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O que andamos ouvindo?
Na vitrola de Ana
Mudhoney - "Under a Billion Suns"Quando surgiu o link pra esta coisa, fui *seca* no disco. Resultado: decepção. Não foi daquelas decepções homéricas, como se eu estivesse esperando o Brad Pitt e aparecesse o Mr. Bean, mas estava esperando algo diferente. Os caras estão enfraquecendo a influência de punk e reassumindo a tradicional veia metaleira dos cuecas grunges [motivo que ironicamente fez o Mudhoney se distinguir do resto das bandas que partiram do Green River], mas o problema é que isso eles não absorveram totalmente, então acontece que não é nem uma coisa nem outra. E pela sonoridade deles nos shows de abertura que fizeram pro Pearl Jam, pelo menos naquele que eu vi, repito, estava claro que isso ia acontecer. Não é ruim, nem é difícil de digerir, mas, é, eles já fizeram coisas mais legais.
postado por Ana em 29.1.06
Na vitrola de Fabricio Boppré
Andei dando umas escutadas em alguns discos que devem ser lançados nos próximos meses (curiosa a naturalidade com que fazemos isso hoje em dia)... Isobel Campbell And Mark Lanegan - "Ballad Of The Broken Seas"Por enquanto, tô achando muito meia-boca. Ainda não vi nada que justifique os dois gravarem um disco juntos - sendo que o simples fato de serem duas vozes fenomenais por si só para mim não é suficiente (quero dizer, às vezes até pode ser, mas nesse caso não está sendo). Em outras palavras: caso haja boa música ali, ainda não assimilei. Mas vou dar outras chances, devido à grande admiração que nutro pelo Lanegan. Mogwai - "Mr. Beast"Novamente uma opinião inicial, de um disco ainda não totalmente degustado: tá me lembrando muito o "Happy Songs for Happy People". Logo de cara, percebe-se que se trata de um álbum mais pesado, de guitarras mais massivas, mas a similaridade que eu vejo entre os dois é devido a impressão inicial deste ter me lembrado muito a sensação deixada pelas primeiras audições do "Happy Songs for Happy People" (e que acabaram permanecendo verdadeiras): uma primeira música sobrenatualmente boa, que te deixa empolgadíssimo para escutar o resto, mas um resto sem muito brilho. Talvez o problema continue sendo o alto nível de exigência que qualquer um passa a ter com um banda que lança uma sequência de três disco magníficos, como fez o Mogwai em seus primeiros LPs. Talvez não. Nos próximos dias, quero ver se o álbum vai crescer ou se vai efetivar-se como um mero irmão mais pesado do "Happy Songs for Happy People". Pelo menos uma conclusão acho que já dá de tirar: uma banda brilhante o Mogwai não é mais. Só reforçando: são primeiras impressões, e estou registrando-as pois sempre existe a possibilidade de um disco vir a te surpreender mais tarde, daí é interressante o exercício de tentar compreender o porquê disso (geralmente o motivo é o mesmo). Mas por enquanto, tô achando que houve um engano aí, o Lanegan tinha que gravar um disco com o Mogwai e a Isobel, bem, sei lá, que voltasse pro Belle & Sebastian ou lançasse um disco com o Sufjan Stevens.
postado por Fabricio Boppré em 29.1.06
Na vitrola de V.M.
Eu avisei que a temporada estava em alta, agora agüentem. Só coisa fina: Lightning Bolt / "Hypermagic Mountain" (2005): Quando escrevi minha lista de sete melhores de 2005, citei um equívoco do Lightning Bolt em compor a receita de seu mais recente disco, substituindo-o por "Suspended Animation" no trono de melhor disco de noise do ano. Mas após recentes e sucessivas escutadas, reavaliei minha opinião: "Hypermagic Mountain" não só é uma ótima seqüência de seu anterior, "Wonderful Rainbow", como ameaça seriamente a supremacia do aclamado terceiro disco da dupla (podendo até disputar o título com o disco do Fantômas). As primeiras e enganadoras audições revelaram uma mera continuação do antecessor: noise explosivo, vocais imersos em distorção e inteligíveis e claro, o já esperado massacre sonoro. Entretanto, melhor digerido, o álbum revela qualidades que tornam a audição cada vez mais atraente. Enquanto aventuras sonoras de outrora às vezes caíam em grandes momentos de barulhos desfocados, as faixas novas praticamente