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Tripping Daisy:



Tripping Daisy
Formado no Dallas, Texas em 1991

Formação:
Tim Delaughter: vocais, guitarras
Wes Berggren: guitarras, teclados
Mark Pirro: baixo
Phillip Karnats: guitarras, outros
Ben Curits: bateria

Outros integrantes:
Bryan Wakeland: bateria
Mitch Marine: bateria

Biografia:

Você aí que viveu os anos 90 e acompanhou, ano a ano, a ascensão do grunge e das bandas "alternativas", rótulos que faziam de fato algum sentido na época em que foram aplicados. Quando você pensa nesse período e nas bandas que chegaram aos seus ouvidos, sua mente é tomada por névoa, graxa, fuligem e sujeira, elementos expelidos pelas guitarras carregadas de bandas como Nirvana, Alice In Chains e Soundgarden. Dificilmente pode-se imaginar em meio a esse panorama sombrio uma paisagem de girassóis, caleidoscópios, parques de diversões, jardins multicoloridos e personagens surreais, o que seria um grande antagonismo para o que chamava a atenção do público e representava boas vendagens na época. Pois acredite - no Texas existiu um conjunto de músicos que insistiu em construir o seu universo particular em cima de situações divertidas e coloridas, desafiando os caminhos naturais da época com doses de bom humor e espírito de não se levar a sério.

Tim Delaughter (voz), Wes Berggren (guitarras), Mark Pirro (baixo) e Bryan Wakeland (bateria) reuniram-se em Dallas, 1991, com a curiosa idéia de introduzir elementos psicodélicos e incomuns ao rock feito na chamada música "universitária" norte-americana, que na época caminhava por meios independentes e era responsável pela veiculação de inúmeras novas bandas que sobreviviam soterradas pelo pré-determinismo da indústria musical convencional. Influenciados também pela vasta gama de estilos que circundavam os ouvidos juvenis da época, com múltiplas cenas produzindo os mais variados gêneros musicais relacionados com o rock, a banda calcou suas composições na tríade baixo-guitarra-bateria, sem uma regra específica, abusando de ritmos inquietos e desconcertados. Conceitualmente, introduziram um caráter bem-humorado às suas letras, assim como a proposta visual da banda recorria à cores fortes e vibrantes, distanciando-na da sisudez que caracterizava o início dos anos 90. A boa repercussão de suas apresentações na região, decoradas por projeções de slides e alusões a desenhos animados e a inclusão de uma faixa na compilação da rádio KDGE-FM refletiram em um interesse por parte da gravadora local Dragon Street Records, que lançou seu primeiro disco, "Bill" em 1992.


Berggren, Pirro, Delaughter e Wakeland: mais uma banda na carona do grunge?

Com a explosão ocasionada por "Nevermind", do Nirvana, muitas bandas que estavam na mesma condição que o quarteto passaram a ser analisadas pelas grandes gravadoras, ávidas pela descoberta de novos artistas que pudessem repetir o feito do trio de Seattle. A incrível cruzada por novos talentos registrou um volume imenso de novos CDs nas prateleiras das lojas, prontos para saciar a ânsia de um público disposto a experimentar novos artistas. Contratados pela multinacional Island, o álbum "Bill" acabou relançado e remasterizado pela gravadora para clarear um pouco mais o seu som e adaptá-lo ao mercado mainstream, chegando às lojas em 1993 com uma faixa a menos do que em sua edição original ("Green Tamborine", cover dos Lemon Pipers, sofreu corte por questões legais). A exemplo das maiorias das bandas da época, o Tripping Daisy recebeu o devido espaço na MTV, que cumpria papel fundamental de veiculação na época, o que lhe rendeu um bom reconhecimento em solo norte-americano, embora sua popularidade fosse irrelevante na Europa. Tal exposição era a prova de que a Island apostava pesado no retorno financeiro que podia colher. Em ritmo de constantes lançamentos, lançou em 1993 um EP chamado "Live: Get It On", com o objetivo de contabilizar em cima da nova contratação e faturar alguns dólares enquanto o quarteto não entregava um novo álbum. A atitude, é claro, não vinha de encontro aos interesses artísticos da banda.

O disco seguinte, que pode ser encarado como a verdadeira estréia da banda na nova gravadora, saiu em 1995. "I Am An Elastic Firecracker" beneficiou-se dos ecos de boa vontade que o público concedia às bandas do ultra-exposto grunge. Nesse grupo, outras bandas como Superdrag, Dishwalla e Spacehog tiveram seus quinze minutos de fama, graças à convalescência da MTV que exibia vídeos de novos artistas à exaustão, alimentando a busca por um "novo Nirvana". "Firecracker" fez um relativo sucesso nos EUA graças à simpatia de vídeos divertidos como os das faixas "I Got A Girl" e "Blown Away", que traduziam em cores e criatividade a movimentação musical da época. O disco mostrou traços de evolução significativos, tanto em termos de composição como na maneira em que foi lapidado. Embora seja notável a preocupação em adaptar as idéias da banda ao que podia ser facilmente assimilado pelo público da época, há ali várias demonstrações de criatividade e busca por uma identidade. Vendeu o suficiente (250.000 cópias nos EUA) para garantir um novo álbum a eles, mas representou para os Daisys mais um caso de queda de braço entre artista e corporação. Os músicos quiseram tempo e liberdade para experimentar, a gravadora exigiu um foco na construção de hits certeiros, fossem quais fossem as técnicas empregadas.

