E, com 11 anos de carreira nas costas, é
natural que a banda amadureça, largue as molecagens
que faziam no início da carreira e parta para discos
mais elaborados, bem trabalhados e bem produzidos. Não
que a tosqueira juvenil não tenha nos dado grandes
clássicos do rock, como Please Please Me, Nevermind
e Surfer Rosa, mas não se pode fingir ter 20 anos
pelo resto da vida.
A banda já havia demonstrado um amadurecimento
impressionante em seu disco anterior, o fantástico
The Sophtware Slump, e seu último trabalho, Sumday,
acaba sendo um aprofundamento nessa nova fase da banda.
Apesar disso, Jason Lytle e seus comparsas não cometeram
o erro crasso cometido por muitas das bandas que escrevem
um clássico, o da repetição. Ao invés
de repetirem sistematicamente seu trabalho mais aclamado,
decidiram fazer um apanhado das várias vertentes
de seu som, pegando influência de todas as suas fases
e unindo-as em um único disco.
Logo de cara, a banda mostra que não
é uma one-record-wonder. Now It's On é uma
canção maravilhosa, uma típica canção
pop, mas recheada de teclados, efeitos e um arranjo que
não poderia sair de outra cabeça senão
a de Jason Lytle. Não sem motivos, é o primeiro
single de Sumday. Na seqüência, vem outro destaque
do disco: I'm On Standby. Uma música que remete e
muito às raízes country da banda, junto com
uma participação discreta dos teclados de
Tim Dryden. Apresenta uma raríssima beleza por ser
uma canção triste, tocante. É impossível
ficar insensível aos versos de Lytle.
Nas músicas seguintes, a banda parece
deixar um pouco de lado a tristeza onipresente em The Sophtware
Slump. The Go In The Go-For-It (excelente título)
e The Group Who Couldn't Say soam como o velho Grandaddy
das garagens de Modesto, no início da década
de 90, brincando com melodias, fazendo canções
divertidas e alegres, perfeitas para animar um domingo cinzento
e triste nas fazendas da Califórnia. Mas o mundo
não é feito só de alegria, e Lost In
Your Merry Way vem dizendo exatamente isso. Uma doce canção
(alternative) country, sustentada por magníficos
acordes de violão e excelentes linhas de teclado.
Apesar de toda a melancolia, existe uma esperança
escondida na melodia, e isso parece ser um dos principais
elementos do som dessa estranha banda californiana. Lembra
a fantástica Collective Dreamwish Of Upperclass Elegance,
faixa do primeiro disco "oficial" da banda, Under
The Western Freeway.
E é de Under The Western Freeway que
a banda tira a inspiração para a próxima
canção. Entre o folk do violão e o
lo-fi das guitarras sujas, El Caminos In The West é
uma legítima canção pop, e foi sabiamente
escolhida como segundo single de Sumday. Em perfeito contraste,
vem a experimental "Yeah" Is What We Want, com
baixo e guitarras distorcidas, uma melodia etérea
e um Jason Lytle distante cantando lentamente com seu timbre
agudo. Uma boa música, apesar de ser um pouco mais
fraca que o resto do disco.
Mas a grande surpresa do disco fica por conta
de Saddest Vacant Lot In All The World. Uma inusitada valsinha
no piano, com uma melancolia indescritível tanto
na melodia do piano quanto na voz de Jason Lytle, que parece
cantar com o coração na boca. Linda, simplesmente
linda. Na seqüência vem a estranha e divertida
Stray Dog And The Chocolate Shake, uma espécie de
continuação da já clássica AM
180, de Under The Western Freeway. Uma linha de teclado
simples e divertida retoma o tom alegre do disco. A letra
é um achado, confira o primeiro verso: "The
supervisor guide turns off the factory lights, so the robots
after work in the dark". É o Grandaddy em essência.
OK With My Decay já mostra pelo título
que a melancolia voltará a dar o tom do disco. Um
triste lamento de Lytle, lamentando seu próprio conformismo,
em um tom extremamente pessoal. Musicalmente, é o
momento mais Sophtware Slump do disco, com piano e teclados
servindo de cama para os versos do poeta, produtor e líder
do Grandaddy. The Warming Sun é uma longa, lenta
e suave balada, também sustentada pelo piano e pelos
teclados, além de um violão que sustenta seu
lado mais country. A banda soa como se estivesse tocando
sob o céu estrelado de uma lavoura em Modesto, apesar
do "sun" no título.
The Final Push to The Sum acaba sendo o grand
finale do disco. Apesar de algumas intervenções
épicas, é uma canção simples,
baseada nos longos acordes de um órgão servindo
de cama para um vocal doce e sonolento de Jason. De novo,
paisagens bucólicas parecem emergir da canção,
assim como da faixa anterior e de uma boa parte do trabalho
do Grandaddy ao longo dos anos. Essa música reafirma
um detalhe de todo disco desses caras: eles sabem como fazer
um grande final, como as simples e maravilhosas So You'll
Aim Toward The Sky e Lawn & So On.
E Sumday é isso. Um grande disco!
A banda provou ser madura o suficiente para não cair
na repetição, mas não partiu para inovações
exageradas, fazendo um disco equilibrado, sincero, interessante
e... pop! Depois de três discos maravilhosos, a banda
garante seu lugar no panteão dos heróis da
música alternativa americana e mundial, ao lado gente
como Pixies, Velvet, Pumpkins, etc. Eles merecem!