendo seu lançamento antecipado para abril em função
disso. O quarto LP do White Stripes foi bem recebido, talvez
não com o mesmo entusiasmo de seu antecessor, mas
mantém tranquilamente o alto nível da discografia
do Stripes. Um cover de Burt Bacharach, I Just Don't Know
What To Do With Myself, ganha clipe dirigido por Sofia Coppola,
e na música que fecha o disco, It's True That We
Love One Another, Meg e Jack cantam com o reforço
da cantora Miss Holly Golightly, pouco conhecida entre o
público, mas bastante admirada por gente como Mark
Arm, para citar só um exemplo. 2003 marcou também
o início da incursão de Jack White no cinema,
participando dos filmes "Cold Mountain" de Anthony
Minghella (contracendo com Renée Zellweger, com quem
ele namoraria durante algum tempo) e de "Coffee &
Cigarettes" de Jim Jarmusch, ao lado de Meg White.
Em julho, um acidente de carro tirou Jack dos palcos por
cerca de 2 meses. Em outubro, com Jack já recuperado,
a banda veio ao Brasil pelo primeira vez, para participar
do Tim Festival.
Em 2004, a banda passa boa parte do tempo
fazendo shows (um deles, na Inglaterra, inclusive vira um
DVD lançado no fim do ano: "Under Blackpool
Lights") e depois entra em estúdio para gravar
seu quinto LP.
No ano seguinte é lançado o
sucessor de "Elephant", chamado "Get Behind
Me Satan". O disco surpreende muita gente pela variedade
de instrumentos utilizados pela banda, com a guitarra de
Jack White bem menos presente. Na semana do lançamento
do disco (a primeira do mês de junho), a dupla vem
ao Brasil novamente, tocando em Manaus, Rio de Janeiro e
São Paulo. Na passagem por Manaus, Jack White aproveitou
para casar-se com a modelo Kate Elson.
Fabricio Boppré
setembro/2005