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O que andamos ouvindo?
Na vitrola de V.M.
Wolf Parade / "6 song EP" (2004), "Wolf Parade" (single - 2005): MAIS UMA banda nova que pode tomar os holofotes em 2005. Mas dessa vez, os caras já entram em campo com um gol de crédito: são do Canadá, são amigos dos caras do Arcade Fire, fazem o som com toques dos anos 80 e provavelmente vão agradar a turma que curte Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs e Bloc Party. Nada que impressione, né? Concordo. Mas bem, o que eu gostei nessa banda é o fato das coisas parecerem naturais, enquanto as outras três últimas bandas citadas são mais espalhafatosas. Além disso, eles têm bom senso ao utilizar os tecladões, com volume alto e uma certa subversão. O vocal dos carinhas - como não podia deixar de ser - remetem aos Davids Bowie e Byrne. As faixas são bem eficientes, o ritmo é bacana. Enfim, parece um lance meio pop, mas com miolos - se é que me entendem. Para completar tem toda uma sujeirinha, uma visceralidade (se é que esse termo se encaixa mesmo aqui) que remete a uma banda suando a beça numa garagem. Comparações como Arcade Fire já surgiram, mas não se deixem enganar: o Arcade Fire é bem mais intenso, seu som é coberto de uma grandiosidade. O Wolf Parade está mais para a garagem mesmo. Los Hermanos / "4" (2005): "4" é belo mas é triste pacas. É arrastado. Mas ouso afirmar (e tenho convicção) que o disco é uma lance meio sem precedentes na nossa música - é uma águia em pleno vôo. Sim, é menos eficiente que o "Bloco" e menos brilhante que o "Ventura". Mas a banda consegue mais uma vez soar como apenas ela consegue, percorrendo panoramas distintos com muita propriedade. O que antes era visto como uma aventurazinha do Camelo em "Samba a Dois" hoje é naturalidade pura em "Fez-se Mar". E as canções do Amarante são destruidoras, sempre distintas entre si mas amarradas por uma certa melancolia, um nonsense que já virou marca registrada. "Paquetá" é uma delícia, "O Vento" é um rubi no meio dos cacarecos das FMs, as melodias de guitarras de "Primeiro Andar" levam troféu de melhores sons de 2005. A turma de certa forma torceu o nariz para as mais lentas, mas para mim, tudo ali é muito natural e sincero. E, além dessas coisas intangíveis, o resultado é bom, flui bem - e dá vontade de ouvir de novo quando termina. Difícil mesmo é encontrar concorrentes a altura no país. Talvez eu esteja mal informado nessa área, mas juro que ainda não tive o prazer de achar alternativas. Os barbudos reinam supremos.
postado por V.M. em 29.8.05
Na vitrola de Fabricio Boppré
Entre uma e outra audição do "Howl", eu tento ouvir algumas outras coisas, para não ficar bitolado (não, a fissura não passou ainda). Dois discos que se destacaram recentemente: Okkervil River - "Black Sheep Boy": Já havia sido comentado na lista, mas eu não tinha tido oportunidade de ouvir na época. E depois que ouvi, devo concordar com todos os elogios que a galera fez. Excelente. Ocean Colour Scene - "Moseley Shoals": Bandinha veterana, mas acho que esse é o primeiro disco deles que eu ouço inteiro. Achei legal também, apesar de que em um certo momento a influência de Stones me cheirou a plágio: 40 Past Midnight é muito parecida com Let's Spend the Night Together. Descontando isso, o disco é muito bom.
