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Review: Purple

avaliação:

Embora ainda faça parte da época que o STP era um filho bastardo da geléia da avó de Eddie Vedder e da Alice acorrentada, Purple é um disco mais variado que seu antecessor, Core. Com a maioria das letras sobre traição e decepções amorosas, Purple pôde se tornar o disco de cabeceira de muito corno por aí. E o resultado da lavagem de roupa suja de Scott Weiland não poderia ser melhor...

Começando com um rock eficiente, "Meatplow" traz um andamento característico do STP da época, grudando na cabeça logo na primeira audição. O refrão traz discretas guitarras com slide e o famoso esquema de noise-solo de Dean DeLeo.

"Vasoline" aparece logo em seguida, crescendo de uma microfonia e barulhos esquisitos, resultando naquele riff hipnótico e repetitivo, que parece ter sido escrito por um promissor aluno de música em sua segunda aula com uma guitarra distorcida... O riff grungy simples é complementado com uma bateria e percussão frenéticas, para depois cair em um refrão mais urgente. Weiland não deixa por menos e avisa: "você verá o olhar e você verá as mentiras... Você vai comer as mentiras e vai...", dando uma prévia do rancor que ainda está por vir no resto das letras do álbum.

"Lounge Fly" é outra faixa com percussão poderosa, que conta ainda com a participação de Paul Leary, guitarrista do Butthole Surfers. Faixa viajada, tem um violão de fundo para sustentar as bases da música, cheia de slides de guitarra. Um Weiland desconsolado - porém enérgico - vocifera "Ela disse que seria minha mulher / ela disse que seria meu homem / e eu não posso viver desta maneira / Por favor, preencha minha alma".

"Interstate Love Song" é a mais direta de todas as alfinetadas de Weiland sobre sua malfeitora. Virou hit absoluto junto com "Vasoline" na época do lançamento do disco, e também conta com um videoclip (no qual Dean DeLeo aparece "disfarçado" do mexicano Chaves, nas cenas do deserto). Engraçado que logo após o clima "você-me-sacaneou-estou-magoado-com-você" de "Interstate Love Song", entra "Still Remains", uma iluminada canção de amor com letra melosa. Maior contraste impossível!

"Pretty Penny" dá uma amostra do apurado timbre acústico do STP, com o "coringa" Robert DeLeo trocando o baixo por um violão. Na ponte e no refrão da música, aparecem violões com uma certa influência indiana... Música singela, com arranjo simples, mas com uma sonoridade incrível e viajante.

Destoando do clima de "Pretty Penny", "Silvergun Superman" retorna à vingança de Weiland. Com uma afinação mais grave do que o normal, a faixa traz um riff pesado e vigoroso, para depois cair num refrão mais melódico e com percussão estranha. Weiland continua a questionar (numa tradução mais livre): "Você passou dos limites / e sei que eles eram meus / não pôde se esconder, inventar uma história / Deixe-me saber, como amigo; posso lhe perguntar o por quê?".

"Big Empty" traz de volta as guitarras com slide que Dean DeLeo deve ter treinado bastante no intervalo entre Core e Purple. "Unglued" vem em seguida para injetar um pouco mais de adrenalina no disco. Trata-se de uma paulada crua, com riff sujo e intermitente (alguém aí lembrou do que foi dito acima sobre "Vasoline"?), com mais um solo barulhento do sr. DeLeo.

"Army Ants" aparece com uma introdução que já foi chupada pelo Rage Against The Machine para uma música do disco "The Battle Of Los Angeles" - não me recordo o nome da música, mas pode procurar que o plágio é real! O riff principal lembra de longe o peso característico de bandas como Offspring (calma, calma, nos tempos melhorzinhos), com uma levada semelhante a "Naked Sunday", do disco anterior. Tem uma virada de bateria matadora de Eric Kretz para depois dar à luz mais um solo errado/maravilhoso de Dean.

O disco fecha com a amargurada "Kitchenware & Candybars". Weiland se assume de vez como o "corno da história": "Alguém me disse 'eu sei onde ir' / Alguém me mostrou que eu era o último a saber". O refrão ainda mostra como Weiland seria submisso; "O que eu queria era o que nós queríamos / O que nós queríamos era o que ela queria". Após este momento de redenção total, a banda foi esperta o bastante para encaixar uma faixa não creditada, possivelmente intitulada "The Second Album". Trata-se de uma música com arranjo extremamente brega, com uma letra que parece ser uma espécie de comercial do álbum. Apesar do tema carregado do disco, esta brincadeira foi muito bem sacada, mostrando que antes de tudo, os caras tem um belo senso de humor. No fim, Purple se mostra um disco indispensável, assim como qualquer álbum desta grande banda.

Alexandre Lopes
agosto/2004