Comecemos com
o final, para variar. No remoto ano de 2000, o Smashing Pumpkins
anunciou seu fim. Milhares de fãs acompanharam o canto
do cisne, cada qual com seu palpite para quando Billy Corgan,
vocalista, guitarrista e líder de uma das mais notáveis
bandas dos anos 90, iria voltar à ativa. Com base na
produção de b-sides do Pumpkins naquela época,
a sensação geral era de que um novo projeto
do artista não tardaria.
Estes fatos recentes estão
bem documentados. Corte então para 1990, Chicago. O
Smashing Pumpkins já estava engatinhando e começando
a preparar seu primeiro disco, o Gish. Vá para New
Jersey, onde surgia uma cena forte que misturava punk e metal.
O Skunk foi uma das bandas típicas de Jersey, fadada
a qualquer hora se auto-destruir. Exatamente então
Billy Corgan, fã do Skunk, foi tentar conversar com
seus ídolos sobre sua insegurança quanto às
gravações no estúdio. Apesar de escorraçado
pelo baixista, Billy foi bem recebido pelo guitarrista Matt
Sweeney. A conversa girou, claro, em torno de música.
Conversa vai, conversa vem, Matt e Billy descobriram ter gostos
muito próximos e admiração por bandas
em comum: Come, Slint, além de muitas representantes
do metal dos anos 70. Como se fossem amigos de longa data,
fizeram um trato de sempre tocarem juntos quando Corgan aprecesse
em New Jersey.
Avance mais dois anos. Billy Corgan realmente apareceu em
Maplewood, New Jersey, e tocou com Matt Sweeney. O cenário
foi o porão da casa do pai de Matt. Como todos os prolíficos
encontros destes dois grandes músicos, a experiência
intensa legou mais uma promessa: assim que o Smashing Pumpkins
acabasse, eles iriam formar uma nova banda.
Neste
meio tempo, durante toda a década de 90, muitas
coisas aconteceram. O Skunk acabou e Matt Sweeney esteve
na banda Chavez. Quando o Chavez também teve
seu fim, o guitarrista tocou em shows com a Cat Power,
o Guided by Voices e o Bonnie Prince Billy. O Smashing
Pumpkins lançou um álbum que marcou a
história auditiva. Jimmy Chamberlin, baterista
do Pumpkins, teve que deixar a banda por um tempo para
se recuperar de problemas com drogas. |
Matt e Billy já no Zwan:
promessas de juventude |
Agora chegamos novamente ao
ponto em que o Pumpkins acabou. Relembrando da promessa inicial,
Billy Corgan e Matt Sweeney resolveram formar uma nova banda.
Dentre os integrantes do Pumpkins, a nova banda herdou Jimmy
Chamberlin. Isso não foi nada inesperado, já
que Jimmy e Billy têm uma ótima afinidade para
tocar juntos, além de serem grandes amigos fora do
palco.
Para completar a trupe dos
primeiros shows, Matt Sweeney chamou seu velho amigo David
Pajo. David Pajo é uma espécie de mentor intelectual
do Josh Homme, se formos ver de quantas bandas e projetos
e com quantas pessoas ele já tocou. Para citar os nomes
mais conhecidos associados à figura: Slint, Tortoise,
Stereolab, Papa M. Aliás, o Papa M ainda existe e Pajo
ainda tem projetos para a banda. Como se não bastasse,
David ainda é daqueles que tira som de qualquer coisa
que colocarem na frente dele: toca baixo, guitarra, bateria,
piano e conga. Imagine Jimmy Chamberlin incrédulo por
estar tocando na mesma banda que o David Pajo... Tem-se então
uma idéia do tamanho dos talentos somados neste embrião
de banda.
O último show do Smashing
Pumpkins foi em 2 de dezembro de 2000. O primeiro do Zwan,
em 16 de novembro de 2001. Menos de um ano depois, Corgan
estava de volta à ativa, como intuiam os fãs
de Pumpkins - e como Matt Sweeney soube por mais de dez anos.
O grupo The True Poets of Zwan fez quatro apresentações
na Califórnia, com um setlist de cerca de vinte músicas
inéditas.
Ainda envolvidos na aura de
mistério que não se esvaiu do Machina, ou talvez
ainda procurando um caminho próprio para a nova banda,
o True Poets of Zwan apresentou-se em forma de seu alterego,
o Djali Zwan. Os shows do Djali Zwan no centro-oeste estadunidense
eram acústicos e continham um setlist completamente
diferente do True Poets. Como curiosidade, "Djali"
é um termo que significa contador de histórias,
proveniente de um dialeto africano. Em resumo, o que se viu
surgir foram duas bandas distintas, portanto, mas formadas
pelos mesmos integrantes. Ainda parece confuso? Exatamente,
ninguém sabia mais o que esperar de Corgan. "Será
que ele enlouqueceu mesmo com aquela história toda
de Glass and the Machines of God? David Pajo, por favor, você
já lidou com tantas pessoas, tente dar um jeito no
carequinha..." Ao mesmo tempo, foi lançado um
site oficial, www.zwan.com, e grande parte da estrutura on-line
já montada pela comunidade fã de Smashing Pumpkins
passou a se dedicar também a cuidar dos dois alteregos
do Zwan.

