Mark
Lanegan, o vocalista do Screaming Trees, tem uma longa história
na música de Seattle ao lado de sua banda. E a trajetória
do Screaming Trees, principalmente durante a década de 80
é recheada de conflitos internos, brigas e algumas paradas,
onde durante uma delas, em 1989, o tímido e quieto vocalista
Mark Lanegan resolveu fazer um álbum solo.
Naquela época, os Screaming Trees eram heróis locais, além
de já ter obtido um certo reconhecimento na cena underground
do rock americano, tendo gravado 3 álbuns na influente gravadora
SST. Era um momento de transição na carreira da banda, onde
eles tinham acabado de gravar um EP pela SubPop, oportunamente
chamado de Change Has Come, e estavam acertando os detalhes
para assinar contrato com uma grande gravadora.
Mark, aproveitando o tempo de inatividade de sua banda, reúne
alguns amigos para tocar músicas com uma sonoridade diferente
do Trees. A idéia inicial era fazer um EP de blues, Mark contou
com o baterista do Trees na época, Mark Pickerel e os então
desconhecidos Kurt Cobain e Krist Novoselic, do tempo em que
ainda assinavam Kurdt e Chris, respectivamente. Eles ensaiaram
três covers para o álbum, odiaram duas e o material foi descartado
(a outra música seria Where Did You Sleep Last Night). Lanegan
então resolve compor material inédito para o álbum e acaba
escrevendo 20 músicas em um mês.
A gravadora SubPop fica sabendo do projeto e acaba abraçando
a idéia, resolvendo lançar o álbum. Para as gravações em estúdio,
Mark conta com a produção do já experiente Jack Endino e do
guitarrista Mike Johnson (Dinosaur Jr.) que dá uma bela contribuição
nos arranjos. O disco todo é gravado em apenas três dias e
o resultado é The Winding Sheet, seu primeiro álbum solo.
O álbum obteve uma boa aceitação, sobretudo entre a crítica
local e chamou a atenção exatamente pela diferença na comparação
com o som do Trees. Os detaques são Ugly Sunday, Woe e Where
Did You Sleep Last Night e a sonoridade do disco realmente
lembra a atmosfera do blues, apesar de não conter nenhum arranjo
convencional de blues ou meros clichês. Apenas duas músicas
usam guitarras mais pesadas, graças a participação de Kurt
Cobain nas faixas Down In The Dark e na própria Where Did
You Sleep Last Night, enquanto que no resto do álbum é usado
um arranjo mais atmosférico e acústico com guitarras ocasionais.
No entanto, The Winding Sheet foi encarado apenas como um
projeto paralelo, e assim, a partir de 1990 foram intensas
as atividades do Screaming Trees. Ainda naquele ano é lançado
o álbum Uncle Anesthesia, com produção de Chris Cornell. Em
1992, foi lançado Sweet Oblivion que teve uma boa vendagem,
puxado pelo "quase-hit" Nearly Lost You, e banda
partiu para uma longa turnê.
O Trees chegou a gravar um novo álbum com o produtor Don Fleming,
o mesmo de Sweet Oblivion, mas a própria banda descartou o
material e decidiu dar mais uma parada.
Mark Lanegan finalmente pôde se dedicar ao segundo trabalho
solo. Ele já vinha compondo músicas para seu um novo disco
desde 1992 e o plano era de gravar o álbum todo em uma semana,
ainda em 1992, mas o projeto foi atrasado, primeiro pelos
problemas financeiros da SubPop. Em seguida, as constantes
turnês e compromissos com o Screaming Trees adiaram o projeto
até agosto de 1993, quando reunido novamente com Mike Johnson,
e contando com a ajuda de vários outros músicos, foi gravado
o álbum Whiskey for the Holy Ghost, que acabou lançado em
janeiro de 1994.
