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Review: Weezer

avaliação:

A capa. Apesar do 1o trabalho do Weezer ser considerado um dos melhores lançamentos da década de 90, de ser responsável por mostrar o talento de Rivers Cuomo ao mundo e de abrir um lugar ao sol no unvierso musical aos nerds através do "geek rock", o detalhe mais genial desse disco ainda é a sua capa azul, que não diz nada. Você olha e não sabe o que esperar.
Que tipo de som fazem esses quatro caras, que mais parecem saídos da ala de excluídos do refeitório de algum filme adolescente americano?

Conhecendo a figura do compositor/vocalista/guitarrista solo da banda, Rivers Cuomo, é fácil ter uma pista. 21 anos, nerd, fã de hard-rock anos 80 e com um desejo urgente de se tornar um astro do rock, Rivers sempre afirmou que achava muito mais fácil cantar seus sentimentos do que falar sobre eles. E é essa sinceridade quase ingênua que permeia o disco, com canções que abordam principalmente o tema do amor, com as quais os fãs tanto se identificam. Hoje a combinação letras românticas + guitarras pesadas remete a algo que já foi explorado a exaustão e é dominada por um sem número de bandas desinteressantes, que se parecem muito entre si. Mas há 11 anos a história era diferente. Quando o Blue Album chegou as lojas, defendia com dignidade o rótulo de "emocore", vendendo cerca de 3 milhões de cópias ao redor do mundo.

As 10 músicas do disco apresentam um equilíbrio perfeito: as guitarras não são barulhentas demais para o pop e as melodias, apesar de muito bem trabalhadas, não deixam de flertar com o alternativo. A produção de Rick Ocasek (ex-Cars) tira o melhor dessa mistura, de modo que qualquer tipo de rótulo soaria injusto. É simplesmente a trilha sonora de uma tarde de sol ou noite de festa com muita cerveja, cercado de amigos, de toda a (in)experiência que o final da adolescência e início da maioridade carrega.

A faixa de abertura "My Name Is Jonas" começa com um arpejo, para em seguida dar espaço ao volume das guitarras. Logo de cara fica claro o diferencial do som Weezer: o poder das belas melodias. Destaque ainda para um solo de gaita, no final da música. Em seguida vem "No One Else", em que Rivers exercita seu lado romântico/nerd: "Eu quero uma garota que não ria para mais ninguém" afirma o refrão que revela uma sinceridade e insegurança inconfundíveis. "The World Has Turned And Left Me Here", a 3a faixa, é a que melhor sintetiza a definição do primeiro parágrafo sobre o som da banda. O Weezer exercita a veia poética com versos como "Acabei de fazer amor com sua doce memória/1.000 vezes no meu pensamento/Você disse que gostou como nunca" e "Falei por horas com a sua foto/E você apenas ouviu/Você se encantou pelo meu intelecto".

O primeiro single, "Buddy Holly", foi o responsável em tornar a banda
conhecida do grande público. Isso graças ao excelente clipe dirigido
por Spike Jonze, que evocava um antigo seriado de sucesso americano (Happy Days) e ganhou o Astronauta de Prata da MTV Americana. A música seguinte, "Undone (The Sweater Song)", foi a que iniciou tudo: conquistou as paradas das rádios universitárias, foi o primeiro single e iniciou a parceria da banda com Jonze. O refrão que dizia "Se você quer destruir meu suéter/Segure esse fio enquanto eu saio andando" fez o Weezer se preocupar em provar que não era mais uma banda metida a engraçadinha.

Um ode ao hedonismo. Dessa maneira Rivers Cuomo definiu "Surf Wax America", a sexta música do Blue Album. Agitada, ela possui uma "parada" perto um pouco depois da metade, que mostra o talento de Rivers como compositor e sua grande criatividade. Contrastando com o final explosivo da música anterior, "Say It Ain't So" começa com uma guitarra lenta e vocais calmos. Uma das melhores faixas não somente do disco mas de toda a carreira da banda, o 3o single é até hoje uma das preferidas dos fãs (principalmente da ala feminina). A música foi escrita após a traumática experiência do vocalista, cujo pai era alcoólatra, ao encontrar uma lata de cerveja do seu padrasto na geladeira da sua casa.

Fã confesso de Brian Wilson, Rivers fez sua própria versão de "In My
Room" dos Beach Boys - "In The Garage". Na música mais fraquinha do disco ficamos sabendo que o vocalista é fã do Kiss, dos X-Men e de RPG. "Holiday", a nona do disco, é outra grande faixa. Com uma letra do tipo "eu e você contra o mundo" e uma grande melodia, ela é sem dúvida outro grande trabalho do Weezer. Uma parada ainda mais interessante que a de "Surf Wax America" dá um brilho a mais à música. "Vamos fugir por um tempo/Você e eu/Para uma terra estranha e distante/Onde eles não falam uma palavra da verdade/Mas nós não entendemos de qualquer jeito" canta Rivers. Os instrumentos que entram um a um em "Only In Dreams" são o início do final brilhante do Blue Album. Com uma letra inspiradíssima e um clima melancólico, a música é a cereja no bolo de uma das mais excitantes estréias da indústria fonográfica. Destaque para o solo apoteótico que conduz a canção para os seus épicos 8 minutos.

Um dos tipos mais comuns de fã é aquele que detona qualquer trabalho mais atual da banda e vangloria as músicas do passado. No caso do Weezer, eles constituem uma grande maioria. A responsável por esse perfil é justamente sua excepcional estréia. Passados 11 anos desde o lançamento, o Blue Album surpreende hoje em dia por manter o mesmo frescor da época em que foi lançado e ainda soar atual. Mais do que a obra-prima da banda, o disco revelou ao mundo o talento de Rivers Cuomo, um dos compositores mais prolixos da atualidade, e abriu caminho para o trabalho seguinte, ainda mais pessoal, intimista e alternativo: o cult "Pinkerton".

Marcelo Pereira da Silva