
Em 1984, Billy Corgan era estudante da Glenbard North High
School, em Chicago. Ele fazia parte da equipe que publicava
um jornal estudantil, sendo o responsável pela revisão
de textos e também criação de artigos
e resenhas sobre música. Ou seja, desde cedo o futuro
líder do Smashing Pumpkins já era um aficcionado
em música, mais especificamente, rock 'n' roll. Ele
lembra de dois de seus artigos dessa época: Em um
deles elogiava o novo disco do Van Halen, chamado "1984",
em comparação aos dois anteriores, "River
Down" e "Women & Children First", que
ele havia achado fracos. E no outro artigo ele apontava,
dentre as bandas que estavam começando a fazer sucesso
nessa época, quais mais lhe chamavam a atenção.
Eram elas o Metallica, o R.E.M. e o U2.
Seus antigos professores lembram dele como um estudante
exemplar, inteligente e criativo. O seu professor de Ciências,
Walter Schearer, o lembra como "um estudante relativamente
quieto, que ganhou medalha de mérito por ter tido
as melhores méidas em um certo ano". Mas seus
ex-colegas de classe não costumam lembrar desse seu
lado "bom aluno". Marlo Macaisa, um dos melhores
amigos de Billy na época de High School, conta alguns
"feitos" dos velhos tempos: "Certa vez ele
cortou o rabo de um gato e o colocou no bolso traseiro de
sua calça, passeando dessa maneira pela escola inteira.
E em uma outra ocasião, em uma visita ao Art Institute,
onde fomos assistir à uma palestra sobre história
americana do professor John Slusser, ele e nosso colega
Pete Sallis praticamente destruíram o banheiro com
o papel higiênico". "Billy usava roupas
estranhas, se portava de maneira diferente e tinha sempre
um sorriso esquisito no rosto enquanto falava", lembra
outro ex-colega e futuro companheiro de banda, Dan Shaw.
Billy Corgan falaria mais tarde dos seus anos de High School:
"Eu odiava tudo aquilo. Eu odiava aquela atmosfera
de avareza e inveja. Foi a época em que eu comecei
a usar cortes de cabelo diferentes e estava me achando o
próprio Mr. Alternativo. Eu sabia que não
poderia viver daquela maneira. De jeito nenhum".
Ele começou a tocar guitarra aos 14 anos, em parte
por causa de seu pai (um guitarrista profissional de jazz)
e em parte pelo seu amor aos discos do ano 70. Aprendeu
a usar a guitarra na casa de um amigo, usando sua Flying
V. Depois de ganhar seu próprio instrumento, costumava
praticar até de madrugada, e cada vez mais as bandas
que ouvia o encantavam. Nomes como Beatles, Black Sabbath,
Cheap Trick, David Bowie, Judas Priest e Jimi Hendrix o
causavam forte impressão, e foram grandes responsáveis
pelo início de sua carreira musical.
Em 1985, com 18 anos, Billy graduou na Glenbard North High
School. A essa altura, ele já sabia o que queria:
sua vida seria dedicada ao rock 'n' roll. Seus pais já
eram separados, e ele trabalhava como lavador de pratos
para ajudar sua mãe na renda familiar. Já
possuia sua primeira banda, o The Marked (esse nome é
devido a uma sinal de nascença que Billy possui em
uma de suas mãos), que costumava se apresentar em
pequenas clubes e bares da região. A uma certa altura,
ele deixou o emprego e parou de jogar basquete em um time
da região, para proteger seus dedos. Seu ex-colega
Marlo diz que ele não se concentrava em nada, só
pensava em tocar e escrever canções.
Os outros membros da banda eram seus colegas de High School,
Dan Shaw e Ron Roesing. Pouco depois do fim das aulas, eles
se mudaram para a Flórida. Depois de cerca de 20
shows em 9 meses, eles decidem acabar com a banda, e voltam
para Chicago. De volta à sua cidade natal, Billy
conseguiu um emprego em uma loja de discos usados. Foi ouvindo
os discos antigos e de gêneros díspares entre
si como Miles Davis, Stooges, John Coltrane e Jimi Hendrix,
que ele diz ter aprendido que "a boa música
vai além de qualquer concepção de gênero".