Este segundo álbum teve uma produção bem mais cuidada que
o anterior, até porque o tempo foi maior para que as músicas
e arranjos fossem melhor trabalhados. Além de Mike Johnson,
o principal colaborador de Mark, entre os convidados de peso
estavam J.Mascis (vocalista do Dinosaur Jr., que tocou bateria
em uma faixa), Dan Peters (Mudhoney), Tad Doyle (TAD) e Mark
Pickerel (ex-Screaming Trees), todos bateristas. A produção
ficou a cargo de Jack Endino e Terry Date além dos próprios
Mark Lanegan e Mike Johnson. A crítica americana consagrou
o álbum que também foi muito bem recebido na Inglaterra e
as vendas, para os padrões da SubPop, entusiasmaram. Os principais
destaques do disco são a belíssima The River Rise, Borracho,
El Sol e House A Home (que foi lançada em single e teve videoclip
lançado).
Lanegan ao vivo |
Em
seguida, Mark participa do álbum Above, do Mad Season,
do qual faz parte o baterista do Screaming Trees, Barrett
Martin. Ele canta em duas músicas, fazendo um dueto
com Layne Staley, em Long Gone Day e I'm Above. Dois
anos depois, o Screaming Trees retoma sua carreira com
o lançamento do álbum Dust seguido de uma intensa turnê,
que incluiu uma participação no festival Lolapalooza
ao lado de Soundgarden e Metallica. |
Em 1997, os problemas de Mark com drogas pesadas praticamente
o derrubaram, levando o Screaming Trees a ficar mais um tempo
parado. Mark teve que passar por momentos turbulentos com
problemas com a lei e clínicas de reabilitação, dramas infelizmente
vividos por muitos de seus colegas nessa década, como Layne
Staley, Scott Weiland, Mike McCready além do exemplo mais
famoso, o seu amigo Kurt Cobain.
Em 1998, um limpo e recuperado Mark Lanegan recebe um telefonema
de Mike Johnson convidando para que voltassem a trabalhar
juntos. Em apenas três semanas eles finalizam o terceiro álbum
de Mark, Scraps At Midnight. Ao mesmo tempo em que compunham,
Mark e Mike gravavam e finalizavam, as letras eram escritas
por Mark momentos antes de gravá-las, ou direto no microfone,
como ele costumava fazer nos primeiros álbuns dos Screaming
Trees.
O disco foi gravado no Rancho de La Luna, um sítio isolado
no interior da California. Na mesma oportunidade Mike também
grava seu terceiro álbum solo e Mark apronta músicas para
seus futuros lançamentos, um álbum de covers e um novo disco
de músicas inéditas, possivelmente um álbum duplo.
Scraps At Midnight foi lançado em julho de 1998 e pela primeira
vez em sua carreira solo, Mark Lanegan saiu em turnê para
divulgar o disco, contanto com uma banda de peso, onde contava
mais uma vez com Mike Johnson e o grande baixista Ben Shepard,
ex-Soundgarden. O som de Scraps mostra uma mistura de folk
e blues com arranjos um pouco mais descuidados que no álbum
anterior, soando mais "ao vivo". As melhores músicas
são Stay, Last One In The World, Wheels e Praying Ground.
Durante esse período, foi noticiado que Lanegan seria o vocalista
para o segundo álbum do Mad Season, renomeado como Disinformation,
mas o projeto foi abandonado depois da morte do baixista John
Baker Saunders. Mark também teria ensaiado músicas para um
futuro projeto juntamente com os integrantes do Tuatara, banda
experimental de jazz/rock, formada pelo guitarrista Peter
Buck (R.E.M.) e o baterista Barrett Martin (Screaming Trees,
Mad Season).
Em 1999, é lançado o álbum de covers I'll Take Care of You,
cuja sonoridade se aproxima a do álbum anterior, Scraps At
Midnight. Arranjos despretensiosos e espontâneos com algumas
músicas baseadas apenas em violão e voz. Os destaques do álbum
são Carry Home (do Gun Club), Shiloh Town e Consider Me (de
Eddie Floyd). Desta vez, não houve turnê nem shows de divulgação.