Toda a trupe do Zwan (note
Pajo de costas): pessoas comuns, talentos incomuns
Durante o ano de 2002, o True
Poets of Zwan e o Djali Zwan acabaram fundindo-se em uma banda
só, simplesmente Zwan. O baixo, que ficava normalmente
a cargo de Pajo, passou para as mãos da argentina Paz
Lenchantin, desertora do A Perfect Circle. O Zwan pôde
contar então com um baixo, uma bateria, três
guitarras - e cinco vocalistas. Como parecia natural, Billy
Corgan assumiu os vocais, sim, mas todos os outros chegaram
ao microfone. E voi la - tem-se o som do Zwan! Não
surgiu muito experimentalismo nem eletronicidades, como era
a aposta de grande parte dos fãs do Pumpkins. O Zwan
mostrou músicas de rock mais convencionais, com pitadas
de folk, e grandes músicas estilo The Last Song (encontrada
na caixinha "The Aeroplane Flies High" do finado
Pumpkins).
Além dos incessantes
shows, o Zwan também arranjou um tempinho para participar
da trilha sonora do filme Spun em 2002. As suas contribuições
foram as músicas Jesus, I, Wasting Time e um inusitado
(mas não inédito) cover de Number of the Beast,
do Iron Maiden. Billy Corgan aproveitou também para
fazer uma ponta no filme, como "O Médico".
Este um ano foi tempo suficiente
para fazer a base da comunidade de fãs do Zwan. A banda
seguia a política de "open taping", isto
é, a platéia pode gravar o show à vontade.
Claro, é de bom senso não se lucrar com os "bootlegs"
(ou os famosos discos piratas) que surgem disso. Ou seja,
menos de um dia depois de uma apresentação,
os fãs tinham à sua disposição
aquele show via internet ou trocas sem fins lucrativos. É
interessante ver como a Internet revolucionou a divulgação
musical.
Em fevereiro de 2003, o Zwan
lançou seu primeiro álbum, "Mary Star of
the Sea". Não foi muita surpresa o grupo ter assinado
com um grande selo como a Warner Brothers, dada toda a promoção
voluntária e involuntária antes mesmo do debut.
Ninguém soube muito bem o que esperar dele porque,
mesmo com a banda aparentemente com um rumo, a cada novo show
no ano anterior eram apresentadas mais e mais músicas.
Billy Corgan realmente não consegue parar de fazer
música. Por ser recebido pelos fãs de Smashing
Pumpkins, principalmente, a expectativa era altíssima.
Afinal, Billy Corgan é considerado um gênio e
um trabalho dele, com a dedicação necessária
que ele sempre mostrou no Pumpkins, não poderia ser
menos do que extraordinário. Além do mais, com
Sweeney, Pajo, Paz e Chamberlein para ajudar, não poderia
sair algo menos do que fenomenal. Billy Corgan disse que queria
fazer o álbum de rock mais alto e chocante de todos
os tempos, tomando por modelo grandes trabalhos em mono dos
anos 60, como os do the Who, the Kinks e the Rolling Stones.
Em seqüência ao disco, saíram, ainda em
2003, singles das músicas Honestly e Lyric.
"Mary Star of the Sea", para usar de um sentimento
comum entre os que tinha tantas expectativas, é uma
incógnita. Tem momentos bons, outros um pouco cansativos.
A sensação geral é que é um disco
razoável, dado todo o enorme potencial dentro do Zwan.
Logo após o lançamento do disco, surgiram os
rumores de que o clima da banda não estava muito bom
e ela logo acabaria, com o David Pajo e a Paz Lenchantin tocando
um possível projeto paralelo.
Problemas em manter as baixistas,
Billy? |
Houve, nesse ínterim, inclusive esperanças
de mais um single, Of A Broken Heart, e declarações
de Jimmy Chamberlin e Matt Sweeney de que o Djali
Zwan logo estaria de volta. Para a decepção
dos que torciam para que a banda de tantos figuraços
se mantivesse unida, contudo, o Zwan resolveu se dissolver.
Paz continua hoje em colaboração com
o Papa M de David Pajo. Billy Corgan começou
a engatar uma carreira solo, lendo poesias e fazendo
música. Houve um tempo que ele usou seu site
como se fosse um blog para destrinchar mágoas
mal-resolvidas com James Iha e David Pajo, mas parece
que, depois dos seus primeiros shows em 2004, resolveu
maneirar. E que tenhamos sempre boa música
vindo destes!
|
Natalia Vale Asari
agradecimentos especiais a Paulo Diniz
atualizado em jul/2004
|