postado por Fabricio Boppré em 22.8.05
Na vitrola de Alexandre Luzardo
Supergrass - Road to Rouen [2005]Ainda estou nas primeiras impressões, a banda está bem mais relaxada, tranquila, com arranjos mais suaves, muita coisa acústica. Enfim, bem interessante, até falta um pouco daquela vibração "dedos na tomada" dos primeiros discos, mas sobra competência. Um disco bem inspirado, eu diria. Sigur Rós - Takk [2005]Tinha lido por aí que esse disco seria mais simples e tal, e então pensei "hmmm, Sigur Rós for Dummies! É exatamente o que eu precisava!" Nunca ouvi muito Sigur Rós, então peguei esse Takk achando que agora seria a minha chance de começar com algo mais fácil. Gostei, mas não me pareceu muito diferente do pouco que eu já tinha ouvido, aquela espécie de 'paisagismo musical' bem própria deles, cheio de nuances e sutilezas. Tem todo o meu respeito e admiração, ainda que não seja um tipo de música que prenda muito a minha atenção. Architecture in Helsinki - In Case We Die [2005]Nem sei de onde saiu essa banda, da Finlândia eu sei que não foi, apesar do nome. É bem interessante, combina um instrumental elaboradíssimo, intrincado e imprevisível com melodias infantilóides e açucaradas. É pop ao extremo, parece uma coletânea de hits. Nem todas as músicas convencem, mas é um disco perfeito para alegrar um dia ruim, nem que seja para rir dos momentos mais esdrúxulos e inusitados.
postado por Alexandre Luzardo em 18.8.05
Na vitrola de Chico Marés
Kaizers Orchestra - Ompa Til Du DorNão teve para ninguém: esse disco de 2001 foi o que eu mais ouvi nos últimos tempos. Agora o cidadão se pergunta "que diabos é isso???" Entende-se: dificilmente uma banda norueguesa cantando em sua língua natal se tornará conhecida do público brasileiro e internacional, mas os motivos são totalmente furados. Em primeiro lugar, qual a diferença, para a maioria do público, entre ouvir algo em inglês ou norueguês? Grande parte do público não fala nenhum dos dois e mesmo assim a gente tem que aturar uma enxurrada de bandas inglesas e americanas medíocres aqui no Brasil. A única maneira de divulgar uma banda desse calibre é no boca-a-boca ou na internet: por exemplo, emprestei esse CD para um amigo meu na Irlanda e o negócio virou febre na cidade. Então sinto-me na obrigação de fazer a "divulgação" desses caras por aqui também. Voltando a pergunta inicial, essa banda norueguesa une guitarras que fazem seus quadris mexerem sem se importarem muito com notas, um baixo-caixão que hipnotiza por sua crueza e uma sanfona onipresente que torna o disco único. Uma receita tão estranha quanto difícil de definir. As letras - mesmo que vocês não as entenda como eu, que me viro pelas traduções em inglês em um encarte separado - todas são sobre mafiosos, roletas russas, piratas, soldados e outras coisas divertidas, ainda que bem distante das vidas comuns dos cidadãos que ouviram o disco. O resultado são canções tão estranhas quanto divertidas como a viciante faixa-título, o polka-rock "Bak et Halleluja", a dançante "Kontroll pa Kontinentet" e a emocionante "Fra Sjafor til Passasjer", uma súplica de um mafioso traira pedindo clemência ao chofer que o dirige à sua execução. Como obviamente você não vai achar esse disco no Brasil, procure em um p2p da vida, baixe sem pensar e divirta-se com as aventuras do Padre Martin, do sêo Kaiser, da Constanse e, obviamente, do safado jurado de morte Sven Korner, o grande vilão desse disco conceitual. Recomendadas: "Ompa Til Du Dor", "Bak et Halleluja", "Kontroll pa Kontinentet" e "Mr. Kaiser hans Constanse og Meg" Nota: 9
postado por Chico Marés em 10.8.05
Na vitrola de V.M.