Billy Corgan estava determinado a seguir a carreira musical,
e já pensava em formar um novo conjunto.
Em 1987, na loja onde trabalhava, Billy conheceu James
Iha, um americano descendente de japoneses. James estudava
Artes Gráficas na Loyola University, e tinha uma
banda, chamada Snake Train. Com o tempo, James e Billy perceberam
ter gostos e interesses similares, e acabaram por formar
juntos uma banda. James continuou a tocar no Snake Train,
enquanto Billy procurava por outras pessoas interessadas
em se juntar a eles.
Certa vez, ainda em Chicago, Billy estava em um bar chamado
Avalon. Do lado de fora do bar, ele acabou entrando em uma
discussão sobre os méritos de uma banda que
costumava tocar frequentemente ali, chamada Dan Reed Network.
Na verdade, Billy interrompeu a conversa de um grupo de
amigos pra dizer o que achava desse conjunto e uma garota
não gostou nada do que Billy disse e começou
a discutir com ele. Durante a discussão, ela disse
a ele que era baixista, e Billy, depois de lhe dizer que
tinha uma banda e estava procurando por alguém que
tocasse baixo, acabou lhe dando seu número para que
ela ligasse e fizesse um teste com ele.
O nome da garota loira com quem Billy se desentendeu no
Avalon era D'arcy Wretsky-Brown, e depois de um tempo, ela
acabou ligando para ele para uma audição.
No dia marcado, D'arcy estava muito nervosa, e de acordo
com Billy Corgan, ela mal conseguia segurar direito o baixo.
Mas ele gostou de seu jeito e de sua personalidade, e acabou
integrando-a ao conjunto, mesmo sem ouvi-la direito tocando
o baixo.
Nessa altura, Billy e James já tinham algum material
gravado. Juntamente com Ron Roesing - o baterista do The
Marked - eles haviam gravado uma demo tape no estúdio
doméstico do produtor Bob English, em junho de 1988.
A fita foi intitulada de "Nothing Ever Changes"
e a banda ganhou o estranho nome de Smashing Pumpkins. Reza
a lenda que esse nome vem de uma piada que Billy costumava
contar aos seus colegas. Pouco depois dessa primeira experiência
em um estúdio, Ron deixou o grupo. Com uma bateria
eletrônica, Billy e James gravaram uma segunda demo
tape, que possuia músicas como "My Eternity",
"Screaming" e "Bleed", todas escritas
e compostas por Billy Corgan. Essa fita foi dada a Joe Shanahan,
dono do Metro Club, lugar bastante famoso em Chicago.
A primeira apresentação do Smashing Pumpkins
aconteceu no dia 10 de agosto desse mesmo ano, no Avalon,
com cerca de 50 pessoas assistindo. D'arcy já empunhava
o baixo, com Billy nos vocais e guitarra, e James na segunda
guitarra (a bateria ainda era eletrônica). Joe Shanahan
estava presente e gostou da performance da banda, convidando-os
a tocar no Metro Club, com uma condição: que
arranjassem um baterista de verdade.
A partir dessa condição, o Pumpkins começou
a procurar por um quarto membro, enquanto fazia pequenos
shows e começava a ficar conhecido no underground
americano. Um amigo de Billy sugeriu que eles contactassem
Jimmy Chamberlin, um baterista de jazz que fora integrante
do JP & The Cats. Jimmy estava desempregado nessa época,
e aceitou na hora o convite de Billy Corgan para integrar
o Smashing Pumpkins. Ele, inclusive, estava presente em
alguns dos primeiros shows da banda, e tinha achado o conjunto
uma "atrocidade", mas com potencial, e muito boas
letras. Ainda em 1988, em novembro, o Pumpkins - já
com um certo prestígio no circuito alternativo -
conseguiu uma bela chance de divulgar seu trabalho: foram
convidados paraa abrir um show do Jane's Addiction, uma
das bandas de rock alternativo mais importantes dos EUA.
