|
 |
O que andamos ouvindo?
Na vitrola de V.M.
Explosions In The Sky / "Those Who Tell The Truth Shall Never Die" (2001) e "The Earth Is Not A Cold Dead Place" (2003): O gênero pós-rock chegou em seu auge com "Rock Action", do Mogwai. A partir dali, as coisas começaram a se dirigir para uma certa repetição, com bandas fazendo discos que se assemelhavam muito. Com exceção do brasileiro Hurtmold, que sabiamente usou referências locais para forçar uma identidade, bandas como Tortoise e o próprio Mogwai enfrentam um grande desafio de encontrar saídas em um formato que forjaram.
Pois bem: amigos, não desistamos. Os texanos do EitS honraram a terra sagrada que representam e, mesmo influenciados pelos citados escoceses, gravaram dois discos que ao mesmo tempo que convergem para os conceitos desse tipo de som, são pura emoção e sensibilidade. Isso trouxe muita intensidade ao resultado: as guitarras parecem vivas, comunicam-se diretamente com o ouvinte, trazendo para si a função do vocal inexistente. Os discos requerem uma audição completa, início ao fim, assim como se acompanha a projeção de um filme. E, por mais incrível que pareça, a satisfação não demora a chegar. Se a música instrumental podia ser questionada pela impessoalidade, isso já não vale mais. Irresistível.
Twin Peaks (primeira temporada) (2004): Ôpa! Uma série? É... não é música, mas minha empolgação é tamanha que não agüento sem recomendar. A Paramount nos brindou com um estojo de luxo com 04 DVDs, tudo muito bem reunido e com excelente qualidade, da embalagem ao conteudo dos discos. Eu devia ter uns 10 anos quando a Globo passou a série de forma relaxada e lembrava vagamente de alguns episódios que assisti. O que mais gosto naquilo é a ambientação do local (que é bem próximo de Seattle!): umidade, chuva, céu acinzentado, pinheiros. Personagens com camisa de flanela. Dale Cooper bebendo café feito condenado. Hoje, com mais discernimento e com outros filmes do Lynch na bagagem, estou me divertindo com a bizarra comunidade de TP. Sério, o que a ABC tinha na cabeça quando aceitou colocar aquilo no ar?
O único contra é o fato de a 2a. temporada estar trancada em todo o mundo. A Paramount não se resolveu e existem boatos de ela sair em DVD apenas em 2005. Você assiste à 1a. temporada e fica na tortura sem quando (ou se) suas respostas serão respondidas. O negócio é garantir a 1a. temporada na prateleira (que, como todos sabemos, em algum tempo desaparecerá das lojas) e torcer para que o espírito BOB nos permita colocar a mão na 2a. temporada.
postado por V.M. em 30.9.04
Na vitrola de Fabricio Boppré
"Lost in Translation" & "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" soundtracks
Trilha sonora massa, antes de ser um punhado de músicas legais, é na minha opinião aquela que se encaixa no filme, formando com suas imagens uma coisa só, como se um não tivesse graça ou sentido sem o outro. Ela completa ou potencializa através da audição aquilo que o sentido da visão está absorvendo e o cérebro está interpretando, dando maior prazer e significado a este ato mágico que é assistir a um bom filme no cinema. Essa é uma percepção que somente diretores muito feras conseguem deixar na cabeça dos espectadores, sabendo escolher as canções e os seus momentos no filme (seja em uma cena-chave, ou mesmo nos créditos finais). Michel Gondry e Sofia Copolla (não podia ser diferente, ela é filha do homem) têm essa manha, e os resultados de "Encontros e Desencontros" e "Brilho Eterno de uma Mente sem Memória" nesse sentido são inesquecíveis. O cara sai do cinema com a idéia fixa de ter as trilhas sonoras em casa, para ouvir e relembrar do filme sempre que quiser. A trilha do filme de Gondry ressalta o seu clima fantasioso com o Polyphonic Spree e a excelente atuação de Jim Carrey com Everybody's Gotta Learn Sometimes (gravada originalmente por uma banda chamada Korgis) na voz do Beck, uma música que traduz o desespero de Carrey em melancolia bela e pura. Sensacional. Já a trilha sonora do filme de Sofia é recheada de Jesus and Mary Chain, Death in Vegas, Air e My Bloody Valentine. Mas o ponto alto é Kevin Shields (do MBV) solo com "City Girl", cujo clipe, com a personagem de Scarlett Johansson caminhando placidamente desorientada e estupefata por Tóquio, já vale a aquisição do DVD. De quebra, tem uma hidden track com Bill Murray brincando de karaoke. A cereja do bolo.