Sabe que até que esse lance do Fantômas do Mike Putton (copyright Ana D.M.) não vir mais não foi tão mal? Vou deixar de gastar uma bolada e ainda reafirmar a necessidade de ver o Arcade Fire no Tim. E acho que vou perder o Los Hermanos aqui em POA na semana que vem. Merda. Mas vamos ao que interessa. Dungen / "Ta Det Lugnt" (2004): Esses suecos vêm a esse tal de Campari Rock em que eu iria se eu morasse na Terra da Garoa (mais pelo Dungen e pelo Apside - MC5 dispenso). Mas como não é o caso, o disco está indo bem aqui, quebrando o galho. Abstraindo o fato dos caras cantarem no dialeto deles lá (que é a mesma coisa que ouvir o Rammstein, por exemplo), o efeito do roque deles é universal mesmo. É mais ou menos um rock sessentista tocado no porão duma casa, com instrumentos adicionais para dar corpo, mas com efeito direto e ROQUEIRO. Então bandas como o Weezer e o Oasis estão correndo para acertar discos de gancho (o último principalmente) mas o disco do Dungen funciona muito melhor. Não tem aquele ranço de som de arena, de solinho previsível. E também não é um lance rasteiro como o Hellacopters ou o Hives. Foi uma surpresa. Primal Scream / "XTRMNTR" (2000): Quando os prédios do World Trade Center vieram abaixo, a trilha-sonora para o momento poderia tranqüilamente ser esse disco. Tava lá, pegando pó na estande. Andei lendo uns lances sobre o Kevin Shields do My Bloody Valentine e me lembrei que ele tinha produzido algumas faixas desse disco do Primal Scream (ele daí se incorporou à banda e acabou produzindo também grande parte do disco seguinte). Bom, não tem nada de MBV, exceto a predileção por massarocagem sonora e volume no talo. Na real, o efeito é o de um míssil Napalm caindo no recinto. Mistura de funk, punk, dance e principalmente eletrônica. Baixão ferrado, bateria misturada com eletrônica e guitarras vorazes. Nunca considerei o Primal Scream uma banda brilhante mas reconheço que enquanto o Trent Reznor anda se quebrando para fazer o industrialzão mais pesadão de todos ou o Sepultura vai gastando cordas para tentar emular o colapso sonoro, esse disco é meio que a catástrofe condensada em música. Junto com o último do Liars, forma a dupla de discos malditos aqui de casa. Falta agora ouvir o CD do Sufjão, gurizada. É elogio por tudo quanto é lado, acho que vou acabar não achando bosta nenhuma sobre o "Illinoise". Mas lembro que no ano passado o "Funeral" estava recomendadíssimo quando eu escutei e não deu erro. Hmmm... tenho de ouvir o Sufjão.
postado por V.M. em 10.8.05
Na vitrola de Fabricio Boppré
Hurtmold - "Mestro": [Trecho retirado do Gordurama] "(...) O Hurtmold é uma das maiores bandas da face da Terra. Como eles conseguem isso? Na verdade é simples. Primeiro, abrem mão de valores arraigados a esse ou aquele lugar -- 'música instrumental', saca? Sua música é expatriada e vale tanto para um office-boy perdido na barriga de São Paulo como para alguém numa plataforma de extração de petróleo no Golfo do México. (...)". Acredito que esse é o tipo de elogio máximo que um artista da música pode receber (não necessariamente o lance da maior banda do mundo, mas sim a questão da "música expatriada"); pelo menos eu, se fosse músico, gostaria de ler algo assim sobre meus discos. E eu concordo plenamente com essa opinião do Diego Fernandes. De "Et Cetera" até esse "Mestro", o Hurtmold é só música brilhante, que evolui, fica melhor, mais irrotulável, mais personificada. Aonde esses caras vão parar? Radiohead - "Hail to the Thief": Na época do lançamento, ouvi muito esse disco, que me impressionou pela riqueza e pelo fôlego que o Radiohead mostrou que ainda tinha para fazer, mais ou menos na linha citada acima do Hurtmold, música universal, diversos níveis acima de todo o resto. Depois ficou um pouco no limbo, mas tava ouvindo de novo esses dias, e cara, que disco EXCELENTE. E nessas últimas audições, descobri que na verdade a melhor música do "Hail to the Thief" é Where I End and You Begin. Black Rebel Motorcycle Club - "Howl": Quando, numa primeira e não muito atenciosa audição, você já gosta de um disco, quer dizer que ele promete. A sonoridade tá diferente, com influências que passeiam pelos estilos americanos clássicos: gospel, soul, blues, além do rock 'n' roll, claro. Tem uma música ali pelo meio do disco, chamada Promise, que é daquelas quase perfeitas. Esse vai tocar bastante nos fones nos próximos dias, e fiquei até na pilha de fazer uma seção para o BRMC aqui no site.
postado por Fabricio Boppré em 4.8.05
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