Se essa situação toda acabou rendendo ao Tripping Daisy a exposição esperada, a introdução da banda no mercado acabou seguindo o mesmo caminho de tantas outras que compartilharam da mesma sorte. "I Got A Girl" tocou bem nas rádios e virou uma canção-marca da banda, que no futuro representaria um fardo a carregar. Erroneamente relacionados ao rótulo grunge, o som do quarteto abusava dos riffs suingados de guitarras e das melodias aceleradas, com fortes doses de pop explosivo e de influência do som dos anos 60. Além disso, a voz característica de Tim e seus cabelos coloridos renderam-lhe comparações Perry Farrel, vocalista de um dos marcos do princípio dos anos 90, o Jane's Addiction. O característico pàra-acelera-pàra de suas canções e algumas eventuais incursões viajandonas não colaboraram muito para que os Daisys arrancassem o estigma de clones da banda de Farrel, complicando ainda mais a mobilização para conceder ao Daisy um caráter genuíno que parecia se tornar necessário naquele ponto onde o público separava o joio do trigo. Essa combinação de fatores deixou-os soterrados ao lado de tantas outras bandas que beneficiaram-se do momento, sofrendo as primeiras negações do público que, saturado com os exageros da indústria, já não via com bons olhos os novos trabalhos oriundos de Seattle e das dezenas de bandas "alternativas" que habitaram seus ouvidos. Para completar, o ritmo alucinado de cinco anos nos estúdios e na estrada provocaram momentos de acidez na relação entre os integrantes, levando ao ponto máximo onde unem-se desconforto com o rumo artístico e idéias sobre o fim dos trabalhos. Foi nesse ponto que o baterista Wakeland deixa o Tripping Daisy, sendo substituído por Mitch Marine. Após uma desgastante turnê "nonsense" com os jurássicos Def-Leppard, a banda, fragmentada, decidiu entrar em férias, período em que Tim conheceu o guitarrista Philip Karnats e passou a tocar algumas músicas na casa do novo colega. A sintonia entre os dois foi tamanha que, após alguns ensaios com a participação de Berggren, Karnats foi convidado a integrar o Tripping Daisy. Momentos antes deles entrarem num estúdio em Nova Iorque, o baterista Marine foi chutado para fora e substituído por um antigo amigo deles chamado Ben Curits.


Ao vivo o bicho pegava

Enquanto a banda trabalhava com o produtor Eric Drew Feldman (Frank Black and the Catholics, Captain Beefheart, PJ Harvey) em seu terceiro álbum, a Island lançou em 1997 um novo EP, "Time Capsule", que compilava algumas faixas raras e lados-b de singles europeus. Mudanças no mundo da indústria musical fizeram com que alguns selos fossem adquiridos pela empresa de bebidas Seagram, que fez uma lavagem no cast que controlava a Island Records. Com novos gerentes na jogada, o Tripping Daisy passou a ser o nome da vez na Island, um projeto que renderia justificativas para que a Seagram não riscasse a Island de sua planilha (a Seagram planejava aglutinar vários pequenos selos, enxutando a corporação em um número limitado de companhias). De artistas sufocados, eles passaram a receber liberdade total da gravadora, que investiu verbas, fez concessões e, melhor, sequer levantou o telefone para saber como as gravações andavam. Quando receberam o resultado de Tim e cia., concluiram que naquele trabalho tinham a galinha dos ovos de ouro (estipularam 500.000 cópias vendidas até o final do ano).

Em julho de 1998, saiu o disco que traduz a ironia que cerca a história da banda: "Jesus Hits Like The Atom Bomb". O álbum marca uma consagrada reviravolta no som do agora quinteto, uma evolução surpreendente capaz de alçar o disco à lista de melhores da década. Todos os fatores que até então formavam o som da banda foram desprendidos de qualquer pré-exigência por parte dos executivos da sua gravadora e o conjunto, bem mais maduro e auto-confiante, conseguiu atravessar a linha da consolidação artística.

Para sua informação: tamos aí!