No começo de 1989, o Smashing Pumpkins participou
de um programa especial na rádio WZRD de Chicago,
tocando 11 músicas, para promover o seu futuro primeiro
álbum e uma nova demo tape gravada há pouco
tempo (sem título). No dia 17 de março (Billy
estava fazendo 22 anos nesse dia), eles participam de um
festival chamado "Light Into Dark", que contava
ainda com mais 4 bandas de Chicago. Cada banda teve 30 minutos
para mostrar seu trabalho, e mais tarde uma compilação
desse festival saiu pelo selo Halo Records, sendo que o
Smashing Pumpkins aparece com duas músicas, "Sun"
e "My Dahlia". Em setembro, mais uma demo tape
(chamada "Moon") é gravada e comercializada
pela banda. Pra fechar o ano, eles são convidados
pra ser a banda de abertura do Lemonheads em novembro, e
participam de um show no último dia do ano ao lado
da banda My Life With Thrill Kill Kult.
O ano de 1990 começa com o lançamento de
um vinil (de 7") chamado "I Am One", pelo
selo Limited Potential. O mini disco possui também
a faixa "Not Worthing Asking". Em agosto, tanto
o recém formado projeto paralelo de Billy Corgan,
o Starchildren, quanto o Smashing Pumpkins, fazem apresentações
pelos EUA. Nessa época, o Pumpkins já tocava
algumas músicas que iriam aparecer em sue primeiro
disco, além de covers como "Sookie Sookie"
do Steppenwolf e "Godzilla" do Blue Oyster Cult.
Billy dizia que sua banda tinha influências do movimento
grunge que começava a movimentar Seattle, e de bandas
de hard rock antigas, como Cream, Blue Cheer e Led Zeppelin.
Em dezembro, a banda lança mais um mini disco, intitulado
"Tristessa". Dessa vez o lançamento aconteceu
pela famosa Sub Pop, de Seattle. Foram lançada duas
versões, uma de 7" e outra de 12" (que
possuiam os respectivos B-Sides: "La Dolly Vita"
e "Honeyspider"), sendo que a primeira fez parte
do festejado Sub Pop Singles Club, que era um sistema de
distribuição de singles de bandas ainda desconhecidas
do grande público (um single famoso que fez parte
desse sistema foi "Love Buzz" do Nirvana).
Ainda em dezembro
a banda consegue um bom contrato para o lançamento
de seu primeiro álbum. Esse contrato foi feito
com a Caroline Records, de New York. A banda
queria colocar no mercado seu primeiro disco rapidamente,
e para isso agendaram as sessões de gravação
com o produtor Butch Vig (que também estava
trabalhando com o Nirvana nessa época) no Smart
Studio, em Madison, no estado de Wisconsin, para começarem
ainda em dezembro de 1990. |
Uma das primeiras fotos promocionais
do Smashing Pumpkins, divulgada pela Caroline Records.
|
Nessa época, Billy já havia decidido qual
seria o nome do álbum. Em homenagem à uma
famosa atriz de cinema mudo, de quem sua mãe era
fã, o debut do Smashing Pumpkins iria se chamar "Gish".

"Gish" é finalmente lançado no
dia 28 de maio de 1991, sendo que a banda já estava
em turnê desde o dia 9 desse mês, abrindo os
shows do Gun's and Roses. Em uma entrevista, Billy Corgan
disse o seguinte sobre o debut do Smashing Pumpkins: "O
álbum é sobre medo e anscensão espiritual.
Não é um álbum político, é
um álbum pessoal". Muitos dizem que esse primeiro
disco do Pumpkins só não foi um grande sucesso
comercial pois foi ofuscado pelo lançamento quase
que simultâneo de "Nevermind", do Nirvana
(também produzido por Butch Vig). De qualquer maneira,
a expectativa inicial da Caroline de vender 30.000 cópias
foi superada em muito. Ainda sobre o debut, vale ressaltar
que todas as sessões de bateria foram gravadas em
4 dias, e que "I Am One" e "Tristessa"
- músicas que apareceram nas demos tapes da banda
- foram regravadas e figuram no playlist deste disco.