Ainda em 1999, o Screaming Trees se reúne para iniciar a pré-produção
para o novo álbum, é gravada uma demo com quatro músicas novas.
Em fevereiro de 2000 a banda faz dois shows no Viper Room
em Los Angeles, com o intuito de assinar com alguma gravadora,
o que acaba não acontecendo. Em junho, durante a inauguração
do EMP, o museu do rock em Seattle, o Screaming Trees faz
o derradeiro show de sua carreira.
Após o fim do Screaming Trees, Mark Lanegan volta a se concentrar
em sua carreira solo, a idéia inicial de lançar um álbum duplo
é descartada e em 2001 é lançado Field Songs, com a participação
de Ben Shepherd, Mike Johnson entre outros. De novo, Lanegan
resolve não fazer shows, optando por participar como vocalista
convidado na turnê do Queens of the Stone Age. Ainda em 2001,
Mark participa do novo álbum do QOTSA e trabalha junto com
Greg Dulli (ex-vocalista do Afghan Whigs) em um novo projeto,
ainda sem previsão de lançamento.

Mark Lanegan e Greg Dulli juntos
no palco
A participação
no Queens acabou florescendo e Lanegan tornou-se integrante
fixo da banda, que lançou o elogiadíssimo álbum
"Songs For The Deaf" em 2002. Depois de um ano e
meio de shows com o Queens, Lanegan voltaria a pensar em sua
carreira solo apenas em 2003. Nesse meio tempo, o Queens se
tornou uma das bandas mais importantes da atualidade, teoricamente
aumentando a visibilidade do trabalho solo de Mark Lanegan.
Em 2003, durante os intervalos
da concorrida agenda do Queens, Lanegan grava as músicas
de seu sexto álbum solo, intitulado "Bubblegum",
inicialmente previsto para ser lançado em setembro.
A "comunidade" do Queens of the Stone Age participou
em peso do disco: os integrantes Josh Homme e Nick Oliveri,
Chris Goss (produtor de vários discos do Queens e integrante
do Master of Reality); além de nomes conhecidos como
PJ Harvey, Greg Dulli (Afghan Whigs, Twilight Singers) e Alain
Johannes (Eleven). Trata-se da primeira vez que Lanegan grava
um disco sem a participação de Mike Johnson,
parceiro de longa data.
No entanto, depois de uma seqüência de adiamentos,
"Bubblegum" acabou ficando apenas para 2004, sendo
substituído pelo EP "Here Comes That Weird Chill",
lançado em novembro.
Ainda que "Here Comes That Weird Chill" mantenha
o clima sombrio dos trabalhos anteriores, é um disco
bem diferente, com uma sonoridade mais pesada e suja, com
muitas distorções e efeitos, servindo como indicativo
de uma nova direção em sua carreira. A mudança
passa também pelo nome, a partir de "Here Comes
That Weird Chill" Lanegan passa a assinar seus discos
como Mark Lanegan Band.
No fim de 2003, Lanegan embarca em turnê de uma dezena
de shows na Europa e Estados Unidos. Entre os integrantes
da Mark Lanegan Band estavam o guitarrista Troy Van Leeuwen
(Queens of the Stone Age, A Perfect Circle), Greg Dulli tocando
teclados (!) e Brett Netson (do Caustic Resin, onde toca ao
lado de Mike Johnson). O ponto alto da turnê foi em
Seattle, onde Lanegan chamou ao palco Ben Shepherd (Soundgarden),
Mike Johnson e Van Conner (Screaming Trees) e Dulli para tocar
os clássicos "River Rise" e "Dollar
Bill", essa última, do Screaming Trees.
"Bubblegum" saiu finalmente em agosto de 2004. Nesse
ano, Mark também deixou o Queens of the Stone Age,
ao mesmo tempo em que Nick Oliveri foi demitido da banda por
Josh Homme.
Alexandre Luzardo
atualizado:
ago/2004 |