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O EP "Relative Ways"
foi concebido pelo Trail of Dead como uma prévia do
terceiro disco que a banda estava preparando. Foi lançado
no começo de novembro de 2001, e cumpre soberbamente
essa missão. Ou seja, se considerarmos que o disco "Source
Tags & Codes", lançado quatro meses depois, dificilmente
terá o posto de melhor disco da década roubado nos próximos
7 anos, então é possível começar a assimilar o quão
bom é este EP. |
Mas apenas "começar a assimilar",
pois uma idéia completa você só pode ter ouvindo as quatro
faixas que nele estão. Em três delas, a banda apresenta com
maestria e maturidade aquilo que a tornou cult no circuito
alternativo americano antes mesmo do lançamento de seu primeiro
disco: peso desconcertante e compacto, construído de uma forma
coesa, melodiosa, única e brilhante. Não é limpo e nem sujo;
não soa calculado, mas soa perfeito. A banda impõe ao epíteto
do rock alternativo a sua vertente mais pesada e densa já
ouvida. Qualquer rótulo que a imprensa insista em inventar
para o som do Trail of Dead soa leviano quando somos postos
diante da sonância visceral dos caras.
A abertura do disco é emblemática:
a faixa que empresta o nome ao EP é uma das mais descoladas
da banda, e pode até causar uma falsa impressão aos mais desavisados.
Será que o Trail amenizou seu som por ter assinado com um
grande selo (esse é o primeiro trabalho da banda para a Interscope
Records)? Não que essa primeira música não tenha a assinatura
da banda, muito pelo contrário... logo nota-se que a cozinha
formada por Conrad Keely, Neil Busch e Kevin Allen mostra
entrosamento ainda maior, as guitarras estão ainda mais afinadas
e Jason Reece (que também toca guitarra) está com o
vocal a anos-luz melhor do que nas primeiras gravações da
banda, mas também nota-se que não há aqui a densidade e a
fúria que caracterizou esses trabalhos anteriores. Mas a verdade
é que a banda está em seu melhor momento, um auge criativo
que lhes permite sair um pouco da linha e criar também canções
como esta (já haviam feito isso antes, mas sem o brilhantismo
e a segurança de Relative Ways), sem decepcionar aqueles que
sabem o que esperar da banda. Que é exatamente o que ela apresenta
a seguir.
Homage, a segunda faixa, é
genial no peso, na sua introdução direta, na intensidade que
emerge da atmosfera criada pela cozinha absurdamente enfurecida.
É genial também no andamento, no barulho descontrolado criado
pelas guitarras, nas paradas para retomar o fôlego e logo
depois ouvir o mundo cair novamente. Parece que existem 3
baterias, 5 baixos e, principalmente, 10 guitarras, mas tudo
soando como um instrumento só, uma massa sonora fabulosa e
brilhante. Mas a banda não terminou ainda...
Blood Rites começa com uma
introduçãozinha claustrofóbica, emendada em uma guitarra nervosa
como cartão de visitas, e lá vem mais uma verdadeira pedrada
atordoante, pulsante, magnífica. Ainda mais colérica e pesada
do que Homage, Blood Rites é para acabar com quaisquer dúvidas
que ainda pudessem existir acerca da genialidade do Trail
of Dead. A banda insiste em tocar alto, pesado, em fundir
o som das duas guitarras em uma única harmonia caótica e melodiosa
ao mesmo tempo, em seguir à risca aquilo que quase parece
ser sua cartilha, e faz isso de um jeito cada vez mais fantástico.
As guitarras novamente são impressionantes e o vocal de Jason
Reece é quase inacreditável, o cara canta/berra com uma raça
incrível. É uma paulada curta, 1 minuto e 52 segundos impecáveis
e arrebatadores.
Depois dessa sequência de tirar
o fôlego, os 4 rapazes resolvem mostrar que são pessoas normais,
e nos presenteiam com uma música instrumental bastante interessante,
que leva o nome de Blade Runner. Nada de guitarras e baterias
apocalípticas, somente uma canção misteriosa para fechar com
chave de ouro este trabalho fenomenal. |