Depois dos shows ao lado de Axl Rose e cia, o Smashing Pumpkins
parte para uma turnê mundial de divulgação
de "Gish", que duraria 18 meses e quase leva ao
fim precoce do conjunto. Ao longo dessa turnê, foram
começando a aparecer problemas entre os quatro integrantes,
ao mesmo tempo que ficava evidente que eles não se
davam muito bem. Paralelamente à turnê, o conjunto
foi agendando vários shows, aparições
em programas de TV e rádios, entrevistas e matérias
em revistas, etc. Aos poucos, o Smashing Pumpkins ganhava
fama.
Alguns desses eventos que valem ser citados foram:
- Um pequeno show na Reckless Records, em Chicago, no dia
22 de junho. Nesse show a banda tocou a música "Drown"
(que saiu posteriormente na trilha sonora do filme "Singles")
e uma outra inédita, chamada "Jesus Loves His
Babies".
- Um show acústico na Rose Records, onde apresentaram
um cover de Syd Barret, "Terrapin".
- Um apresentação na rádio CMJ RadioNetwork,
no dia 16 de junho.
- Uma entrevista de Billy Corgan na revista Rolling Stone,
do dia 8 de agosto.
- Mais uma apresentação acústica, na
Tower Records, em Los Angeles, no dia 12 de agosto.
Nessa época, a banda já havia acertado um
contrato com a Hut, uma subsidiária da Virgin Records.
O primeiro lançamento pelo novo selo foi uma edição
limitada do single "Siva", que vinha com uma outra
faixa de "Gish", chamada "Windowpaine".
Lançamentos desse tipo serviam para aumentar as vendas
de "Gish", enquanto que o prestígio do
Smashing Pumpkins ficava cada vez maior no circuito alternativo
americano.
Em outubro, a banda fez alguns shows com o Red Hot Chili
Peppers e o Pearl Jam (o primeira foi no dia 16), no Oscar
Mayer Theater em Madison, Wisconsin. No dia 17 de dezembro,
a banda se apresenta no famoso Whiskey a Go-Go, em Los Angeles.
E para fechar o ano de 1991, mais um lançamento pela
Hut Records: um EP chamado "Lull". Este continha
as faixas "Rhinoceros", "Blue", "Slunk"
e "Bye June" (sendo que esta última canção
foi tirada da demo tape "Moon"). A capa desse
EP possui uma parte da letra da canção "Obscured",
que irá aperecer em futuros lançamentos da
banda.
Foto do Pumpkins
tirada em 1992 |
1992 começa
e a primeira aparição do Pumpkins na
mídia é uma matéria na revista
Spiral Scratch. O artigo intitulado "Fuck Off...
We're From Chicago!" conta a trajetória
da banda, traz entrevistas com Billy Corgan e Jimmy
Chamberlin, e uma resenha de "Gish", destacando
o fato de que Billy Corgan ficou cerca de quatro meses
dentro estúdio aperfeiçoando cada canção
deste trabalho. |
Em março, mas uma matéria em uma grande revista,
dessa vez na Guitar Player. Nela, Billy Corgan descreve
o processo de gravação de "Gish".
Ainda em março, enquanto rolava a turnê mundial,
alguns membros da banda faziam aparições especiais,
como no dia 28, quando D'arcy, Billy e James sobem em um
palco junto com o Pearl Jam. Ao lado do grupo de Seattle,
eles tocam "Windowpaine", e um cover do Beatles
chamado "I Got a Feeling".
Em agosto, o Smashing Pumpkins participa do famoso Reading
Festival, na inglaterra. Em setembro, a turnê mundial
chega ao fim. A banda estava exausta, e ao mesmo tempo que
ganharam um razoável prestígio e fama, as
relações entre eles estavam bem desgastadas.
Jimmy Chamberlin se revelara um alcólatra problemático,
e James e D'arcy - que por algum tempo foram namorados -
não se suportavam mais. Billy Corgan também
estava no limite.