Na vitrola de V.M.
Sunn0))) / "Black One" (2005): Já meio que destrinchei o negócio dessa banda na lista, no tópico sobre metal. Esses caras são uma das opções de quem tem saudade do metal da adolescência mas não se vê mais passeando pela cidade com a camiseta preta do Iron Maiden. Na verdade, de todas essas bandas pesadas que citamos recentemente na lista, o Sunn0))) talvez seja aquela com o pé mais fincado na linguagem do metal, pois a temática é mórbida e medieval, os caras lançam por uma gravadora de sons pesados (a Southern Lord) e há toda uma aproximação com alguma coisa do black metal. Entretanto, o meio pelo qual isso é trazido à realidade é avesso à bateção de cabeça (e vem causando caras feias em metaleiros mais conservadores - cerca de 99% deles [risos]). Drone - isto é - loooongas linhas de guitarras densas e distorcidas construindo paisagens cinzas e mórbidas sempre foram o negócio do Sunn0))), mas o disco de 2005 acaba achando o ponto certo onde isso é realmente prazeiroso de se escutar. Os "White" 1 e 2 exploravam a mesma idéia, claro, mas até um momento onde se percebia que os caras podiam tirar um caldo melhor. Agora, as texturas gerais são muito convincentes, intrigantes - realmente formam uma sonoridade forte, real. Ventanias, ruidos não-identificáveis, sinos e outros ingredientes são usados para trazer os porões de uma mansão abandonada para o ouvinte (comenta-se que os vocais de "Báthory Erzébet" foram gravados por Malefic, um dos vocalistas que contribuem com o projeto, de dentro de um caixão fechado). Os vocais, por sinal, são irretocáveis, macabros. Tudo isso, milagrosamente, sem cair no pecado da paródia. Longo, denso, de efeitos dispersos em sua extensão e de prolongada recompensa.
Gang Gang Dance / "God's Money" (2005): É fato que a explosão de informação na web está trazendo cores demais para canvas de menos. Com isso, pintam Arctic Monkeys e Franz Ferdinands aos pontapés, mas surgem também bandas com propostas sonoras bem particulares - algumas boas, outras ruins. Dentre elas, o experimentalismo parece estar cada vez mais solidificado, com bandas lançando discos com pequeno apelo de vendagem, sem pretensões de conquistar o planeta, mas com muitas idéias exóticas sendo consolidadas. A longo prazo, os ouvintes vão absorvendo tais linguagens sonoras e, o que antes era apenas barulho ou falta de talento, passa a ser visto como uma maneira bem mais divertida de se escutar música. O Gang Gang Dance é da turma do Animal Collective, mas ao contrário do hypado (e bom) coletivo que tem usado muitas guitarras ultimamente, constrói suas músicas na base dos teclados e eletrônicos. As resenhas a respeito de "God's Money" mencionaram a habilidade deles em conciliar o puro experimentalismo com a facilidade de conexão com o ouvinte - na real, é exatamente o legal do disco. De um primeiro disco cacofônico e fragmentado, o Gang Gang Dance foi adiante e mesclou a tendência avant-garde com linhas sonoras muito intrigantes. Os vocais femininos exóticos e a sonoridade geral recorrem à música étnica, uma soundtrack para experiências psicodélicas em solo árabe. Mas eles seguem em frente, flertando com ritmos tribais e recheando tudo com fluxos de ruidos dignos de uma gravadora Tzadik. Uma world music indie? O que eu sei é que essa merda é um tanto viciante, principalmente as melodias de "Glory In Itself" e "God's Money V", tudo recheado com sons muito legais de sintetizadores.
Stephen Malkmus / "Face The Truth" (2005): Nunca fui o cara que mais gostou de Pavement nos anos 90. Só fui escutá-los com mais atenção quando a Trama lançou discos deles no mercado nacional e, ainda assim, a música deles sempre ficou em segundo plano aqui. Para mim, que não era grande fã de rock sarcástico (o que até hoje de certa forma continua acontecendo), o Pavement era uma banda boa que podia ser ainda melhor se deixasse as galinhagens de lado - justamente o que os fãs deles tanto gostam. O que dizer dos dois discos anteriores do Malkmus? Bom, não foram exatamente alvo de minha atenção. Mas "Face The Truth" me surpreendeu, justamente por fechar com as boas recomendações a seu respeito. Malkmus parece deixar seu espírito de porco de lado (tá, algo que ele vinha fazendo gradualmente desde "Terror Twilight" com belas faixas como "Spit On A Stranger"), dando bastante espaço para sua musicalidade. Isso foi como a realização dessa vontade que eu tinha lá nos anos 90, justamente quando eu já não dava mais bola para o cara. O disco reúne faixas muito boas, cativantes e com senso de humor moderado, como "Pencil Rot" (que abre o disco), "Freeze The Saints", "Loud Cloud Crowd" e "Mama". Um momento de recuperação sublime de Malkmus, capaz de agradar facilmente o órfãos do Pavement e atrair alguns ranzinzas como eu. Plenamente recompensador em sua totalidade.
Muita sorte minha. Só tenho escutado coisa boa [risos].
postado por V.M. em 4.2.06