Na
época, a imprensa escreveu resenhas com argumentos absurdos
do tipo "o disco é longo demais" e as paradas de sucesso
já mostravam que a maré estava virando. Depois de alguns
anos memoráveis de predomínio do rock, nomes como Spice
Girls, Hanson e Backstreet Boys começaram a tomar conta
do cenário, 1996 foi um ano de grandes decepções nas paradas.
Grandes discos como "New Adventures in Hi-Fi" do R.E.M.
e "No Code" do Pearl Jam acabaram vendendo 1 milhão de cópias
cada ante os 5 milhões de "Monster" e "Vitalogy" respectivamente.
Com o Soundgarden, não foi diferente, e os números se repetiram,
"Down on the Upside" bateu na casa de 1 milhão e "Superunknown"
tinha vendido 5 milhões. O resultado é que talvez o melhor
trabalho do Soundgarden e um dos melhores discos da década
acabou de certa forma ignorado.
Mas falando no álbum que é o que interessa, o Soundgarden
mostra que estava no seu auge técnico e criativo, ao longo
de músicas inesquecíveis e uma performance que beira a perfeição
em vários momentos. "Down on the Upside" abre com 'Pretty
Noose', um hard rock de levada bem quebrada com um timbre
das guitarras bem característico da banda. 'Rhinosaur' traz
um riff meio psicodélido, quase desconexo, acompanhado pela
pegada de bateria desconcertante de Matt Cameron. 'Zero
Chance' talvez é a melhor balada do Soundgarden, trabalho
instrumental perfeito, com destaque para as guitarras e
as variações de bateria, Cameron dá uma aula de como se
explorar uma melodia e como isso pode tornar uma balada
interessante. A letra de Chris Cornell também é inspiradíssima.
'Dusty' tem um riff sensacional e a mistura de violões às
guitarras dá um toque bem interessante à música, a psicodelia
também se faz presente no solo. 'Ty Cobb' mostra uma mistura
inusitada, um mandolim misturado a uma levada punk super-rápida
com resultado bem acima do se poderia esperar, irrepreensível.
'Blow Up the Outside World' tem um clima mais depressivo,
as vezes lembrando 'Fell on Black Days', mas com um dos
melhores refrões do álbum. "Burden in my Hand" foi o último
suspiro do Soundgarden nas paradas de sucesso, tem uma melodia
irresistível e muito bem levada pelo crescendo das guitarras
e os vocais de Chris Cornell.
Depois dessa primeira metade simplesmente perfeita, o disco
dá uma caída momentânea, 'Never Named' é meio bobinha mas
compensa pelas guitarras. 'Applebite' resgata a veia experimental
da banda, já mostrada nos clássicos 'Head Down' e 'Half'
(de "Superunknwon"), desta vez sem o mesmo brilho. 'Never
the Machine Forever' é pesada e vigorosa, com destaque para
o baixo (numa afinação bem diferente, num timbre bem pesado).
'Tighter & Tighter' é pesada e sombria, com um solo
grandioso. Na seqüência, o peso continua na destuidora "No
Attention", antes de abrir espaço para uma das melhores
músicas do disco, a psicodélica 'Switch Opens'. Letra sensacional
de Chris Cornell, "hey you slaves go hang your owners /
draw your names among their ashes", e um trabalho de guitarra
fantástico, a ponto de se imaginar no início da música se
tem teclados acompanhando ou não (na verdade é lógico que
não tem!).
Somente por 'Switch Opens' já valeria um álbum inteiro,
mas não é o caso, "Down on the Upside" é recheado de músicas
inesquecíveis e verdadeiras pérolas. E ainda tem mais, 'Overfloater'
é outra grande música, começa bem lenta até um final arrasador.
'An Unkind' é mais um som pesado de guitarras alucinantes.
A reflexiva 'Boot Camp' não poderia ter sido uma escolha
melhor para encerrar o disco, "there must be something good
/ there must be somethinge else / far away / far away from
here".
Até hoje se você ouviu só ouviu o "Superunknown" e achava
que era o auge da banda, então você ainda não sabe até onde
o Soundgarden pôde chegar e é mais um daqueles que até hoje
ignora um dos melhores discos da década de 90.