não erram o alvo: têm endereço certo, levadas por melodias (no caso deles, óbvio, RIFFs destruidores) imersas em inconfundíveis camadas de barulho e frenesi. "Captain Caveman" é um exemplo notável: bateria, vocais e baixo conversando certinho entre si. A interação entre os vocais e a sonzeira está perfeita: basta perceber que no final de "Birdy" os berreiros de megafone emulam solitários a sua melodia, entrando sem cerimônias em "Riffwrath", trazendo consigo a tormenta sonora esperada. "Hypermagic Mountain" mostra-se mais bem estruturado e desenvolvido, e suas faixas são mais palpáveis, como "Dead Cowboy" (trilha para faroeste sangrento do novo milênio) e "Magic Mountain", que faz jus à associação do som da banda a um evento de corridas NASCAR. Nada como um dia após o outro. Broken Social Scene / "Broken Social Scene" (2005): Se fazer as coisas funcionarem em uma banda com quatro ou cinco caras nem sempre é uma tarefa fácil, o que dizer de um coletivo com mais de dez integrantes? Parece mentira, mas Kevin Drew e Brendan Canning, os líderes do Broken Social Scene, aliados ao produtor David Newfeld, conseguiram a façanha. De novo. Com a tarefa de produzir o sucessor de um elogiado trabalho ("You Forgot It In People", de 2003), os caras tiveram sucesso em produzir mais um conjunto de canções que honram a tradição do coletivo canadense: fortemente influenciadas pelo melhor que o indie rock já produziu, saturadas pelos mais diversos instrumentos, numa composição de arranjos que prima pelo privilégio às idéias e ignorância aos riscos com o exagero. Ali convivem harmoniosamente violinos, sopros, violões, vocais masculinos/femininos e muitas guitarras. Mesmo que em alguma faixa o ouvinte possa confundi-los com bandas tão dissociadas como o New Order e o Wilco, o Broken Social Scene oferece uma alma própria, aos moldes do que vem surgindo de mais bacana na cena canadense. "Íbi Dreams of Pavement (A Better Day)" tem ares grandiosos, misturando o mais puro indie rock com arranjos de saxofones, com vocais que lembram Trail Of Dead. "7/4 (Shoreline)" e "Swimmers" são referências de como a banda sabe usar bem os vocais femininos em suas canções, contando com nomes como Leslie Feist na lista de contribuições. Com faixas bastante distintas entre si, o álbum ainda fecha com um quase-épico, "It's All Gonna Break", que recompensa sua longa duração com bons interlúdios de sopro. Um disco redondo e pronto para ser degustado em sua totalidade. Broadcast / "Tender Buttons" (2005): Embora tenha sempre lido muitos elogios a respeito da música do Broadcast, nunca tinha me dado o privilégio de conhecê-los melhor. O aclamado "Ha Ha Sound " já tinha se destacado como um dos bons discos de 2003 e, apesar de eu nunca tê-lo escutado, percebia que volta e meia o disco referenciava-os como uma banda a ser descoberta. As primeiras críticas que li a respeito do recente "Tender Buttons" mencionavam o esfriamento dessa magia, resultante da ausência do guitarrista Tim Felton que reduziu a banda a uma dupla. Mas confesso que para um incauto que está analisando o trabalho a partir do disco novo, tais críticas desanimadoras não refletem o que as audições revelaram. O disco ficou na mão de duas entidades: Trish Keenan, a vocalista que também responde pela imagem da dupla (é ela na capa do disco) e James Cargill, o cara que teve de se desdobrar para compensar a ausência de um membro. Trish tem uma voz que lembra alguns momentos da Kim Deal, mas usa-a de forma semelhante à Nico, do Velvet Underground. Cargill a acompanha com uma parafernália eletrônica remanescente do Kraftwerk. O resultado cruza a linha do eletrônico e chega nos mesmos efeitos daquilo que a gente costuma encarar como rock. Pense num "TheFutureEmbrace" que deu certo, pense numa sonoridade mais direta e eficiente que a do Stereolab. Não deixe de ouvir o vocal reto de Trish ritmado por sonoridades eficientes que lembram um Gameboy em "America's Boy" e "Corporeal". Deixe-se levar pelo pop incorrigível de "Michael A Grammar". Porque nunca é tarde para se descobrir bandas massa. E o pior é que ainda tem mais.
postado por V.M. em 23.1.06
Na vitrola de V.M.