Sem abrir mão dos ritmos refrescantes e ensolarados, as canções passaram a abordar temas mais introspectivos e incorporar arranjos bem mais rebuscados e inteligentes, sem compromisso de obedecer formatos. Longe de desmerecer seus discos anteriores, pode-se afirmar que um novo Tripping Daisy, mais grandioso e respeitável surgiu, onde se nota o quinteto soando uníssono, em perfeita sintonia. A inclusão de outros instrumentos como os teclados, piano e tuba tornaram a proposta de aproximar o poder sônico ao saudosismo psicodélico sessentista uma aventura genuína e o capricho nos múltiplos vocais trouxeram mais grandiosidade ao produto final. Uma verdadeira trilha sonora para um passeio sônico-psicodélico de final de década.

Mas o triunfo artístico, apesar da consagração junto à midia e fãs, não foi suficiente para garantir a manutenção dos Daisys em sua gravadora. Por motivos mercadológicos, o grande disco ficou aquém das vendagens esperadas, o que decretou o final do contrato e colocou "Jesus Hits Like The Atom Bomb" na seleta lista de "discos perfeitos que quase ninguém escutou". A banda perdia a segurança e a infraestrutura que a grande indústria lhe oferecia, mas ganhava, por outro lado, um novo mundo de possibilidades a explorar.

Deste ponto em diante, tudo que se relacionava a eles passou a interessar apenas aos fãs, notavelmente aos que encontraram o cálice sagrado em "Jesus Hits Like The Atom Bomb". De volta ao Texas, trataram de juntar-se a velhos companheiros e admiradores da banda para fundar um selo independente que lançaria os futuros projetos que pretendiam fazer. Com um universo reduzido, o selo Good Records deu sua guinada inicial ao lançar o raro EP "The Tops Off Our Heads", 22 minutos comprimidos em uma única faixa onde sete temas davam continuidade ao espírito evocado no seu último álbum com a Island. O disco foi vendido através do site oficial da banda em edição limitada, o que deixava claro o desprendimento com o sucesso comercial e a prioridade à excelência artística e à satisfação pessoal de se fazer parte de uma banda de rock. O selo ainda lançou dois outros títulos limitadíssimos, "We're Not Signed EP" e um split com a banda texana Centro-matic. Nesse ritmo de satisfação pessoal, o quinteto gravou uma série de faixas para formar um novo álbum, o disco que representaria sua estréia no novo selo, com lançamento marcado para novembro de 1999. Na manhã de 28 de outubro de 1999, menos de um mês antes do lançamento do novo álbum, o guitarrista Wes Berggren foi encontrado morto em seu apartamento, vítima de uma overdose de cocaína. Curiosamente, uma das principais causas de morte no meio musical afetou a banda quando já não mais viviam a vida de rockstars. Em dezembro, Tim anunciou que a ausência de Wes exauria as forças para que eles continuassem, decretando assim o fim das atividades do Tripping Daisy.


Wes, Curits, Tim, Karnats e Mark: rolou aquela química, sabe?

Mas o triste ponto final da trajetória dividiu os sentimentos entre amargura e esperança. A Good Records acabou lançando de forma independente o disco em 2000, entitulado apenas "Tripping Daisy". As doze faixas previstas foram acompanhadas de mais duas. "Community Mantra", que abre o disco, foi a última gravação que os rapazes fizeram em conjunto. Além disso, "Soothing Jubilee", que ficaria de fora do disco, recebeu um tratamento final com a participação do pai de Wes, Don Berggren, no comando de um Fender Rhodes. Apesar das circunstâncias melancólicas acerca do disco, o resultado final é uma continuação dos méritos de "Jesus Hits Like The Atom Bomb", com toques ainda mais transcedentais, possivelmente obtidos pela ausência de expectativas nos resultados que o disco poderia alcançar. Esse disco hoje permanece esgotado, sem previsão de reedição por parte da Good Records.

Com o fim da banda, a Good Records passou a ser um dos focos de trabalho de Tim e Mark, que agregaram uma loja de discos ao selo, com o mesmo nome, localizada no Texas. Tim casou com sua namorada de longa data, Julie Doyle e teve três filhos. Os discos da banda estão hoje fora de catálogo, sendo que alguns dos títulos já representam bons lucros em sites de leilões online. Algum tempo depois, Tim reuniu um novo projeto que encontra raízes no que fez sua falecida banda: The Polyphonic Spree, uma mega banda pop, continuou a espalhar o espírito alegre que Tim, Wes e Mark carregaram pelos anos 90.

Vicente Moschetti
julho / 2004

Álbums:
Discos Oficiais Ano
Tripping Daisy 1991 (independente)
Bill 1992 (Dragon Street)
Bill 1993 (Island) - relançamento
I Am An Elastic Firecraker 1995 (Island)
Jesus Hits Like The Atom Bomb 1998 (Island)
Tripping Daisy 2000 (Good Records / Sugar Fix)
EP's, coletâneas, etc. Ano
Live: Get It On 1993 (Island)
Hook Music 1 1996 (independente)
Time Capsule 1997 (Island)
The Tops Off Our Head 1999 (Good Records)
We're Not Signed 1999 (Good Records)
Tripping Daisy / Centro-Matic (split) 1999 (Good Records)