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Review: Sumday

avaliação:

O Grandaddy já é uma banda veterana. Apesar de ter começado a chamar atenção apenas em 98 e marcando seu nome no mundo alternativo apenas em 2000, a banda está na ativa desde 1992, quando Jason Lytle largou o skate para se dedicar apenas à música.

E, com 11 anos de carreira nas costas, é natural que a banda amadureça, largue as molecagens que faziam no início da carreira e parta para discos mais elaborados, bem trabalhados e bem produzidos. Não que a tosqueira juvenil não tenha nos dado grandes clássicos do rock, como Please Please Me, Nevermind e Surfer Rosa, mas não se pode fingir ter 20 anos pelo resto da vida.

A banda já havia demonstrado um amadurecimento impressionante em seu disco anterior, o fantástico The Sophtware Slump, e seu último trabalho, Sumday, acaba sendo um aprofundamento nessa nova fase da banda. Apesar disso, Jason Lytle e seus comparsas não cometeram o erro crasso cometido por muitas das bandas que escrevem um clássico, o da repetição. Ao invés de repetirem sistematicamente seu trabalho mais aclamado, decidiram fazer um apanhado das várias vertentes de seu som, pegando influência de todas as suas fases e unindo-as em um único disco.

Logo de cara, a banda mostra que não é uma one-record-wonder. Now It's On é uma canção maravilhosa, uma típica canção pop, mas recheada de teclados, efeitos e um arranjo que não poderia sair de outra cabeça senão a de Jason Lytle. Não sem motivos, é o primeiro single de Sumday. Na seqüência, vem outro destaque do disco: I'm On Standby. Uma música que remete e muito às raízes country da banda, junto com uma participação discreta dos teclados de Tim Dryden. Apresenta uma raríssima beleza por ser uma canção triste, tocante. É impossível ficar insensível aos versos de Lytle.

Nas músicas seguintes, a banda parece deixar um pouco de lado a tristeza onipresente em The Sophtware Slump. The Go In The Go-For-It (excelente título) e The Group Who Couldn't Say soam como o velho Grandaddy das garagens de Modesto, no início da década de 90, brincando com melodias, fazendo canções divertidas e alegres, perfeitas para animar um domingo cinzento e triste nas fazendas da Califórnia. Mas o mundo não é feito só de alegria, e Lost In Your Merry Way vem dizendo exatamente isso. Uma doce canção (alternative) country, sustentada por magníficos acordes de violão e excelentes linhas de teclado. Apesar de toda a melancolia, existe uma esperança escondida na melodia, e isso parece ser um dos principais elementos do som dessa estranha banda californiana. Lembra a fantástica Collective Dreamwish Of Upperclass Elegance, faixa do primeiro disco "oficial" da banda, Under The Western Freeway.

E é de Under The Western Freeway que a banda tira a inspiração para a próxima canção. Entre o folk do violão e o lo-fi das guitarras sujas, El Caminos In The West é uma legítima canção pop, e foi sabiamente escolhida como segundo single de Sumday. Em perfeito contraste, vem a experimental "Yeah" Is What We Want, com baixo e guitarras distorcidas, uma melodia etérea e um Jason Lytle distante cantando lentamente com seu timbre agudo. Uma boa música, apesar de ser um pouco mais fraca que o resto do disco.

Mas a grande surpresa do disco fica por conta de Saddest Vacant Lot In All The World. Uma inusitada valsinha no piano, com uma melancolia indescritível tanto na melodia do piano quanto na voz de Jason Lytle, que parece cantar com o coração na boca. Linda, simplesmente linda. Na seqüência vem a estranha e divertida Stray Dog And The Chocolate Shake, uma espécie de continuação da já clássica AM 180, de Under The Western Freeway. Uma linha de teclado simples e divertida retoma o tom alegre do disco. A letra é um achado, confira o primeiro verso: "The supervisor guide turns off the factory lights, so the robots after work in the dark". É o Grandaddy em essência.

OK With My Decay já mostra pelo título que a melancolia voltará a dar o tom do disco. Um triste lamento de Lytle, lamentando seu próprio conformismo, em um tom extremamente pessoal. Musicalmente, é o momento mais Sophtware Slump do disco, com piano e teclados servindo de cama para os versos do poeta, produtor e líder do Grandaddy. The Warming Sun é uma longa, lenta e suave balada, também sustentada pelo piano e pelos teclados, além de um violão que sustenta seu lado mais country. A banda soa como se estivesse tocando sob o céu estrelado de uma lavoura em Modesto, apesar do "sun" no título.

The Final Push to The Sum acaba sendo o grand finale do disco. Apesar de algumas intervenções épicas, é uma canção simples, baseada nos longos acordes de um órgão servindo de cama para um vocal doce e sonolento de Jason. De novo, paisagens bucólicas parecem emergir da canção, assim como da faixa anterior e de uma boa parte do trabalho do Grandaddy ao longo dos anos. Essa música reafirma um detalhe de todo disco desses caras: eles sabem como fazer um grande final, como as simples e maravilhosas So You'll Aim Toward The Sky e Lawn & So On.

E Sumday é isso. Um grande disco! A banda provou ser madura o suficiente para não cair na repetição, mas não partiu para inovações exageradas, fazendo um disco equilibrado, sincero, interessante e... pop! Depois de três discos maravilhosos, a banda garante seu lugar no panteão dos heróis da música alternativa americana e mundial, ao lado gente como Pixies, Velvet, Pumpkins, etc. Eles merecem!

Francisco Marés de Souza
agosto/2003

>> ver também o review de Ricardo Seelig