Tudo bem, gurizada? Post grandão: Eluvium / "Talk Amongst The Trees" (2005): Desde que o My Bloody Valentine virou a cabeça de muitos guitar lovers com seu "Loveless" e tirou o time de campo a contragosto do público, uma cruzada por um substituto à altura se auto-instaurou. Alicerçado em guitarras, "Loveless" usou a idéia de samplers e loops em sua concepção, distorcendo um pouco o tradicionalismo guitarrístico para construir sua sonoridade de texturas sobrepostas. Curiosamente, os seguidores mais respeitados de Kevin Shields se notabilizaram por utilizar muito mais a eletrônica do que as guitarras, sendo alguns deles músicos de notebooks, onde a lição de sobreposição de loops deixou muito mais legado do que as seis cordas. O austríaco Christian Fennesz talvez seja o maior nome entre eles, o francês M83 engrossa a lista, mas Matthew Cooper não ficou para trás. Seu som flerta com pós-rock (é mais um filho do selo Temporary Residence), mas é na fixação por aglomerações de ruídos misturados com melodias melancólicas em que se baseia. Com canções longas e estritamente instrumentais, "Talk Amongst The Trees" tem duas grandes qualidades: o uso de belas melodias e a transposição sobre o gênero eletrônico, chegando quase no que o rock shoegazer oferece. Combinados, esses pontos dão sentido a canções loopeadas, mascarando o fato de uma faixa ficar praticamente repetindo trechos durante oito, dez minutos. Disco para ouvir no inverno (ou à noite), com tempo suficiente para deixar as faixas tomarem forma, aceitando as repetições como bases para formação de uma melodia maior. LCD Soundsystem / "LCD Soundsystem" (2005): James Murphy foi agraciado com muitas referências positivas em 2005. Seu álbum esteve em muitos top 10, seu disco foi aclamado como um divisor de águas na dance music. Apontado como uma grande simbiose entre eletrônica e rock, "LCD Soundsystem" agitou muita festa mundo afora com seu disco-punk, dando continuidade a uma série de singles reverenciados desde o início da década. É esquisito entender a boa repercussão de um disco que não reflete assim tantas qualidades. Murphy vai bem na escolha dos botões que pressiona, realmente chegando em faixas que flertam assumidamente com o rock ("Movement") e em alguns casos mais dançantes, com bons ganchos sonoros ("Tribulations"), honrando o rótulo disco-punk. Mas no todo, é um disco que não pesa muito na atratividade, suas faixas têm efeitos ponderados e algumas simplesmente não convencem. Não vi o disco citado com #1, justiça seja feita, mas creio que pelo o que foi escrito a respeito da genialidade de seu autor, "LCD Soundsystem" foi pra lá de bonificado. Tapes N' Tapes / "Tapes N' Tapes" EP (2004) + "The Loon" (2005): O ano de 2006 já tem sua primeira bandinha querida por todos os blogs insignificantes que ninguém lê (mas dos quais às vezes baixa-se algum MP3). Uma das coisas legais da internet em 2005 foi a chance de conhecer bandas novas e independentes e colocá-las no mesmo patamar de comparação com as bandas calejadas. Afinal de contas, a qualidade de gravação dos discos e os projetos gráficos dos encartes já estão todos todos emparelhados. E a divulgação/acessibilidade das bandas independentes são até mais interessantes que a das majors. O Tapes N' Tapes é apenas mais uma banda que faz música influenciada pelos anos 90, de forma bem despojada, deixando-se levar pelo vibe que está no ar. Disso não saem coisas muito fundamentais, obviamente, mas rendem momentos ganchudinhos que estão fazendo a alegria de quem gosta de efeitos rápidos. Em seu EP de 2004, o Tn'T lembra o Pavement e o Unicorns, com faixas desleixadinhas e às vezes avacalhadas, sem um mínimo de preocupação com algo maior (rockzinhos fáceis são "50's Parking" e "Icedbergs"). Já em "The Loon", o debut de 2005, eles parecem se dar conta das possibilidades de caírem nas graças da gurizada, moldando melhor as canções, transmorfando-se para os Pixies. Parecem uma outra banda em relação à que gravou o EP. O Amud já citou a grudentinha "Cowbell", mas o disco guarda muitas coisinhas para quem não se importa em escutar músicas com traços fortes de Black Francis (mas não tão fortes quanto em bandas como Hell On Wheels, por exemplo). O espírito do gordo baixa forte em "Insistor" e em "Buckle". Tn'T deve agradar a turma mais tradicionalista que lê a Dying Days, embora não seja uma banda tão relevante assim não. Omar-Rodriguez / "Omar-Rodriguez" (2005): O quanto pode-se necessitar de experimentos do cabeça do The Mars Volta? O disco é resultado de uma sessão com um de seus projetos, o Omar Quintet, gravada em Amsterdam. Foi lançado (por enquanto) apenas naquelas terras nórdicas e é mais um conjunto de densas camadas instrumentais. Sem a versatilidade do seu trabalho solo anterior, as músicas têm cara de jam session, com abordagem voltada para o jazz (graças ao saxofone de Adrian Terrazas-Gonzales) e um conceito que facilmente se encaixaria no catálogo da gravadora Tzadik, de John Zorn. Com a cozinha funcionando, os músicos derramam solos de guitarra desconexos e colagens sonoras por cima de tudo, algo não muito diferente das jams do The Mars Volta. O resultado é ambíguo: tecnica e energicamente bom, efetividade razoável. Tem mais um monte de coisas que estou escutando e pá. Aos poucos vou desagüando.
postado por V.M. em 16.1.06
Na vitrola de Ana
Ok, geralmente quando envio são posts seguidos, porque é quando começa a sobrar tempo pra brincar na net e prestar mais atenção ao que anda se repetindo no fone de ouvido. Veja, são três discos fora do comum. É sério, sei que já coloquei na lista que fiz de bonzinhos de 2005 (diante da incapacidade de indicar melhores), mas acho que ando meio sensível com estas coisas: Blonde Redhead - "Fake can be just as good" Cowboy Junkies - "21st Century Blues" Fiona Apple - "Extraordinary Machine"O Blonde Redhead, pra quem não escutou, é um SY diluído com limão e açúcar. E as outras duas já falei. Deniminador comum = vozes femininas "sem contra-indicações para diabéticos" em cima de brincadeirinhas instrumentais. Dissonante no Blonde, dissonante com pianinho na Fiona (óó que bonitinho), e country/folk com os Junkies.
postado por Ana em 5.1.06
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