Imagine uma banda com os seguintes elementos: vocais em belos
tons, instrumental caprichado, letras intelectualmente elaboradas
com conteúdos épicos, produção
cuidadosamente bem feita e músicos virtuosos, com pinta
de rockstars. Se identificou? Se sua resposta é "sim",
então definitivamente você não deve ouvir
o Mclusky...
Formado por três imbecis que definiam seu som com rótulos
pouco ortodoxos como "shitrock" e "fucking
music", o Mclusky era uma mistura de punk, new wave,
Star Wars, humor ácido e cultura trash diluídos
em berros desesperados e instrumentos tocados (propositalmente
ou não) de maneira ruim. A intenção principal
era ser espontaneamente tosco, e orgulhar-se disso com sarcasmo.
Originalmente batizada com o irônico nome "Best",
a banda teve início com o guitarrista/vocalista Andy
Falkous e o baterista Mat Harding, colegas de emprego no Blackwood
Miners Institute. Com a entrada do baixista/vocalista Jon
Chapple, a banda mudou definitivamente para Mclusky, e começou
a fechar um repertório próprio nos anos que
se seguiram, inspirados por Pixies, Shellac e The Fall, bandas
bem diferentes do que estava rolando no Reino Unido naquela
época -que era assolado pela onda britpop de Oasis,
Blur e Pulp.
Em novembro de 2000, "My Pain And Sadness Is More Sad
And Painful Than Yours", primeiro disco do Mclusky, foi
lançado pelo selo inglês Fuzzbox. Na capa, uma
imagem em preto e branco, usada em testes psicológicos.
O álbum rendeu os singles "Joy!" e "Rice
is Nice", duas faixas estupidamente geniais em sua mediocridade.
O som do Mclusky em "My Pain..." era estranho, barulhento
e ligeiramente mal-resolvido (exatamente o que Andy Falkous
sempre quis em uma banda). Os shows chamavam a atenção
mais pela performance desordeira do que pelas próprias
músicas: Jon Chapple contagiava a platéia com
sua postura de palco, algo parecido como uma imitação
de macaco de circo pegando fogo.
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"My Pain..."
chamou a atenção de um número
considerável de pessoas, a ponto do selo Too
Pure oferecer um contrato maior para o Mclusky, financiando
uma viagem aos Estados Unidos. Com isso, o grupo começou
as gravações de um novo álbum
com o produtor Steve Albini.
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Motivados por trabalhar com
um de seus heróis, a banda terminou as gravações
do disco em apenas uma semana. Antes mesmo do novo disco ser
lançado, a banda lançou os singles "Whoyouknow"
e "Lightsabre Cocksucking Blues", para dar uma prévia
do que seria o novo trabalho. Imediatamente o público
alternativo voltou os olhos para o Mclusky, e com mais um
single, "To Hell With Good Intentions", a popularidade
da banda cresceu nos níveis mais altos do público
underground.
Finalmente lançado em 2002, "Mclusky Do Dallas",
o segundo disco, faz uma alusão a um filme pornô,
"Debbie Does Dallas". Reforçando o mito de
que uma banda produzida por Steve Albini faz rock de verdade,
"Mclusky Do Dallas" é o álbum mais
afiado do trio, com a energia frenética que é
presente nos shows do grupo. A maioria das faixas dificilmente
ultrapassa os dois minutos, destilando todo o veneno de Falkous
e seus comparsas (tanto nas letras quanto nas faixas mais
esporrentas). As comparações com o lado mais
cru do Pixies começam a surgir, tanto pelo timbre vocal
de Falkous -bem semelhante aos momentos mais histéricos
de Frank Black- quanto pela produção, que é
a mesma de "Surfer Rosa". Com a atenção
despertada pelo disco, a banda começou a participar
de festivais pela América, Europa e Austrália,
lançando simultaneamente o single de "Alan Is
a Cowboy Killer". Apesar disso, o Mclusky raramente aparecia
na MTV, pois seus vídeos eram considerados muito ruins
para tocar na emissora.
Após o embalo do segundo disco, o Mclusky lançou
mais dois singles com material inédito: "There
Ain't No Fool In Ferguson/1956 And All That" e "Undress
For Success". Neste período, ocorreram atritos
na banda e Mat Harding abandonou o barco. Jack Egglestone
foi recrutado para juntar-se ao grupo, que encabeçaria
uma turnê no Reino Unido, com direito a uma majestosa
apresentação no lendário Reading Festival.
A esta altura, o Mclusky já tinha consolidado uma boa
parcela de fãs de seu shitrock.
2004 marcou o lançamento do terceiro álbum,
"The Difference Between Me And You Is That I'm Not On
Fire". Graças ao sucesso do álbum anterior,
"The Difference..." foi considerado um fiasco: apesar
de ser produzido novamente port Steve Albini, o disco tem
poucos momentos empolgantes, com faixas ultrapassando os quatro
minutos de duração e sonoridades mais experimentais.
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Sobre este novo trabalho,
Falkous disse: "a idéia principal em nossas
cabeças é a de não nos repertirmos.
Do Dallas é realmente um álbum bem mais
rock. Ele funcionou do jeito que nós planejávamos,
o que é difícil de acontecer. No novo
álbum era óbvio que, com as coisas que
estávamos escrevendo, ele seria bem mais sinistro".
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E a palavra sinistro é
algo que sempre esteve presente no Mclusky. Títulos
de músicas como "Your Children Are Waiting For
You To Die", "Friends Stoning Friends", e as
próprias letras contraditórias de Falkous dão
um toque no mínimo peculiar na banda, fazendo com que
eles fossem mal-interpretados: "às vezes eu leio
sobre nós e não sei o que estão descrevendo,
como se nós fôssemos alguma banda de death metal",
disse o frontman controverso. Além das letras aparentemente
maldosas, o Mclusky ainda pincelava referências sarcásticas
aos filmes de Star Wars, informática e histórias
regionais em seus três discos.
Logo no início de janeiro de 2005, uma nota no site
oficial do Mclusky divulga que a banda se separou. A velha
desculpa: "motivos pessoais". Com o final da banda
declarado, Jon Chapple estaria trabalhando com sua outra banda,
Shoothing At Unarmed Men. Falkous e Jack formariam um outro
projeto, escrevendo material para lançar algo no futuro.
Existem planos para algum lançamento contendo singles,
b-sides, raridades e gravações ao vivo, mas
até o momento não há nada confirmado.
Alexandre Lopes
Janeiro
/ 2005 |