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O
terceiro álbum da carreira do Stone Temple Pilots foi
concebido em meio às mais diversas turbulências. O vocalista
Scott Weiland passava por sérios problemas pessoais:
naquela época, Scott estava fazendo procissão entre
as clínicas de reabilitação para viciados em narcóticos,
e a cadeia. |
Sua
vida estava totalmente desgovernada, pois numa semana ele
aparecia em entrevistas declarando que estava "limpo"
e na semana seguinte, era surpreendido comprando drogas.
No auge de sua crise chegou a fugir da clínica onde cumpria
sua reabilitação, dizendo que iria comprar um hambúrguer.
No meio desse caos todo em que se encontrava a vida de Scott
Weiland, e conseqüentemente da banda também, nasceu Tiny
Music, o álbum mais complacente da história do Stone Temple
Pilots. Moldado como uma obra, peça a peça, nos mínimos
detalhes pelos artesãos do STP, Tiny Music agrada por suas
músicas suaves, e chega a angustiar por suas canções pesadas
que equilibram o álbum, sem torná-lo monótono, depressivo
ou vertiginoso em excesso.
Na época do lançamento, boatos de todos os tipos correram
o mundo musical, afirmando que Scott Weiland não havia colocado
um dedo sequer na elaboração do álbum por causa de seu problema
com as drogas. Alguns boatos diziam que os irmãos DeLeo
seriam os responsáveis pela composição das músicas, mas
com pena de Weiland, creditaram todas elas em seu nome.
Também diziam que Scott havia composto a maioria das letras
durante o tempo que esteve na prisão. Enfim, muitos boatos
foram soltos na imprensa, mas o que seria do rock sem essas
controvérsias? Chegaram a acusá-lo de bigamia. Em certa
ocasião Scott afirmou: "Vocês fazem mais do que eu
jamais conseguiria para manter a lenda viva". Preso
ou não e independente do estado de consciência dos integrantes
da banda, Tiny Music trouxe verdadeiros desabafos de Scott
em suas letras, carregadas de apologia às drogas, e à sua
conturbada vida sentimental. O que dizer de músicas como
"Tumble In the Rough" onde os seguintes versos
são cantados: "Eu estou procurando por uma nova meditação,
ainda procurando uma nova maneira para voar, e não uma nova
maneira de morrer?". Ou a categórica "Pop’s Love
Suicide": "Oh, I'm in love suicide, about a pop
star homicide". E a frase de "Adhesive" que
serviu e servirá sempre que algum ícone do rock 'n' roll
morrer: "Sell more records if I'm dead". Sim,
está correto, uma banda sempre acaba vendendo mais discos
quando o vocalista morre.
Mesmo aos trancos e barrancos o STP conseguiu seu lugar
ao sol com o terceiro CD. O encarte do álbum, e um programa
especial produzido pela MTV Americana deram o tom do que
realmente aconteceu: os irmãos Dean e Robert juntamente
com Scott, o baterista Eric Kret, e o produtor reuniram-se
durante semanas numa mansão [Westerly Ranch] em Santa Ynez
na Califórnia para gravar Tiny Music. O responsável pela
produção do álbum foi Brendan O'Brien, companheiro de longa
data do Pearl Jam, banda a qual o Stone Temple Pilots sempre
foi muito comparado, e acusado injustamente de ser um "clone"
deles.
Foram semanas criando sons, acrescentando instrumentos que
deram a ótica e o tom nostálgico característico desse álbum.
Uma dimensão de sonhos foi criada com o baixo de seis cordas
agilmente tocado por Robert. As guitarras onipresentes de
Dean acrescentaram subversões e melodia. E Eric Kretz esteve
impossível com sua bateria seca nas músicas mais pesadas,
porém ressonante nas músicas mais poéticas. Agressividade
e suavidade. O Stone Temple Pilots sempre flertou com esse
estilo ambíguo, híbrido e mais artístico do rock 'n' roll.
Por fim, Tiny Music não é apenas um disco de uma banda grunge.
É uma obra de arte para ser apreciada com os ouvidos, com
os olhos, com o coração.