Na vitrola de V.M.
Pelican / "The Fire In Our Throats Will Beckon The Thaw" (2005): Escrevi sobre essa banda na lista, fazendo a seguinte comparação perigosa: "O Pelican é o Explosions In The Sky do metal". Perigoso, pois quem curte o EitS vai atrás de emoções à flor da pele, coisa com a qual o Pelican não se relaciona propriamente. Na verdade, trata-se de uma banda de metal que tenta fugir do clichê do gênero, automaticamente cruzando com instrumentação comum à música rock, ou melhor até, ao pós-roque (veja uma imagem dos caras na net: eles parecem pessoas normais ao invés de usarem couro e tarrachas). Eles certamente começaram impulsionados pelo Isis, que embora tenha todo seu estilo particular, ainda está bem enraizado no metal tipo Neurosis e Godflesh. Mas o Pelican, por sua vez, começou a pincelar nesse disco uns pós-roques na tradicional barricada de guitarras, criando um resultado para lá de interessante. São faixas instrumentais (não se ouve um pio em momento algum), longas, mas inspiradas, que dão personalidade à banda, estritamente ligadas ao rolo compressor da pesadeira mas buscando um algo mais. Como banda de pós-roque, passam despercebidos, mas como banda de metal, são uma proposta diferenciada e bem interessante.
Sufjan Stevens / "Illinois" (2005): Ok Chico. Agora Foi. Disco queridinho de 2005 até agora, é mais uma investida da midia "alternativa" em artistas localizados no folk. Não conhecia esse cara até o início do foguetório, mas posso aceitar boa parte das manifestações positivas. Em primeiro lugar, Sufjan Stevens parece um cara que gosta muito de escrever canções. Mas ele não fica nessas de eu e meu violão: ele gosta de encher as faixas com arranjos baseados em vários instrumentos. Isso acontece de uma forma bem convincente, uma vez que as músicas soam muito bem nos ouvidos, cheias de idéias e personalidade - na maioria dos casos, a turma do folk já se contenta com um violão e um banquinho. Os vocais femininos que geralmente dão base para a voz suave do compositor são ótimos, muito bem encaixados. É um disco com resultado pomposo, mas com bom gosto. Só fiquei imaginando uma analogia com o Brasil: o disco faz parte dos planos que Stevens tem de gravar um disco para cada estado norte-americano. Como seria isso no Brasil? Um cantor aí gravando um disco baseado em Tocantins, outro na Bahia e outro em São Paulo?
Wilco / "A Ghost Is Born" (2004): Já aquecendo as turbinas para o TIM Festival. Disco que deu o que falar na época e meio que não desceu delícia aqui. Acho ele meio que uma colcha de retalhos, onde a banda deixa transparecer a ausência do Jay Benneth. Fica tudo na mão do Jeff Tweedy e, mesmo que saibamos que o Wilco não é o tipo de banda preocupada com compromissos comerciais, há uma volta natural ao folk tão enraizado na banda. Aquela desconstrução sensacional de "Yankee Hotel Foxtrot" não aparece aqui, por sinal, o êxito do álbum anterior sofre uma quebra repentina, onde "A Ghost Is Born" entra como proposta inusitada, que não evolui a partir de "YHF" nem volta ao conforto dos discos anteriores. Há aquela idéia de sujar a coisa toda com ruidinhos e esquisitices, mas várias faixas são bastante convencionais no que se refere a Wilco. Enquanto em "YHF" as composições realmente chegavam num contexto indie e, por conseqüência, sofriam uma série de manipulações, em "AGiB", as faixas parecem prontas no meio do processo, recebendo apenas aquele tratamento extra para diferenciar o Wilco de qualquer outra banda folk (ou do que eles eram antes). Uma subversão um tanto burocrática. Ainda assim, é um álbum de excelentes texturas e algumas músicas são especiais. "At Least That's What You Said" tem grandes momentos de guitarras, sujonas, quase um descarrego. "Spiders (Kidsmoke)" tem aquela brincadeira de ficar na batida quase eletrônica para descambar nos guitarraços show do refrão. E "I'm A Wheel" tem letra nonsense, energia - eu espero que eles toquem ela no Rio. Pena que algumas faixas clamam por mais brilhantismo, atributo que o Wilco despejou às ganhas no disco anterior.
postado por V.M. em 14.9.05