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Durante
um período de vacas magras, com desentendimentos
decorrentes do uso abusivo de drogas do vocalista Scott
Weiland, o Stone Temple Pilots chegou a encerrar as
atividades. Os outros membros montaram uma nova banda,
o Talk Show, com o vocalista Dave Coutts, gravando um
álbum homônimo. Mas o Talk Show não
vingou, e com o tempo Weiland foi se reaproximando de
seus antigos colegas. O resultado? A tão aguardada
volta do STP, com "N°. 4". |
O quarto álbum do STP
começa com o poderoso riff de "Down"; uma
volta em grande estilo para a banda, com uma música
que deixa os trabalhos mais pesados anteriores no chinelo!
Robert DeLeo mostra que também pode fazer riffs ultra-pesados
com afinação em ré. Os vocais de Weiland,
mais afetados, dão um ar quase satírico ao final
da faixa, mas não põe nada a perder. "Down"
chegou até a ser indicada para melhor performance de
Hard Rock, pela Bilboard. Um fato inédito, sendo que
a crítica adorava avacalhar o STP.
"Heaven & Hot Rods"
aparece para destruir o que sobrou depois de "Down",
só que com um peso mais cadenciado. A "ponte"
da música revela mais uma vez backing vocals mais afetados,
mostrando que o STP mergulhou de vez no lado mais glam(?)
de seu som, mas tudo isso por um lado bom!
"Pruno" é mais um esporro, mas desta vez
com um teor mais meticuloso, com Robert DeLeo jogando uma
linha de baixo inventiva que sustenta o verso, enquanto Dean
toca notas soltas encobertas com efeitos na guitarra, contando
ainda com violões discretos. A música explode
no refrão, que botaria qualquer platéia abaixo.
"Church On A Tuesday"
acalma mais o clima das anteriores, mostrando a técnica
que difere o STP de outras bandas. Uma música bem mais
moderada, segue um ritmo bem feito com escalas no baixo e
guitarra, lembrando alguma coisa do Talk Show.
"Sour Girl" aparece
quase que para seguir uma direção proposta desde
a primeira faixa: da composição mais crua à
mais artificial. É a faixa mais pop do álbum,
assustou vários fãs da volta do STP (inclusive
eu), mas hoje em dia é possível compreender
melhor a estrutura que os rapazes estavam tentando alcançar,
sendo que eles podem fazer um pop de ótima qualidade.
A introdução
que lembra uma marimba de "No Way Out" logo é
coberta por um riff bem pesado e ritmado. A faixa aparece
para retornar o peso quebrado por "Sour Girl". O
refrão "Keep it away now, motherfucker/Now keep
it away" chega a lembrar um pouco de influência
do new metal, mas nada que estrague esta grande música,
que com certeza é algo muito destruidor ao vivo.
"Sex & Violence"
mostra o puro lado rock 'n' roll do STP -uma música
pesada sem os apelos metal das faixas anteriores. A banda
realiza com maestria uma sonoridade mais alegre, com uma certa
faceta de urgência, pelo andamento mais rápido
da faixa. "MC5" segue na mesma linha, pecando apenas
por ser um pouco repetitiva.
"Glide" começa
com um ritmo mais moderado, mostrando mais uma vez o novo
caminho que o STP procura seguir, com Weiland cantando em
tons que nunca havia explorado antes, circundado por algumas
harmonias vocálicas.
"I Got You" retoma
o clima de "Sour Girl", desta vez menos artificial,
com um arranjo acústico competente, soando como country
rock. Uma das mais belas melodias que o STP já construiu.
A derradeira "Atlanta"
dá a impressão de que Jim Morrison voltou do
reino dos mortos para fazer uma participação
especial na volta do STP. Talvez por esta faixa o STP tenha
participado do tributo ao The Doors, onde Weiland foi um dos
vocalistas cogitados para integrar a volta grupo, que acabou
não se realizando de maneira razoável. "Atlanta"
conta com a presença de Barret Martin (ex-baterista
do Screaming trees e Mad Season), figura lendária de
Seattle, tocando marimba e um arranjo de cordas que dão
uma grandiosidade impecável ao encerramento do disco.
No geral, "N°.4"
não chega ao nível elevado de "Tiny Music...",
mas é um álbum competente que passou quase que
em branco pelo público. Traz a banda não muito
diferente do peso do STP original, com momentos mais calmos
e inspirados, retratando os músicos em busca de um
som mais único. Nas palavras de Robert DeLeo, após
um dos shows da volta aos palcos: "É ótimo
que Scott tenha voltado!"