Review:
Songs for the Deaf |
avaliação:
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"Songs
For The Deaf", um dos discos mais aguardados
de 2002, foi cercado de todo o hype possível antes
de seu lançamento. Mas para "Songs For The Deaf"
e principalmente para o QotSA, o hype se justifica.
Depois de uma extensa bagagem
no prestigiado Kyuss, banda de respeito na cena metal
(ou mais especificamente stoner metal), Nick Olivieri
e Josh Homme embarcaram no Queens, que já tem história. |
Depois de um elogiado
primeiro álbum independente e da estréia por uma grande
gravadora que foi presença garantida nas listas dos melhores
discos do ano 2000 (inclusive o primeiro lugar na NME inglesa),
o Queens está pronto para tomar o mundo de assalto com seu
novo disco, contando com um reforço de peso na formação
do grupo: Dave Grohl assume a bateria, além de repetir a
parceria com o vocalista Mark Lanegan que já estava presente
no disco anterior.
"Songs For The Deaf" traz um conceito bem original, as músicas
são introduzidas por DJ's de rádio, como se o CD estivesse
sendo transmitido pelo rádio. O efeito é bem realista, os
DJ's anunciam as músicas com direito a trilha de fundo,
identificando o nome da rádio e tudo o mais. Uma das rádios
é em espanhol, capitaneada por um tal de "Hector Bonifacio",
que se rasga em elogios ao som da banda, ficou muito engraçado.
Em outro momento, antes de "Six Shooter", o som é de um
motor de carro sendo ligado. O suposto motorista liga o
rádio e passa por várias estações. Quase pára numa rádio
brega (Meat Loaf aquilo?) antes de cair na KLONE FM, de
Los Angeles, uma típica rádio rock com aqueles locutores
malucos, que por fim deixa a música rolar. A seqüência ficou
tão convincente que fica difícil imaginar "Six Shooter"
sem a apresentação do DJ.
Deixando as rádios de lado, "Songs For The Deaf" não deve
causar estranheza para quem já está familiarizado com o
Queens. Mas antes do começo, há uma faixa escondida, ao
colocar o CD e retroceder cerca de 1:30 surge "The Real
Song for the Deaf", que não é mais que uma introdução com
alguns ruídos distorcidos. O disco começa mesmo é com "You
Think I Ain't Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire",
de vocal berrado (cortesia de Nick Olivieri) e riff poderoso
e conciso, numa linha melódica muito pouco dissidente da
vitoriosa "Feel Good Hit of the Summer", que abria o álbum
anterior.
"No One Knows" é o primeiro single, que ganhou videoclip
do consagrado diretor Michael Gondry. O destaque de "No
One Knows" é a guitarra, naquele estilo "econômico" de Josh
Homme, quase robótico, seguindo uma progressão bem bacana.
A banda soa muito coesa, o som é tão harmônico que quase
não dá para separar o baixo da guitarra pelo ouvido. Dave
Grohl faz bonito na bateria, dá para reconhecer ali o estilo
do ex-baterista do Nirvana, embora o cara não esteja se
repetindo em nenhum momento.
"First It Giveth" é outra grande música, guitarras derivadas
do hardcore conflitando com o vocal solto de Josh Homme,
que explora os tons mais altos com naturalidade. No refrão,
Dave Grohl se supera num ritmo frenético e empolgante. A
pesadíssima "Song For the Death" é a primeira do disco com
Lanegan no vocal. Depois de um começo acelerado, a música
revela um riff pesadão com intervalos preenchidos por guitarras
com trejeitos de Black Sabbath (N.I.B. é a referência).
Teclados sombrios, solos matadores, pancadaria de guitarra
e quebradeira de bateria no final também são ingredientes.
"Sky Is Falling" dá uma aliviada com uma melodia delicada
explorada por vocais duplicados de Homme. Mas é só a melodia,
pois a pegada da banda continua intensa, dessa vez com um
pouco mais de distorção nas guitarras. "Six Shooter" é Nick
Oliveri berrando alucinado e paranóico (e talvez um pouco
afetado também). De início, o som da banda fica em segundo
plano para depois explodir, acompanhando com pancadaria
na medida. Para bater cabeça.
"Hangin' Tree" foi reciclada do vol. 7 do Desert Sessions,
uma espécie de projeto paralelo de Josh Home. Como no original,
o vocal na versão de "Hangin' Tree" para "Songs From the
Deaf" ficou a cargo de Mark Lanegan. Aliás, pouca coisa
muda de uma versão para outra, na versão do QOTSA não há
os violões e o solo é diferente. É uma canção bem convencional,
verso-refrão, mas acompanhada de guitarras nervosas que
são a cara do Queens.
"Go With the Flow" é mais um rock de pegada com uma boa
melodia e vocal bem trabalhado no refrão. A correta "I'm
Gonna Leave You" não chega a impressionar. Segue a mesma
linha de "Go With the Flow", desta vez com Nick Olivieri
no vocal. "Do It Again" mantém o pique, trazendo um bom
refrão. É mais uma que lembra Black Sabbath.
"God Is In the Radio" aumenta o peso nas guitarras e na
bateria pulsante. O contraponto é um melodioso teclado presente
no arranjo. O vocal é de Lanegan, que divide com Josh Homme
o (bom) refrão. A música é cheia de paradinhas por entre
o refrão, que são preenchidas por discretas manobras do
batera Grohl. No final, o um fade falso dá a impressão que
a música vai terminar, para depois voltar com um solo de
guitarra.
"Just Another Love Song" é um espetáculo. O nome da música
pode sugerir uma balada, mas não se engane, trata-se de
um rock espertíssimo, ótima melodia e arranjo. A guitarra
lead acompanhando a melodia como se estivesse solando o
tempo todo. Outros temperos do arranjo são teclados retrô
e backing vocals etéreos, fazendo dessa mistura um dos pontos
altos do disco.
A faixa-título "Song For the Deaf", com sua guitarra hipnotizante,
talvez seja a mais pesada e furiosa do disco, embora seja
extremamente melodiosa. Lanegan e Homme dividem os vocais
numa parceria antológica, a par com as outras que Lanegan
já fez em músicas como "Long Gone Day" (com Layne Staley)
e "Down in the Dark" (com Kurt Cobain).
O disco encerra com a surpreendente "Mosquito Song", que
é mais uma faixa-bônus, embora não esteja escondida. Acústica
e de bela melodia, "Mosquito Song" segue boa parte levada
apenas por violões (muitíssimo bem tocados) até a entrada
de acordeom, piano, metais... Quando o ouvinte se dá por
conta, o tom da música é solene, com acompanhamento orquestrado
e toda a pompa e circunstância possível.
Um final emblemático para um disco matador, que confirma
as expectativas de quem esperava ver "Songs For The Deaf"
entre os melhores de 2002. É um disco para quem acredita
que o rock de peso ainda pode ser relevante mesmo na era
do numetal.
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Alexandre
Luzardo |
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