Sparta/"Porcelain":
Confesso que o Sparta desceu bem mais redondo do que o Mars Volta, cujo desafio sonoro ainda não consegui decifrar totalmente. Ouvindo "Porcelain", ou o primeirão chamado "Wiretap Scars", dá de sentir que o diferencial do At the Drive-In (banda cuja dissolução em 2001 gerou o Sparta e o Mars Volta) estava realmente em Omar Rodriguez e Cedric Bixler, justamente os dois que fundaram o Mars Volta. Mas os outros três caras, Paul Hinojos, Jim Ward e Tony Hajjar têm seus méritos, e eles aparecem bem principalmente neste segundo álbum. O resultado é um ATD-I mais reto, mas quase tão possante quanto. Pode não ser tão bom quanto o Mars Volta, mas você escuta e se diverte quase que de imediato, ao contrário de sua banda irmã. O ideal, na real, seria o At the Drive-In continuar sua brilhante existência (Omar e Cedric poderiam gravar chapados a vontade em seus discos solos e no projeto que ambos já possuíam juntos antes, o De Facto), mas como isso não é possível, então por enquanto fico com o Sparta - até que meus dois neurônios compreendam enfim o Mars Volta (em breve eu chego lá!).
postado por Fabricio Boppré em 27.9.04
Na vitrola de Ana
Smashing Pumpkins - "Adore"
É bem coisa de véia mesmo. Eu nunca fui muito fã de Smashing Pumpkins; na verdade até nem ouvia direito porque achava todos eles (exceto o morto) intragáveis. Era o Mellon Collie e só. Mas como o tempo passa e tudo muda, e algum dia na sua vida um mortal comum acaba tendo acesso à internet rápida, baixei e... nunca tinha me tocado que esse disco era maravilhoso. X-)
postado por Ana em 23.9.04
Na vitrola de V.M.
Liars / "They Were Wrong So We Drowned" (2004): Outra anomalia da cena nova-iorquina atual. Esqueça referências retrôs e terninhos com all-star. O Liars correu por fora e aplicou-se no noise, num rock que não prima muito por um formato convencional de canção. No novo disco, embrenharam-se em contos e lendas sobre bruxaria européia e dali tentaram traduzir as maldades seculares em música. Conseguiram. O álbum não te pega pela genialidade do timbre ou pela riqueza melódica. Não, o que te atrai é a exalação de uma sensação maligna, algo que nem os álbuns de black metal conseguem fazer tão bem. Muita eletrônica e repetição, muita sujeira e o som chega exatamente onde a proposta sugere. Se esse disco tivesse existido antes do filme "A Bruxa de Blair", ele seria a trilha perfeita.
postado por V.M. em 15.9.04
Na vitrola de Fabricio Boppré
Stone Temple Pilots/"Unplugged, b-sides and more":
Na realidade esse disco não existe; peguei aquelas b-sides que apareceram recentemente na net, aquela inédita que saiu no greatest hits, algumas versões acústicas diversas, o KROQ's Almost Acoustic X-Mas de 1994, o acústico de 1993 para a MTV e a apresentação da banda no David Letterman de 1994, e formei esse bootlegzinho de 29 faixas que, modéstia a parte, ficou muito legal. Só fui reparar no STP depois do 3º disco, confesso que antes achava uma banda sem muito a oferecer... mas hoje gosto muito da discografia toda deles. Tem seus altos e baixos, mas é sólida, tendo ao menos um disco excepcional ("Tiny Music") e uma bela despedida com "Shangri-La Dee Da" (respeito muito bandas que sabem a hora de encerrar atividades, e o fazem em alto estilo). Os destaques ficam com a acústica ao vivo Creep (melhor do que a original feita em estúdio, na minha opinião), uma versão ao vivo matadora de Unglued (a minha preferida do STP), os covers de Dancing Days e Andy Warhol (Led e Bowie respectivamente), e a surpreendente b-side Samba Nova.
PS.: Quem quiser o bootleg em mp3, é só entrar em contato, damos um jeito!
postado por Fabricio Boppré em 10.9.04
Na vitrola de Alexandre Luzardo
The Trash Can Sinatras - I've Seen Everything [1993]
Levei dez anos para ouvir essa banda. Esses tempos tava tentando puxar da memória músicas legais para resgatar via p2p (assim que fui buscar o Jellyfish, entre várias outras). Daquelas que se ouve umas poucas vezes e nunca mais. E daí veio Hayfever do Trash Can Sinatras, música legal, mas de uma banda que eu imaginava inexpressiva, afinal, pouco se destacou. Eu queria só Hayfever mas acabei achando um álbum inteiro. E não é que o disco é excelente? Belos arranjos e singeleza nas melodias, mas sem coitadismos e choradeiras. Fazendo um exercício para tentar situar, compararia a um The La's mais elaborado, ou quem sabe um Crowded House sem o peso de ter sido uma banda de sucesso nos anos 80.
postado por Alexandre Luzardo em 2.9.04
|
|